Era difícil imaginar
que a animação Cegonhas seria dos filmes mais bacanas de 2016. Em um ano de
vários filmes aguardados, sobretudo as adaptações de quadrinhos e mesmo no ramo
das animações, 2016 é o ano de Procurando Dory e de Zootopia e poucos davam
bola para Cegonhas. Além do mais, os trailers e materiais promocionais não
vendiam o filme direito: parecia uma animação genérica e feita exclusivamente
para o público infantil, mas logo nos primeiros minutos, nota-se algo
diferente, uma história original, feita com o coração, mas também com a razão e
com uma premissa espetacular.
Na animação, as Cegonhas fazem o “trabalho” de distribuição
de bebês, mas logo no início do filme elas mudam de ramo e realizam o trabalho
de entrega de mercadorias, como o comércio eletrônico que temos hoje. A cegonha
Junior é o braço direito de Hunter, diretor da empresa de entregas e está de
olho em uma promoção, mas, para alcançá-la, precisa demitir a humana Tulip,
que, segundo o próprio diretor, atrapalha o rendimento da empresa, mas algo dá errado,
Tulip e Junior se perdem e são caçados, tanto por Hunter e sua equipe quanto um
grupo de lobos, ou o “bando de lobos”, como são chamados.
Cegonhas é dirigido, produzido e escrito por Nicholas
Stoller, que dirigiu Vizinhos 1 e 2 e também é dirigido por Doug Sweetland, que
dirigiu o curta da Pixar, Presto e aqui fazem um trabalho muito interessante de
não estender ou explicar demais a história, ao passo que consegue desenvolver
bem os seus personagens e equilibrar e dividir os arcos, tanto das cegonhas,
dos humanos e dos lobos.
Tudo isso é um grande trunfo do roteiro, que também
brinca com a premissa da história de que as cegonhas trazem os bebês não é mais
passada para as crianças de hoje em dia: há uma parte em que um menino pergunta
para os pais se eles vão trazer um irmãozinho. Os pais respondem que não é
assim tão fácil, o garoto pergunta como é e os dois se olham com um sorriso
malicioso.
Resumindo: fica subentendido como se faz um bebê na vida
real, mas a inocência da cena faz com que isso fique com a interpretação de
cada um.
O roteiro também tem várias camadas que podem passar
despercebidas, mas que tornam a trama atraente e mais antenada com o mundo
real, como o mundo empresarial implacável e o conceito de família, mas há duas
coisas aqui que foram geniais: Tulip é uma “estranha no ninho” na empresa e mal
vista pelos colegas, mas ela jamais conseguiu fazer outra coisa e ela mesma não
sabe de suas qualidades, embora tenha grandes motivações.
Isso
parte muito do princípio de que todos nós temos qualidades a serem exploradas,
ou como diz a célebre frase de Albert Einstein: “somos todos geniais, mas se
você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará sua
vida inteira acreditando ser estúpido”.
E há mais uma coisa: não mandamos mais cartas para nos
comunicar. Tudo é feito por meios eletrônicos. Há uma cena em que uma criança
escreve para uma cegonha e a carta realmente chega aos correios, mas divide
espaço com as centenas de correspondências de produtos online.
Há alguns alívios cômicos em Cegonhas e eles funcionam
porque não quebram a história e contribuem com o roteiro e essa mudança entre o
drama e a comédia é muito visível na paleta de cores, mas também na boa trilha
dos irmãos Danna, que assinaram a trilha sonora de O Bom Dinossauro, da Pixar.
A dublagem brasileira de Cegonhas é excelente, mas, quem
puder ver legendado, porque há nomes bacanas como Ty Burrell (de Modern Family),
Jennifer Aniston, Danny Trejo, entre outros.
Quem ainda tem preconceitos com a animação Cegonhas e
achar que é “filme de criança”, pode ser surpreendido com uma história honesta,
inteligente e com metáforas para o mundo adulto. Mal dá para notar seus bem
distribuídos 80 minutos.
Nota: 9,0
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