Sense8 – 1ª Temporada
Criada por: Andy e Lana Wachowski e J.
Michael Straczynski
Ano de lançamento: 2015
Com: Brian J. Smith, Doona Bae,
Tuppence Middleton, Jamie Clayton, Naveen Andrews, Max Riemelt, Miguel Angel
Silvestre, Tina Desai, Aml Ameen, Freema Agyeman, Terrence Mann, Daryl Hannah.
Gênero: Drama
Classificação
Etária: 18 Anos
Sense8
é original e pode revolucionar a TV - mesmo
A crítica especializada já dava como certa a
aposentadoria dos irmãos Wachowski. Após eles revolucionarem o cinema com o
fenômeno que foi Matrix, em 1999, eles viram suas carreiras irem por água
abaixo: as continuações, Matrix Reloaded e Revolutions, em 2003, foram um tiro
no pé e quase estragaram o espírito filosófico do primeiro filme. Em 2005,
acertaram produzindo V de Vingança (que em minha opinião, é melhor do que
Matrix) e depois foram piorando a cada filme, até chegar no estranho ‘O Destino
de Júpiter’, que estreou no início do ano e foi um fracasso de público e
crítica.
Mas, nada como uma nova mídia para a redenção e, assim
como ocorreu com M. Night Shyamalan com a série da Fox Wayward Pines, os
Wachowski se reinventaram na TV. Após eles revolucionarem em Matrix, agora
inovam em uma série ousada e praticamente 100% original: Sense8, nova série da
Netflix, que os trailers e materiais promocionais acertaram em revelar pouca
coisa.
A Netflix aprendeu muito bem a fazer suas séries, que já
têm uma assinatura e padrão, seja em roteiro, ousadia ou atuações. Em muitos
casos supera, inclusive a HBO, que também mudou a forma de como vemos TV.
E hoje em dia, com tantos remakes e continuações, Sense8
é um sopro e alívio de originalidade e esperança que sim, ainda se pode fazer
algo novo.
Sense8 começa com uma mulher, chamada Angelica (vivida
por Daryl Hannah) que, ao cometer suicídio, faz com que 8 pessoas ao redor do
mundo estejam com seus cérebros interligados. É como se um pudesse viver a vida
do outro.
Essas 8 pessoas são drasticamente diferentes, vivem
dramas diferentes, mas que, unidas, se torna uma só, são elas: Riley, uma DJ
islandesa que vive em Londres; Nomi, uma transexual de São Francisco que sua
mãe insiste em chamá-la pelo nome original, Michael; Will, um policial de
Chicago; Sun, uma empresária de Seul; Kala, uma farmacêutica indiana, que está
de casamento forçado; Lito, um ator mexicano que esconde um segredo por trás
das câmeras; Wolfang, um ladrão de cofres alemão e Capheus, que é motorista de
van em Nairóbi.
São 12 episódios nesta 1ª temporada, cada um com cerca de
1 hora de duração e um grande acerto foi em não colocar um protagonista
declarado e deixar para que os 8 tenham seus espaços e alguns episódios tem
sim, um personagem ou outro com mais tempo de tela, como Nomi no episódio 3 ou
Riley no episódio 10, por exemplo.
Mesmo sendo pessoas diferentes, alguns dilemas são de
forma mútua: solidão, impotência perante o mundo e as limitações ou o fato de
ser diferente e não seguir que lhe é imposto, afinal, temos uma transexual e
uma mulher com um casamento arranjado, que não o ama, um sujeito que é fã do
ator Jean Claude Van Damme, mas é fraco em luta, ou até uma viciada em êxtase,
que, apesar de muito inteligente e determinada, não consegue largar o vício,
além dos problemas familiares.
E alguns momentos podem ser de libertação, principalmente
quando alguém não sabe o que fazer e algum dos sensitivos, como são chamados, o
ajuda, até colocando a vida em risco.
E como não se lembrar do desfecho poético e apoteótico do
episódio 4, em que todos cantam a canção What’s Up (há o vídeo no youtube, quem
puder, por favor, veja), ou do desfecho do episódio 6, em que todos os 8 estão
em relações sexuais com seus devidos parceiros, sejam eles “proibidos” ou não. E
até a série sugere um romance entre dois dos 8 pesonagens (que não entregarei
aqui), ou ainda do episódio 10 como um todo, que se passa no feriado de 4 de
Julho e todos estão olhando para o céu, ou ainda mais para a frente, quando
Riley vai assistir a uma orquestra e todos somos apresentados a um flashback de
cada personagem.
A única ligação entre todos eles é um terrorista chamado
Jonas, que não é exatamente um herói, mas, em muitos casos, não há como fugir
dele.
A ousadia de Sense8 vai além das cenas de sexo e nudez (e
a série, veja bem, apresenta as relações LGBT sem pudor algum), mas na
narrativa e estrutura: tem um belíssimo trabalho de montagem, de interligar
essas partes tão diferentes com cortes rápidos sem confundir o espectador, mas
ainda sim, deixando que seu público pense, apesar de a série não ser nenhuma
Twin Peaks, cheia de mistério. Aqui, não há gancho para o próximo episódio nem
pistas falsas: as cartas são posta na mesa logo no 1º episódio e cada um é
fechado, mesmo tendo que ver a temporada inteira para compreender na íntegra.
E a Netflix não economizou nos custos de produção na
direção de arte e concepção desses lugares diferentes, há até uma cena de ação
ou outra, quando é exigido, tudo isso é confiança em quem está fazendo e não
podemos nos esquecer que o cinema lá nos anos 70 só recuperou seu fôlego após
os autores não terem medo de ousar, nem medo da dúvida se seu trabalho dará
certo ou não.
O fato de a série não ter protagonistas, nem atores
conhecidos foi uma manobra arriscada, mas faz todo sentido se virmos cada uma e
saber que praticamente não há história “central”, nem que há favorecimento
deste ou daquele ator, tanto que Daryl Hannah, talvez a mais famosa do elenco,
aparece praticamente só no episódio piloto.
Alguns atores, inclusive, fizeram seu primeiro trabalho
aqui, em Sense8, como Jamie Clayton, que interpreta Nomi.
Freema
Agyeman, que interpreta Amanita, companheira de Nomi, foi Martha em Doctor Who,
Naveen Andrews, que faz Jonas, participou de Lost e Doona Bae trabalhou em ‘A
Viagem’ e ‘O Destino de Júpiter’, ambos dos irmãos Wachowski.
A grande maioria dos episódios foi dirigida pelos
Wachowski mesmo, mas há 2 episódios que são dirigidos por James McTiegue (diretor
de V de Vingança). Até Tom Tylker (diretor de Corra, Lola, Corra), trabalha (e
muito bem!) como produtor e responsável pela trilha sonora, que é quase como um
personagem da série.
Independentemente do lugar em que a pessoa se encontra,
há valores que são universais, como solidão, medo e tristeza e, se todos
pudessem ajudar um ao outro, como mostra a série, cada um com o seu talento, o
mundo poderia ser sim, um lugar melhor. Afinal, somos todos geniais, mas temos
limitações também: não se pode julgar um lutador pela sua capacidade de dirigir
ônibus, por exemplo.
Os 12 episódios desta 1ª temporada já estão
disponibilizados na Netflix e cada um define a forma de ver, seja de uma vez,
em uma espécie de maratona, ou degustando-a aos poucos. Vi a temporada em 5
dias, que não foi nenhuma maratona, mas foi exatamente para vê-la de pouco em
pouco e mesmo assim, agora com a temporada terminada, é impressionante o quanto
estou órfão de Sense8, esta obra de arte que, se não for para as premiações,
será uma injustiça imperdoável.
Até o momento que escrevi este texto, a Netflix ainda não
se pronunciou se haverá segunda temporada. Ela não divulga dados de sua
audiência. No caso de Sense8, não é uma série mastigada, muito menos simples e
pode ser que não caia no gosto popular, apesar de os críticos estarem
ovacionando.
E a Netflix segue surpreendendo: de House of Cards,
passando por Demolidor e agora com Sense8, ainda com menções a Orange is the
new Black.
Mas, no caso de uma possível 2ª temporada, só esperamos
que os Wachowski não façam igual fizeram com Matrix Reloaded e destruam a
filosofia. Esperamos que tenham aprendido.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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