Amor sem escalas (Up
in the air)
Direção: Jason Reitman
Ano de produção: 2009
Com:
George Clooney, Anna Kendrick, Vera Farmiga, Jason Bateman, Melanie Lynskey,
Danny McBride
Gênero: Comédia Dramática
Classificação Etária: 14 anos
Nota: 10
Comentário:
Antes
de mais nada, duas coisas: ao assistir “Amor sem Escalas” alguns podem ter a
incômoda sensação de estar vendo um filme oportunista, que apenas pega carona
na crise financeira iniciada em 2008 e longe de terminar. Na verdade, é baseado
em um livro homônimo escrito em 2001. Aliás, “oportunista” é um adjetivo que
não se combina por aqui. Outra coisa: esqueça o ridículo título nacional. Não,
não que a expressão “Amor sem escalas” seja feia, mas dá a impressão de ser uma
comédia romântica descompromissada. E veja bem, não há nenhuma característica
do gênero por aqui. Aliás, este título infeliz ajudou a distribuidora
brasileira a vender esta obra da forma errada (explicaremos melhor a diante). A
verdade é que “Amor sem escalas” é uma pequena obra-prima do século 21, que
será sempre lembrada com um dos roteiros mais ácidos dos últimos anos.
Na
sinopse, o protagonista é o personagem Ryan (vivido pelo George Clooney, cada
vez melhor como ator) que trabalha em uma empresa especializada em demitir
funcionários de outras empresas, já que muitos apresentam um comportamento
explosivo em uma demissão (e no caso deste filme, é um mais explosivo do que o
outro) e muitos patrões não têm coragem de fazê-la pessoalmente, daí é que a
empresa de Ryan entra. Ele anda de avião por todo território americano.
Orgulha-se de não ter laços familiares nem sentimentais. Não é uma pessoa
sociável. Ele mesmo diz em um dos diálogos que anda de avião em um ano mais do
que seria uma viagem à Lua em quilômetros rodados. Por ironia, Ryan também dá
palestras de motivação de como as pessoas precisam se desligar das coisas e
serem mais feliz. Numa das viagens, ele conhece uma mulher bem madura, a Alex
(vivida por Vera Farmiga, do terror “A Órfã”), que na verdade, é uma versão de
saias do protagonista. Ela também não acredita nas relações humanas. Os dois
tem um romance casual. Mas casual mesmo. Em nenhum momento o filme transparece
que um dos dois irá se apaixonar. Entre uma viagem e outra, os dois se
encontram (no primeiro encontro, com direito a um rápido nu de costas de Vera
Farmiga). Também entra em cena o personagem de Natalie, vivida por Anna
Kendrick (ótima no papel!!!!!), uma moça com um futuro promissor e que vai
trabalhar com Ryan e aprender com ele “a arte de demitir bem”. Mas Natalie é
uma menina meiga, delicada, muito sentimental, tem um namorado, e acredita
profundamente nas relações humanas, e de início ela e Ryan não se dão muito
bem. Em diversos momentos os dois se digladiam com suas devidas filosofias de
vida. Esse duelo de egos, diga-se de passagem, é delicioso.
O
filme tinha tudo, mas tudo mesmo para ser mais um daqueles dramas piegas
norte-americanos. Afinal, com um roteiro desses, a história poderia sugerir que
o personagem de Ryan era frio e calculista e conheceu seu anjinho da guarda que
o fez rever o melhor da vida. Ou que o amor muda tudo. Felizmente não tem nada
disso. “Amor sem escalas” não se prende a discursos morais, ele apresenta as
três personagens como serem humanos, com seus defeitos, qualidades e desejos,
sem deixar o lado irônico. E o lado implacável também. As sequências de
demissões são apresentadas sem piedade nenhuma ao espectador, como a do
funcionário que trabalhava na mesma empresa havia 17 anos e foi demitido por
uma “colegial”, como ele mesmo diz, ou quando descobre-se que uma das demitidas
da trama se suicidou. Até arrisco dizer que o filme é um soco no estômago para
o público geral.
Nada
que o diretor Jason Reitman não esteja acostumado, em “Obrigado por fumar” ele
faz uma obra ácida sobre a indústria do tabaco, e em “Juno” ele faz um crítica
ao comportamento adolescente. Este segundo filme, aliás, foi um sucesso de
público e crítica. Quando lançou, todos achavam que ele perderia a mão no
próximo filme ou que o sucesso subiria à sua cabeça. Felizmente não aconteceu
nada disso, “Amor sem escalas” foi um sucesso de crítica, melhor do que os dois
anteriores do diretor embora não tenha agradado muito o público geral (também
explico o porquê mais tarde).
E o
elenco?
Que
elenco devastador!
George
Clooney, como já dito, anda melhor a cada filme. Quando ele realizou o
fracassado “Batman & Robin”, em 1997, seu agente havia dito para ele se
aposentar. Ainda bem que ele não o ouviu. Hoje ele está entre os melhores
atores de sua geração e agora também se firmando como um grande diretor
(recomendo que todos vejam um drama dirigido por ele, “Boa Noite e Boa Sorte”).
Por aqui, ele é o perfeito casamento entre homem durão, competente no trabalho,
um bom professor para Natalie e nunca, mas nunca colocando as emoções para seu
ofício.
Vera
Farmiga, é daquelas mulheres independentes que nós amamos, sem perder o lado
feminino, mas sendo igualmente durona. A cena, quase no final, em Chicago dela
e do Clooney é arrebatadora.
Mas
a melhor personagem aqui é a da Anna Kendrick, essa menina de 25 anos tem tudo,
e mais um pouco, para estrela dos próximos anos. Ela pode ser vista em “Scott
Pilgrim – contra o mundo”, embora ela também faça o papel de melhor amiga de
Bella, papel pequeno, é verdade, na cinessérie “Crepúsculo”, mas a diferença de
atuação entre ela e Kristen Stewart é infinita. Anna Kendrick está naquela fase
de Julia Roberts antes de Uma Linda Mulher: uma atriz em que todos têm empatia
e só esperando aquele papel de destaque. Por aqui, em “Amor sem Escalas”, ela é
uma perfeita junção entre a adolescente querendo um lugar ao sol, garota
sensível, inteligente e uma já mulher feita. Quando ela aparece em cena, o
filme solta faíscas. Quem não se apaixonar por ela, na sua primeira cena, em
uma reunião na empresa, em que ela é apresentada a todos, inclusive para Ryan,
pode procurar um hospital.
Uma
curiosidade: quando eu fui assistir a este filme no cinema, em 2010, a sala
estava razoavelmente cheia. Por causa do título, só tinham casais no cinema. A
maioria apaixonados (por isso digo que ele foi vendido da forma errada). Mais
da metade saiu no meio do filme, todos aborrecidos com o que viram e os que
ficaram até o final, bem, eu fui conversar com dois deles, para saber o que
acharam. Um disse que era só para agradar aos americanos, que “esse povo se
acha melhor do que todo o mundo”. O outro casal classificou o filme de “lixo” e
“sem sentido” quando eu perguntei o porquê, a moça disse: “porque não tem
amor”. Eu não tive nem cara para falar que achei uma obra-prima. Devido a essas
opiniões, que foram quase unânimes, o filme foi um fracasso de bilheteria, não
agradou a praticamente ninguém, só aos críticos de cinema e eu, estou de lá
para cá no desafio de encontrar alguém que tenha gostado, alguém que não seja
crítico.
Ah,
“Amor Sem Escalas” recebeu 6 indicações ao Oscar em 2010 (Melhor Filme, Direção
(Jason Reitman), Ator (George Clooney), Roteiro Adaptado e Atrizes Coadjuvantes
(Anna Kendrick & Vera Farmiga). Por uma dessas injustiças da Academia, o
filme saiu da premiação de mãos vazias(!). Mas não tem problema, isso foi só um
detalhe. Ao ver “Amor Sem Escalas”, ficamos otimistas quanto ao futuro do
cinema. Afinal, a sétima arte se consagrou, principalmente nos anos 1970, com o
chamado “cinema entre adultos”, que aqui é resgatado com muita, mas muita
maestria. Agora é esperar aos próximos anos.
Imagens:
Trailer do Filme:
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