Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal
Sunshine of the Spotless Mind)
Direção: Michel Gondry
Ano de produção: 2004
Com:
Jim Carrey, Kate Winslet, Kristen Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood, Tom
Wilkinson.
Gênero: Comédia Dramática
Classificação Etária: 14 anos
Nota: 10
Comentário:
Nós,
que acompanhamos à sétima arte há tempos estamos tão acostumados a assistir
filmes ruins que já estamos até anestesiados. E se não são ruins, a maioria não
tem originalidade. Afinal, se no mundo da química, “nada se cria, nada se
copia, porém, tudo se transforma”, aqui no mundo cinematográfico não é
diferente. Mas felizmente, surge uma luz no fim do túnel: “Brilho Eterno de Uma
Mente Sem Lembranças” é uma obra 100% original, um grande exercício de
interpretação e reflexão, mas, sobretudo, um delicado exercício psicológico.
Ele não foi um sucesso em sua estreia, mas, foi se tornando famoso pelo
“boca-a-boca” dos amantes de um bom roteiro com o tempo. Sendo assim, não é
exagero nenhum dizer que “Brilho Eterno” é um filme Cult. Outra curiosidade é o
fato de esse filme ter estreado nas explosivas férias do mês de julho de 2004.
Num mesmo “Multiplex” em que os cinemas exibiam “Homem Aranha 2” ou “Shrek 2”,
estava lá uma sessão de “Brilho Eterno”.
“Brilho
Eterno” fala da história de Joel (vivido por um Jim Carrey bem atípico), um
sujeito simples, sem jeito para as mulheres e quase sem assuntos para
conversar. Em uma viagem de trem, ele conhece a descolada Clementine (vivida
por Kate Winslet, em um de seus melhores papéis), onde eles têm um romance
excêntrico. Ela é uma garota cheia de vida e ele sempre entediado. O
relacionamento dos dois ia bem, até que Clementine decide apagar Joel da
memória. Ela contrata uma empresa especializada em tirar pessoas da mente
alheia e exclui todas as lembranças de seu ex-amado. Obviamente, Joel fica
arrasado, começa a questionar o porquê de Clementine ter feito tal coisa. Ele
decide, então, fazer o mesmo: contrata a mesma empresa e apagar todas as
memórias que se tem dela. O procedimento de excluir uma pessoa da mente do
“paciente” é realizado na própria casa do requerente. Nesta noite em que é
realizado este trabalho, nos são mostrados todos os momentos na vida do casal.
Porém, o relacionamento de Joel e Clementine também teve momentos bons,
inesquecíveis, e ele começa, aos poucos, a se arrepender da decisão de apagar
as lembranças desta mulher e tenta “driblar o sistema”. Mas como enganar a
própria mente?
O
filme só tem qualidades e eu, particularmente, não encontrei defeito nenhum. A
começar pela escolha do elenco. Jim Carrey já havia mostrado seu talento
dramático anteriormente: nos ótimos “O Show de Truman” e “O Mundo de Andy” e no
subestimado “Cine Majestic”, e aqui o papel de encaixa como uma luva para seu
jeito, digamos, simples de ser. Kate Winslet, que é, em minha opinião, entre as
melhores, se não a melhor, atrizes inglesas do cinema atual, está arrebatadora
no papel. Ela até poderia ficar famosa por aqui só pelo cabelo meio peculiar
(como nas imagens acima), mas estamos falando de uma camaleoa que nos
surpreende a cada filme. O perfil psicológico de Clementine é o ponto chave
para o desespero do protagonista, como uma mulher “complicada e perfeitinha”. E
o elenco de apoio está perfeito. Kristen Dunst, como atendente desta empresa
peculiar de perda de memória, que de início parece até “café com leite” na
história, vai se tornando mais interessante conforme o filme passa. Mark
Ruffalo e Tom Wilkinson, como médicos, também estão bem. E finalmente, Elijah
Wood, que nos deve um papel digno de nota desde seu Frodo na trilogia “O Senhor
dos Anéis”, aqui é o antagonista da história, e por que não dizer, oportunista?
Mas
por que, afinal, em um relacionamento aparentemente feliz, querer não se
lembrar de nada da outra pessoa?
Conforme
vemos a mente de Joel, observamos que a resposta não é tão simples assim e o
filme tem mais perguntas do que respostas, afinal, querer explicar tudo enxuto
na tela em muitas vezes não é bom para uma reflexão de uma obra, e neste caso,
análises do roteiro podem gerar intermináveis conversas de bar e também, não há
necessidade que querer responder tudo para ser uma desculpa de um roteiro mal
feito (não é, senhor “Jogos Mortais”?).
O
filme também não perde tempo nem se torna grosseiro tentando explicar a
dificuldade de se entender a mente feminina. Hoje em dia, temos muitas Comédias
Românticas com cara de descoladas, mas lá nas mensagens subliminares nota-se um
machismo disfarçado (fujam do horroroso “A Verdade Nua e Crua”).
Como
já dito, estamos falando de uma obra original. Nada de mais para o ótimo roteirista
Charlie Kaufman, que assinou o roteiro do formidável “Adaptação”, em que
Nicolas Cage faz um papel duplo e o pouco visto “Quero Ser John Malkovick”, uma
comédia arrebatadora, original, muito engraçada, inteligentíssima e diferente
de tudo o que já se viu em matéria de roteiros cinematográficos. Recomendo,
claro, que todos o vejam.
“Brilho
Eterno” foi o grande vencedor do Oscar de 2005 de Roteiro Original, pelo qual
mereceu esse prêmio. Foi indicado também, e mereceu perder, o prêmio de Melhor
Atriz para Kate Winslet, em que a vencedora foi a atuação impecável de Hillary
Swank em “Menina de Ouro”. Mas a não indicação de Melhor Ator para Jim Carrey e
na categoria de Melhor Filme foram um ultraje.
Mas,
tudo bem, a história mostra que o Oscar vai e os bons filmes ficam. E neste
caso, estamos falando de uma obra engenhosa, que nos faz pensar em nossos
próprios relacionamentos e nos faz sonhar em onde a mente humana pode chegar. Enfim,
“Brilho Eterno” é um filme para não se apagar nunca da memória.
Imagens:
Trailer do filme:
Nenhum comentário:
Postar um comentário