segunda-feira, 22 de junho de 2015

Divertida Mente


Divertida Mente (Inside Out)

Direção: Pete Docter

Ano de produção: 2015

Vozes de: Amy Poehler, Bill Hader, Mindy Kaling, Lewis Black, Phyllis Smith, Diane Lane, Kyle Maclachlan, Richard Kind.

Dubladores Brasileiros: Miá Mello, Otaviano Costa, Dani Calabresa, Léo Jaime, Katiuscia Canoro.

Gênero: Animação

Classificação Etária: LIVRE


Divertida Mente provoca todos os tipos de reações – literalmente!

            Há exatos 20 anos a Pixar mudou a forma de como vemos os longas de animação quando lançou Toy Story. Estávamos na chamada 2ª época de ouro da Disney, com obras-primas como ‘O Rei Leão’ e ‘Aladdin’, mas ainda assim muita gente mal intencionada ainda via as animações como “coisa de criança”. Mas foi com Toy Story, e com os filmes seguintes da Pixar e também da DreamWorks, que viram que fazer filmes que agradem crianças, jovens e adultos era a palavra de ordem dos estúdios.

            De lá para cá, a Pixar realizou mais 14 filmes e assistir a uma animação deste estúdio era sempre algo desafiador e mágico, pois eram ultrapassadas barreiras além da nossa imaginação com algo que estava diante dos nossos olhos, mas não enxergávamos, seja com uma viagem ao fundo do mar com Procurando Nemo ou o mundo dos brinquedos com a própria trilogia Toy Story.

            O problema é que nos últimos anos as animações da Pixar começaram a perder o encanto, sobretudo por causa das continuações. Se Toy Story 3 foi um grande acerto, o mesmo não se pode dizer de Carros 2, seu único desastre até agora e de Universidade Monstros, que não chega a ser ruim, mas foi desnecessário. O único caso que não foi continuação foi Valente, em 2012, um filme muito bacana e bem feito, mas ainda sem o espírito Pixar que estávamos acostumados a ver.

            Muita gente dizia que a Disney estava passando na frente na Pixar, e de fato estava mesmo, basta ver que os 3 últimos filmes da Pixar foram Carros 2, Valente e Universidade Monstros. Já da Disney foram Detona Ralph, Frozen – Uma Aventura Congelante e Operação Big Hero.

            Mas, nada como um pouco de carinho e competência de uma equipe que sabe o que faz para a Pixar voltar a ser o que era: em 2014 eles não estrearam filme nenhum, algo que não acontecia desde 2005, mas esse hiato fez todo o sentido: foi mais tempo para o estúdio trabalhar melhor, pois em 2015 eles pretendem lançar duas animações, coisa que nunca aconteceu: está previsto para novembro deste ano ‘O Bom Dinosauro’, mas o filme que abre esta nova fase do estúdio é a animação Divertida Mente, que um filme que resgata todo aquele espírito que nos encantou anos atrás com a Pixar e, mais uma vez, vai a lugares que jamais imaginávamos e, neste caso, estava bem diante de nós: a nossa própria mente.

            E se todas as nossas emoções fossem fruto de sentimentos que trabalham em conjunto bem na nossa cabeça? É basicamente com isso que Divertida Mente brinca.

            Na história, acompanhamos a menina Riley desde seu nascimento, quando, de início, seu único sentimento em sua cabeça é a Alegria, mas não demora muito para aparecer a Tristeza, seguida do Raiva, Nojinho e Medo.

            Todos esses sentimentos “trabalham” em uma espécie de escritório na mente de Riley, mas é a Alegria que é a “chefe” de todos.

            Dependendo do momento da vida de Riley, um sentimento age, por exemplo, quando ela é obrigada pelos pais a comer brócolis, surge a Nojinho, depois o Raiva, quando ela está com a família e amigos, a Alegria se sobressai, e por aí vai.

            Tudo vai bem, até que, aos 11 anos de idade, ela se muda de Minnesota para São Francisco. Não bastasse ela deixar para trás os amigos e sua grande paixão, que é hóquei no gelo (Minnesota é conhecida por ser excessivamente gelada), tudo começa a dar errado: o caminhão da mudança atrasa, o pai está com problemas no trabalho, ela não consegue se relacionar com ninguém na escola, e por aí vai. Para piorar, há um acidente (que não contarei qual aqui!) entre a Alegria e a Tristeza que pode deixar Riley sem emoções...

            Alguns críticos estão apontando que Divertida Mente irá agradar mais aos pais do que aos adultos, mas discordo: os pequenos talvez não entendam a psicologia, mas podem se divertir (e se identificar) com os personagens coloridos e com algumas piadas que o timing é tão bom que, mesmo algumas que parecem repetitivas (como uma propaganda hilária de um creme dental) é cômica em todas as partes que é apresentada. Mesmo todo o design, trabalho técnico e emoções dos 5 sentimentos é algo de fácil entendimento, porém, sem questionar a inteligência do espectador.

            Ou seja, se estávamos carentes de programas educativos para a criançada, não há o que reclamar com os efeitos de Divertida Mente.

            Não são apenas os sentimentos que vivem na mente de Riley, mas algumas de suas prioridades, como família e amizade são apresentadas em forma de ilhas. E seu funcionamento depende do que acontece com a garota. E algumas de suas memórias são apresentadas em esferas que os sentimentos guardam e aquelas principais são as chamadas de “memórias-chave”. É absolutamente mágico.

            Paralelamente a isso, somos apresentados em um mundo aberto onde há várias coisas a serem exploradas (em uma metáfora de como nossa mente é complexa), seja no subconsciente ou na ilha da imaginação (e que sacada genial do roteiro quando mostra como ocorrem os sonhos!), onde somos apresentados a um personagem irresistível que fará muita gente comprar brinquedos: Bing Bong, que é o amigo imaginário de Riley, com aparência de elefante (mas ele diz que parece um golfinho!) ele é um elo entre o mundo real e imaginário do que vemos em tela.

            E não podemos nos esquecer que, não só a psicologia como conhecemos foi muito bem explorada por aqui, como já citado, mas a psicologia das cores também na concepção dos personagens: a Alegria é a mais iluminada e tem a cor amarela; a Tristeza é da cor azul (em inglês, Blue também significa “triste”); a Nojinho tem a com verde, de brócolis; o Raiva é vermelho, que é uma cor forte; já o Medo é lilás, dando uma idéia de omissão.

            O diretor Pete Docter já havia feito o mundo inteiro se emocionar em 2009 com UP – Altas Aventuras e aqui consegue ir além: há um momento, perto do final, com Riley e seus pais que, quem não se comover, não tem coração.

            E tudo isso embalado com a trilha sonora arrepiante de Michael Giacchino, que recentemente estava na trilha de Jurassic World e, dentro da Pixar, já ganhou Oscar pela trilha de UP – Altas Aventuras.

E com John Lasseter (de Toy Story) e Andrew Stanton (de Procurando Nemo e Wall-E), como produtores de set, não tinha como dar errado.

Mas, o que seria um filme da Disney/Pixar sem os famosos easter eggs? Para quem não sabe, easter eggs são referências sobre outros filmes do mesmo estúdio, coisa que a Marvel faz com seu vasto universo, por exemplo.

 E alguém acredita na história que todos os filmes da Pixar estão em um mesmo universo e que tudo é, na verdade, um filme só?

O próximo filme da Pixar é ‘O Bom Dinossauro’ e há uma cena em que Riley tira foto com um dinossauro. E em uma das esferas das lembranças, há a cena do casamento entre Carl e Ellie de UP – Altas Aventuras.

De início a dublagem brasileira pode causar repulsa, afinal, na dublagem original temos a grande comediante Amy Poehler dublando a Alegria e quase todo o elenco de The Office na dublagem dos demais sentimentos, já aqui no Brasil temos Miá Mello dublando Alegria, Otaviano Costa dublando o Medo, Léo Jaime dublando o Raiva, Dani Calabresa dublando a Nojinho e Katiuscia Canoro (do Zorra Total!) dublando a Tristeza. Mas, surpreendentemente, a dublagem brasileira está muito bacana e não compromete em nada na diversão (e deu um medo após o trauma de Luciano Hulk em ‘Enrolados’). Miá Mello, por exemplo, fez o melhor papel de sua carreira até agora. Embora ela seja muito simpática e carismática, ela ainda precisava se provar como atriz. ‘Meu passado me condena’ que o diga.

            Divertida Mente surge como possível barbada para o Oscar 2016 de Filme de Animação e, sonhando um pouco alto, uma possível indicação para Melhor Filme? Já passou da hora de as animações serem reconhecidas pela arte e não só escondidas em sua categoria, principalmente por estarmos falando de um filme que nos ensina que a vida não é só feita de alegria, mas temos que lidar com a emoção de cada momento e o que vale é o carinho de como vamos registrar o que é importante para a nossa vida.

            Divertida Mente se figura entre os melhores (se não, o melhor!) filme da Pixar e candidato a melhor filme de 2015.

Nota: 10,0

Imagens:












Trailer:

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