Havia uma grande expectativa para a 2ª temporada de
Narcos por parte do público e uma grande responsabilidade por parte dos realizadores:
a série estreou em 2015, foi um grande sucesso de público e crítica e o nosso
Wagner Moura foi indicado ao Globo de Ouro pelo papel.
Mas, afinal, porque tamanha expectativa e
responsabilidade? As respostas são simples: a primeira temporada terminou de
forma completamente aberta e deixou o público ansioso pelo desfecho. E há outro
detalhe: a primeira temporada explora mais de uma década da vida de Pablo Escobar
e essa segunda só explora 18 meses, que é o período em que ele consegue fugir
da prisão que ele mesmo construiu até a sua morte, em dezembro de 1993.
A Netflix acertou em cheio no marketing da série, em
revelar em seus trailers que Escobar morre e livrar o público de um possível
spoiler. O que vale mesmo é toda a trajetória e busca de Escobar e quanto menos
se sabe, melhor fica a experiência.
E quem não conhece história pode não entender porque ela
fascina tanto: o mundo de Escobar era um Estado dentro de outro, para ele não
havia atalho para atingir seus objetivos e a série jamais esconde o que ele é
de fato: assassino frio, sanguinário e megalomaníaco. Ele poderia parar a hora
que quisesse, mas sempre queria mais. “O presidente dos Estados Unidos sabe o
meu nome”, foi o que ele disse em um dos episódios dessa temporada.
Outra coisa que a série deixa claro é que, apesar de toda
a sua história de tráfico, sangue e muitas mortes, Pablo tem admiradores até os
dias de hoje. Há uma ótima cena nesta temporada em que ele está em um bairro
pobre de Medelín (que ele mesmo construiu) e ele é cercado pela população como
um ídolo pop e distribui dinheiro para o povo, mas na tomada seguinte ele mata
a sangue frio.
E havia mais um detalhe sobre essa admiração que muitos
tinham sobre ele: se não fosse por seus seguidores e aliados, ele jamais
chegaria aonde chegou. Nas duas temporadas, mas principalmente nesta segunda,
seus capangas o seguem religiosamente o se matam por ele – literalmente. E em
todos os acontecimentos que marcaram a vida de Escobar, como a fuga da prisão e
o atentado contra o presidente da Colômbia, ele só obteve êxito por conta de
seus capangas.
Essa segunda temporada foca em seu período pós-prisão, sobre
como ele ainda comandava tudo escondido, na busca por ele, seja da polícia, do
governo ou do DEA e na ascensão do grupo rival a Escobar, o Cartel de Cali.
Os episódios desta temporada estão ainda melhores do que
da primeira, seja pela montagem mais dinâmica pelo roteiro mais bem amarrado
com os acontecimentos ou pelos excelentes personagens.
A série ainda tem um perfil documental, aqui as imagens
da vida real só enriquecem a trama e há várias cenas em que a série fez um
trabalho idêntico à realidade.
Wagner Moura está ainda melhor como Pablo Escobar, mais à
vontade no papel e, se vierem as indicações aos festivais (ou possíveis
prêmios!), estarão em boas mãos, mas há uma qualidade aqui em relação à primeira
temporada: não é apenas uma temporada de Escobar, outros personagens também
brilham aqui, alguns novos e outros que tiveram uma nítida melhora em relação
ao ano passado: a família de Escobar, sobretudo o elenco feminino, sua mãe e
esposa, têm uma presença maior aqui. Sua esposa claramente o ama, mas teme por
sua segurança e seus filhos, já sua mãe é uma personagem quase tão fascinante
quanto ele: quer o bem para o seu filho independentemente do que ele faça e o
protege até a morte.
Steve
Murphy e Javier Peña também cresceram como personagens (principalmente Peña) e
aqui há um novo núcleo, que é o do Cartel de Cali, sobretudo com a presença de
Gilberto Orejuela (dos homens mais ricos da Colômbia) e Judy Moncada, na qual
seu marido foi morto por Escobar e agora ela quer vingança.
Quanto aos personagens novos, o destaque fica com o novo
chofer de Escobar, o “Limón”, como era conhecido e Maritza, que entra logo no
primeiro episódio e é uma personagem com muito mais camadas do que possa
parecer.
Os 10 episódios desta temporada jamais perdem o ritmo e a
série até consegue deixar o espectador tenso, mesmo com todos sabendo do
desfecho, mas o destaque fica com o último episódio, na qual o espectador
passa, praticamente, recebendo um soco no estômago por 50 minutos, sobretudo
nos 20 eletrizantes minutos finais.
Narcos já foi renovada para a 3ª temporada e embora ela
perca seu personagem principal, seu novo tema, que é o Cartel de Cali, é um novo
assunto a ser explorado e fica a nossa confiança para os roteiristas, porque há
muito material ainda a ser descoberto.
Nota:
10,0
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