quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sense8 - 1ª Temporada


Sense8 – 1ª Temporada

Criada por: Andy e Lana Wachowski e J. Michael Straczynski

Ano de lançamento: 2015

Com: Brian J. Smith, Doona Bae, Tuppence Middleton, Jamie Clayton, Naveen Andrews, Max Riemelt, Miguel Angel Silvestre, Tina Desai, Aml Ameen, Freema Agyeman, Terrence Mann, Daryl Hannah.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos


Sense8 é original e pode revolucionar a TV - mesmo

            A crítica especializada já dava como certa a aposentadoria dos irmãos Wachowski. Após eles revolucionarem o cinema com o fenômeno que foi Matrix, em 1999, eles viram suas carreiras irem por água abaixo: as continuações, Matrix Reloaded e Revolutions, em 2003, foram um tiro no pé e quase estragaram o espírito filosófico do primeiro filme. Em 2005, acertaram produzindo V de Vingança (que em minha opinião, é melhor do que Matrix) e depois foram piorando a cada filme, até chegar no estranho ‘O Destino de Júpiter’, que estreou no início do ano e foi um fracasso de público e crítica.

            Mas, nada como uma nova mídia para a redenção e, assim como ocorreu com M. Night Shyamalan com a série da Fox Wayward Pines, os Wachowski se reinventaram na TV. Após eles revolucionarem em Matrix, agora inovam em uma série ousada e praticamente 100% original: Sense8, nova série da Netflix, que os trailers e materiais promocionais acertaram em revelar pouca coisa.

            A Netflix aprendeu muito bem a fazer suas séries, que já têm uma assinatura e padrão, seja em roteiro, ousadia ou atuações. Em muitos casos supera, inclusive a HBO, que também mudou a forma de como vemos TV.

            E hoje em dia, com tantos remakes e continuações, Sense8 é um sopro e alívio de originalidade e esperança que sim, ainda se pode fazer algo novo.

            Sense8 começa com uma mulher, chamada Angelica (vivida por Daryl Hannah) que, ao cometer suicídio, faz com que 8 pessoas ao redor do mundo estejam com seus cérebros interligados. É como se um pudesse viver a vida do outro.

            Essas 8 pessoas são drasticamente diferentes, vivem dramas diferentes, mas que, unidas, se torna uma só, são elas: Riley, uma DJ islandesa que vive em Londres; Nomi, uma transexual de São Francisco que sua mãe insiste em chamá-la pelo nome original, Michael; Will, um policial de Chicago; Sun, uma empresária de Seul; Kala, uma farmacêutica indiana, que está de casamento forçado; Lito, um ator mexicano que esconde um segredo por trás das câmeras; Wolfang, um ladrão de cofres alemão e Capheus, que é motorista de van em Nairóbi.

            São 12 episódios nesta 1ª temporada, cada um com cerca de 1 hora de duração e um grande acerto foi em não colocar um protagonista declarado e deixar para que os 8 tenham seus espaços e alguns episódios tem sim, um personagem ou outro com mais tempo de tela, como Nomi no episódio 3 ou Riley no episódio 10, por exemplo.

            Mesmo sendo pessoas diferentes, alguns dilemas são de forma mútua: solidão, impotência perante o mundo e as limitações ou o fato de ser diferente e não seguir que lhe é imposto, afinal, temos uma transexual e uma mulher com um casamento arranjado, que não o ama, um sujeito que é fã do ator Jean Claude Van Damme, mas é fraco em luta, ou até uma viciada em êxtase, que, apesar de muito inteligente e determinada, não consegue largar o vício, além dos problemas familiares.

            E alguns momentos podem ser de libertação, principalmente quando alguém não sabe o que fazer e algum dos sensitivos, como são chamados, o ajuda, até colocando a vida em risco.

            E como não se lembrar do desfecho poético e apoteótico do episódio 4, em que todos cantam a canção What’s Up (há o vídeo no youtube, quem puder, por favor, veja), ou do desfecho do episódio 6, em que todos os 8 estão em relações sexuais com seus devidos parceiros, sejam eles “proibidos” ou não. E até a série sugere um romance entre dois dos 8 pesonagens (que não entregarei aqui), ou ainda do episódio 10 como um todo, que se passa no feriado de 4 de Julho e todos estão olhando para o céu, ou ainda mais para a frente, quando Riley vai assistir a uma orquestra e todos somos apresentados a um flashback de cada personagem.

            A única ligação entre todos eles é um terrorista chamado Jonas, que não é exatamente um herói, mas, em muitos casos, não há como fugir dele.

            A ousadia de Sense8 vai além das cenas de sexo e nudez (e a série, veja bem, apresenta as relações LGBT sem pudor algum), mas na narrativa e estrutura: tem um belíssimo trabalho de montagem, de interligar essas partes tão diferentes com cortes rápidos sem confundir o espectador, mas ainda sim, deixando que seu público pense, apesar de a série não ser nenhuma Twin Peaks, cheia de mistério. Aqui, não há gancho para o próximo episódio nem pistas falsas: as cartas são posta na mesa logo no 1º episódio e cada um é fechado, mesmo tendo que ver a temporada inteira para compreender na íntegra.

            E a Netflix não economizou nos custos de produção na direção de arte e concepção desses lugares diferentes, há até uma cena de ação ou outra, quando é exigido, tudo isso é confiança em quem está fazendo e não podemos nos esquecer que o cinema lá nos anos 70 só recuperou seu fôlego após os autores não terem medo de ousar, nem medo da dúvida se seu trabalho dará certo ou não.

            O fato de a série não ter protagonistas, nem atores conhecidos foi uma manobra arriscada, mas faz todo sentido se virmos cada uma e saber que praticamente não há história “central”, nem que há favorecimento deste ou daquele ator, tanto que Daryl Hannah, talvez a mais famosa do elenco, aparece praticamente só no episódio piloto.

            Alguns atores, inclusive, fizeram seu primeiro trabalho aqui, em Sense8, como Jamie Clayton, que interpreta Nomi.

Freema Agyeman, que interpreta Amanita, companheira de Nomi, foi Martha em Doctor Who, Naveen Andrews, que faz Jonas, participou de Lost e Doona Bae trabalhou em ‘A Viagem’ e ‘O Destino de Júpiter’, ambos dos irmãos Wachowski.

            A grande maioria dos episódios foi dirigida pelos Wachowski mesmo, mas há 2 episódios que são dirigidos por James McTiegue (diretor de V de Vingança). Até Tom Tylker (diretor de Corra, Lola, Corra), trabalha (e muito bem!) como produtor e responsável pela trilha sonora, que é quase como um personagem da série.

            Independentemente do lugar em que a pessoa se encontra, há valores que são universais, como solidão, medo e tristeza e, se todos pudessem ajudar um ao outro, como mostra a série, cada um com o seu talento, o mundo poderia ser sim, um lugar melhor. Afinal, somos todos geniais, mas temos limitações também: não se pode julgar um lutador pela sua capacidade de dirigir ônibus, por exemplo.

            Os 12 episódios desta 1ª temporada já estão disponibilizados na Netflix e cada um define a forma de ver, seja de uma vez, em uma espécie de maratona, ou degustando-a aos poucos. Vi a temporada em 5 dias, que não foi nenhuma maratona, mas foi exatamente para vê-la de pouco em pouco e mesmo assim, agora com a temporada terminada, é impressionante o quanto estou órfão de Sense8, esta obra de arte que, se não for para as premiações, será uma injustiça imperdoável.

            Até o momento que escrevi este texto, a Netflix ainda não se pronunciou se haverá segunda temporada. Ela não divulga dados de sua audiência. No caso de Sense8, não é uma série mastigada, muito menos simples e pode ser que não caia no gosto popular, apesar de os críticos estarem ovacionando.

            E a Netflix segue surpreendendo: de House of Cards, passando por Demolidor e agora com Sense8, ainda com menções a Orange is the new Black.

            Mas, no caso de uma possível 2ª temporada, só esperamos que os Wachowski não façam igual fizeram com Matrix Reloaded e destruam a filosofia. Esperamos que tenham aprendido.

Nota: 10,0

Imagens:










Trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário