Sexo, mentiras e
videotape (Sex, Lies and Videotape)
Direção: Steven Soderberg
Ano de produção: 1989
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Nota: 10
Comentário:
Antes
de qualquer coisa e antes que algum engraçadinho fique entusiasmado com o
título do filme ou com as imagens acima, um aviso: em “Sexo, mentiras e
videotape” não há nenhuma só cena de sexo ou de nudez, mas é um dos filmes mais
ácidos, vorazes e cruéis do assunto. Essa obra-prima de Steven Soderberg,
incendiou o mundo cinematográfico no final dos anos 80, gerou muita polêmica, é
amado e adiado na mesma proporção e possui diálogos deliciosos.
“Sexo,
mentiras e videotape” se passa no subúrbio norte-americano onde um casal, Ann
& John (vividos por Andie MacDowell & Peter Gallagher) vive aparentemente
em harmonia. Ele é um bem-sucedido advogado e ela é uma dona-de-casa que todo
homem sonha, apesar de ser infértil e tem um psicólogo particular. Aliás, a
cena de abertura, em que ela revela os detalhes de sua relação com seu marido para
seu analista, é devastadora e merece estar entre as melhores seqüências de
abertura da história cinematográfica. Porém, com a chegada de um amigo de
infância de John, Graham, (vivido por James Spader, ótimo no papel) o cenário
muda. Ele é uma pessoa problemática, tem uma tese negativa de advogados, e tem
um “projeto” secreto em sua casa, que é o ponto chave do filme. Logo de início,
Graham pergunta a Ann se é bom estar casada, logo ela responde que “acha que
entra no clichê que ‘ajuda’”. Paralelo a isso, entra na história Cynthia
(vivida por Laura San Giacomo), aqui faz papel de amante de John.
Ela deixa várias pistas de seu relacionamento com John para Ann, que se finge
de morta no início mas que, aos poucos, vai suspeitando. Mas quem é Cynthia
afinal? Infelizmente isso não posso contar. Aliás, que projeto é esse que
Graham faz em sua casa? Isso também não posso dizer, seria estragar a magia do
filme e acabar com tudo aquilo que ele tem o nos dizer.
Assistir
a “Sexo, mentiras e videotape” é puro deleite e para quem é mesmo fã da sétima
arte, é duplamente recomendado. E por uma série de motivos. Um deles é o fato
de o diretor não fazer julgamento deste ou daquele personagem. Por se tratar de
um filme de relacionamentos, seria uma coisa perigosa induzir o espectador a
gostar de um determinado personagem. O sexo aqui é tratado como algo natural e
sem culpa. Afinal, você pode ser a melhor pessoa do mundo, famosa, popular ou
engraçada, mas, por alguns momentos entre quatro paredes, somos todos iguais.
Se entregar para o parceiro, ter dúvidas ou desejos, são características de
todos nós.
Outro
aspecto importante, aliás, quem me conhece sabe que adoro isso, é o fato de
“Sexo, mentiras e videotape” ser um filme simples. Antes, mas muito antes de o
diretor Steven Soderberg ficar famoso e milionário com a trilogia “11 homens e
um segredo” e com seu Oscar de Melhor Direção por “Traffic”, em 2001,
Soderberg, em 1989 faz aqui, um filme sem recursos, feito na raça e com atores,
até então, desconhecidos. Na verdade, apesar de todo esse sucesso e de ele ter
feito o recente “Contágio”, seu melhor filme, no caso este, continua
subestimado. Aqui, os cenários praticamente são os mesmos em todas as cenas, o
diretor teve, inclusive, de tirar dinheiro de seu bolso para concluir o filme
do jeito que queria. E o resultado? Não poderia ter sido melhor. Desse dinheiro
que Soderberg investiu para terminar o filme, ele também tirou para divulgar
seu filme no Festival de Cinema de Cannes, na França. Foi chegando aos poucos,
sendo elogiado pelo boca-a-boca e chegou como zebra na premiação. Foi o grande
vencedor da Palma de Ouro e faturou, também, o prêmio da audiência no festival
de Sundance. Infelizmente, Steven ficou sumido por muitos anos, mas somente em
1998 reapareceu com o delicioso “Irresistível Paixão”, com George Clooney &
Jennifer Lopez, antes da glória de Onze homens e Um Segredo e seu Oscar por
Traffic.
E o
elenco? Cada um com seu talento, é um melhor que o outro. Antes de fazer
sucesso na comédia romântica “Quatro Casamentos e um Funeral”, Andie Macdowell
faz aqui seu melhor papel como dona-de-casa dedicada, mulher traída e amante
vingativa. Peter Gallagher, apesar de ser tratado pelos críticos como “vilão”,
aqui, se diverte em diálogos arrepiantes. A seqüência em que Ann o acorda no
meio da noite e os dois se digladiam da suspeita de traição do marido, é de
roer a unha. Laura San Giacomo, que anda sumida, diga-se de
passagem, que aqui, vive Cynthia, está incrivelmente Sexy e sua cena com Graham
é devastadora. Mas o melhor personagem aqui é o de James Spader. O filme ganha
mais vida quando ele aparece, é uma perfeita união entre macho desesperado e
homem sem vergonha. Não posso dizer aqui qual é seu “trabalho” em sua casa, mas
posso dizer que são os melhores momentos do filme. Considerando que temos 4
personagens e o tema central é sexo, as comparações com “Closer - Perto Demais”
são inevitáveis. Afinal, ninguém é exatamente bom ou ruim. Se fosse para
escolher, eu diria que Graham & Cynthia se aproximam mais do status de
“heróis”. Não por serem bonzinhos, mas por serem verdadeiros. Graham é o
personagem mais incorreto e autêntico por aqui. É uma grande pena para a
história cinematográfica, que James Spader tenha se dedicado depois a papéis e
filmes sem expressão em Hollywood. Ele tinha tudo para se tornar um grande
ator, mas sua ambição não o deixou. Na verdade, só Andie MacDowell deu certo na
carreira deste elenco. Os demais ficaram só na promessa. É uma grande pena.
Mas,
“Sexo, mentiras e videotape” é um elogio ao cinema, merece ser visto e revisto
e depois de uma seção dele, por que não um bom e saudável debate? De
preferência, com homens e mulheres no centro da arena. Dentro do devido
respeito e sem fazer julgamentos.
Imagens:
Trailer do Filme:
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