Em um mundo melhor (Haeven)
Direção: Susanne Bier
Ano de produção: 2010
Com:
Mikael Persbrandt,
William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard, Trine Dyrholm.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Nota: 10
Comentário:
No
Oscar do ano passado, a categoria de filme estrangeiro foi uma briga de foice.
Há tempos que isso não acontecia. Neste ano mesmo, em 2012, o brilhante drama
iraniano “A Separação” sobrou em relação aos demais. Mas no ano passado era
difícil escolher um favorito. Entre o canadense “Incêndios”, o mexicano
“Biutiful”, do cineasta Alejandro González Iñárritu e o dinamarquês “Em um
mundo melhor” todos tinham motivos para levar a estatueta para casa.
Felizmente, com todos os méritos, a escolha da Academia foi certeira. “Em um
mundo melhor” não é apenas o melhor filme de língua não-inglesa de 2010, mas
dos melhores filmes europeus até onde a memória alcança e acerta em investir em
relações humanas. Comove com sutilezas, sem apelar para o pieguismo, não tem o
padrão Hollywoodiano em que estamos acostumados a ver e merece ficar para
sempre na memória.
Dos
filmes anteriores da diretora Sussane Bier, eu, particularmente apenas assisti
“Coisas que perdemos pelo caminho”, um drama mediano com uma Halle Berry
fraquinha, para variar, mas aqui ela acerta em cheio no que propôs.
“Em
um mundo melhor” conta a história de Anton, um médico que trabalha em um campo
de refugiados no Sudão e lida, principalmente, com a pobreza e dor dos
moradores. Como se não bastasse, ele está em fase de divórcio com a sua esposa,
Marianne e mora em uma casa no campo, onde seu filho, Elias, que mora com a sua
mãe, vai visitá-lo freqüentemente. Esse menino, aliás, que aqui tem 10 anos,
sofre bullying na escola em que estuda principalmente por um rapaz bem mais
alto e forte do que ele, que o chama de “rato”, pelo aspecto de seus dentes.
Elias conhece Christian, um garoto de sua idade que chegou na Dinamarca
recentemente de Londres. Ele também está passando por problemas na família. A
mãe de Christian morreu de câncer na Inglaterra e ele culpa seu pai por
omissão. Isso faz com que esse garoto tenha um comportamento explosivo. Em uma
cena, ele vê o garoto valentão insultando com Elias no banheiro da escola,
Christian então, espanca-o e ameaça com uma faca. Aliás, para Christian, tudo
se baseia em vingança. Há outras situações mais graves no decorrer da história
em que este instinto de revidar tudo é fundamental para o desenrolar da trama.
Não por acaso, este título original da Dinamarca, “Haeven”, significa
“Vingança”.
Um
dos trunfos de “Em um mundo melhor” é o roteiro envolvente. Conforme tudo
acontece, o filme praticamente te suga para dentro da história. Eu assisti faz
alguns dias e confesso que o filme ainda está fervendo aqui em meu interior. Os
atores estão maravilhosos, sobretudo a dupla de garotos. Elias é um garoto
inseguro, tímido e carente. Já Christian, para ele, nada deve ficar barato e
ele não tolera “covardes”. Anton é o perfeito casamento entre pai exemplar,
marido arrependido e médico dedicado. Ele é forçado a cuidar de um ditador lá
do Sudão, que matou muitas pessoas e já mutilou mulheres gestantes. A mãe de
Elias é um arraso como mulher solteira independente e cuida para que a
influência vingativa de Christian não afete o psicológico de seu filho. O pai de
Christian, apesar de aqui ter um papel pequeno, se divide entre a culpa pela
sua esposa e cuidar de seu filho, que o responsabiliza pela morte da mãe.
O
que é interessante é que a diretora Sussane Bier não faz julgamento de ninguém.
O filme acompanha as dores de cada personagem de forma imparcial. Há diversas
frases de impacto, como Anton dizendo a seu filho que "É assim que as guerras começam", quando ele vai
buscar Elias na escola depois do bullying.
Mas
“Em um mundo melhor” é muito mais profundo do que qualquer dor humana e tem uma
coisa que o cinema brasileiro precisa aprender se sonha em algum dia concorrer
novamente ao Oscar de Filme Estrangeiro: falar de problemas universais e não
apenas problemas que se passam aqui em território nacional. Afinal, dor,
vingança, amor e ódio são sim valores mundiais e universais.
Imagens:
Trailer do filme:
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