Divertida Mente (Inside Out)
Direção: Pete Docter
Ano de produção: 2015
Vozes
de: Amy Poehler, Bill Hader, Mindy Kaling, Lewis Black, Phyllis Smith, Diane
Lane, Kyle Maclachlan, Richard Kind.
Dubladores Brasileiros: Miá Mello,
Otaviano Costa, Dani Calabresa, Léo Jaime, Katiuscia Canoro.
Gênero: Animação
Classificação Etária: LIVRE
Divertida
Mente provoca todos os tipos de reações – literalmente!
Há exatos 20 anos a Pixar mudou a forma de como vemos os
longas de animação quando lançou Toy Story. Estávamos na chamada 2ª época de
ouro da Disney, com obras-primas como ‘O Rei Leão’ e ‘Aladdin’, mas ainda assim
muita gente mal intencionada ainda via as animações como “coisa de criança”. Mas
foi com Toy Story, e com os filmes seguintes da Pixar e também da DreamWorks, que
viram que fazer filmes que agradem crianças, jovens e adultos era a palavra de
ordem dos estúdios.
De lá para cá, a Pixar realizou mais 14 filmes e assistir
a uma animação deste estúdio era sempre algo desafiador e mágico, pois eram
ultrapassadas barreiras além da nossa imaginação com algo que estava diante dos
nossos olhos, mas não enxergávamos, seja com uma viagem ao fundo do mar com Procurando
Nemo ou o mundo dos brinquedos com a própria trilogia Toy Story.
O problema é que nos últimos anos as animações da Pixar começaram
a perder o encanto, sobretudo por causa das continuações. Se Toy Story 3 foi um
grande acerto, o mesmo não se pode dizer de Carros 2, seu único desastre até
agora e de Universidade Monstros, que não chega a ser ruim, mas foi desnecessário.
O único caso que não foi continuação foi Valente, em 2012, um filme muito
bacana e bem feito, mas ainda sem o espírito Pixar que estávamos acostumados a
ver.
Muita gente dizia que a Disney estava passando na frente
na Pixar, e de fato estava mesmo, basta ver que os 3 últimos filmes da Pixar
foram Carros 2, Valente e Universidade Monstros. Já da Disney foram Detona
Ralph, Frozen – Uma Aventura Congelante e Operação Big Hero.
Mas, nada como um pouco de carinho e competência de uma
equipe que sabe o que faz para a Pixar voltar a ser o que era: em 2014 eles não
estrearam filme nenhum, algo que não acontecia desde 2005, mas esse hiato fez
todo o sentido: foi mais tempo para o estúdio trabalhar melhor, pois em 2015
eles pretendem lançar duas animações, coisa que nunca aconteceu: está previsto
para novembro deste ano ‘O Bom Dinosauro’, mas o filme que abre esta nova fase
do estúdio é a animação Divertida Mente, que um filme que resgata todo aquele
espírito que nos encantou anos atrás com a Pixar e, mais uma vez, vai a lugares
que jamais imaginávamos e, neste caso, estava bem diante de nós: a nossa
própria mente.
E se todas as nossas emoções fossem fruto de sentimentos
que trabalham em conjunto bem na nossa cabeça? É basicamente com isso que
Divertida Mente brinca.
Na história, acompanhamos a menina Riley desde seu
nascimento, quando, de início, seu único sentimento em sua cabeça é a Alegria,
mas não demora muito para aparecer a Tristeza, seguida do Raiva, Nojinho e
Medo.
Todos esses sentimentos “trabalham” em uma espécie de
escritório na mente de Riley, mas é a Alegria que é a “chefe” de todos.
Dependendo do momento da vida de Riley, um sentimento
age, por exemplo, quando ela é obrigada pelos pais a comer brócolis, surge a
Nojinho, depois o Raiva, quando ela está com a família e amigos, a Alegria se
sobressai, e por aí vai.
Tudo vai bem, até que, aos 11 anos de idade, ela se muda
de Minnesota para São Francisco. Não bastasse ela deixar para trás os amigos e
sua grande paixão, que é hóquei no gelo (Minnesota é conhecida por ser
excessivamente gelada), tudo começa a dar errado: o caminhão da mudança atrasa,
o pai está com problemas no trabalho, ela não consegue se relacionar com
ninguém na escola, e por aí vai. Para piorar, há um acidente (que não contarei
qual aqui!) entre a Alegria e a Tristeza que pode deixar Riley sem emoções...
Alguns críticos estão apontando que Divertida Mente irá
agradar mais aos pais do que aos adultos, mas discordo: os pequenos talvez não
entendam a psicologia, mas podem se divertir (e se identificar) com os
personagens coloridos e com algumas piadas que o timing é tão bom que, mesmo
algumas que parecem repetitivas (como uma propaganda hilária de um creme dental)
é cômica em todas as partes que é apresentada. Mesmo todo o design, trabalho técnico
e emoções dos 5 sentimentos é algo de fácil entendimento, porém, sem questionar
a inteligência do espectador.
Ou seja, se estávamos carentes de programas educativos
para a criançada, não há o que reclamar com os efeitos de Divertida Mente.
Não são apenas os sentimentos que vivem na mente de
Riley, mas algumas de suas prioridades, como família e amizade são apresentadas
em forma de ilhas. E seu funcionamento depende do que acontece com a garota. E algumas
de suas memórias são apresentadas em esferas que os sentimentos guardam e
aquelas principais são as chamadas de “memórias-chave”. É absolutamente mágico.
Paralelamente a isso, somos apresentados em um mundo
aberto onde há várias coisas a serem exploradas (em uma metáfora de como nossa
mente é complexa), seja no subconsciente ou na ilha da imaginação (e que sacada
genial do roteiro quando mostra como ocorrem os sonhos!), onde somos
apresentados a um personagem irresistível que fará muita gente comprar
brinquedos: Bing Bong, que é o amigo imaginário de Riley, com aparência de
elefante (mas ele diz que parece um golfinho!) ele é um elo entre o mundo real
e imaginário do que vemos em tela.
E não podemos nos esquecer que, não só a psicologia como conhecemos
foi muito bem explorada por aqui, como já citado, mas a psicologia das cores
também na concepção dos personagens: a Alegria é a mais iluminada e tem a cor
amarela; a Tristeza é da cor azul (em inglês, Blue também significa “triste”); a
Nojinho tem a com verde, de brócolis; o Raiva é vermelho, que é uma cor forte;
já o Medo é lilás, dando uma idéia de omissão.
O diretor Pete Docter já havia feito o mundo inteiro se
emocionar em 2009 com UP – Altas Aventuras e aqui consegue ir além: há um
momento, perto do final, com Riley e seus pais que, quem não se comover, não
tem coração.
E tudo isso embalado com a trilha sonora arrepiante de
Michael Giacchino, que recentemente estava na trilha de Jurassic World e, dentro
da Pixar, já ganhou Oscar pela trilha de UP – Altas Aventuras.
E
com John Lasseter (de Toy Story) e Andrew Stanton (de Procurando Nemo e Wall-E),
como produtores de set, não tinha como dar errado.
Mas,
o que seria um filme da Disney/Pixar sem os famosos easter eggs? Para quem não sabe, easter eggs são referências sobre outros filmes do mesmo estúdio,
coisa que a Marvel faz com seu vasto universo, por exemplo.
E alguém acredita na história que todos os
filmes da Pixar estão em um mesmo universo e que tudo é, na verdade, um filme
só?
O próximo
filme da Pixar é ‘O Bom Dinossauro’ e há uma cena em que Riley tira foto com um
dinossauro. E em uma das esferas das lembranças, há a cena do casamento entre
Carl e Ellie de UP – Altas Aventuras.
De início
a dublagem brasileira pode causar repulsa, afinal, na dublagem original temos a
grande comediante Amy Poehler dublando a Alegria e quase todo o elenco de The
Office na dublagem dos demais sentimentos, já aqui no Brasil temos Miá Mello
dublando Alegria, Otaviano Costa dublando o Medo, Léo Jaime dublando o Raiva,
Dani Calabresa dublando a Nojinho e Katiuscia Canoro (do Zorra Total!) dublando
a Tristeza. Mas, surpreendentemente, a dublagem brasileira está muito bacana e
não compromete em nada na diversão (e deu um medo após o trauma de Luciano Hulk
em ‘Enrolados’). Miá Mello, por exemplo, fez o melhor papel de sua carreira até
agora. Embora ela seja muito simpática e carismática, ela ainda precisava se
provar como atriz. ‘Meu passado me condena’ que o diga.
Divertida Mente surge como possível barbada para o Oscar
2016 de Filme de Animação e, sonhando um pouco alto, uma possível indicação
para Melhor Filme? Já passou da hora de as animações serem reconhecidas pela
arte e não só escondidas em sua categoria, principalmente por estarmos falando
de um filme que nos ensina que a vida não é só feita de alegria, mas temos que
lidar com a emoção de cada momento e o que vale é o carinho de como vamos
registrar o que é importante para a nossa vida.
Divertida Mente se figura entre os melhores (se não, o
melhor!) filme da Pixar e candidato a melhor filme de 2015.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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