segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Terapia de Risco

Terapia de Risco (Side Effects)


Direção: Steven Soderberg

Ano de produção: 2013

Com: Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum.

Gênero: Suspense Dramático

Classificação Etária: 16 Anos



Terapia de Risco é um último e instigante retrato de Soderberg.

            Durante o lançamento de “Terapia de Risco” em maio de 2013, Steven Soderberg anunciou aposentadoria. Após uma carreira muito vitoriosa, cheia de sucessos, um Oscar no currículo, uma Palma de Ouro em Cannes, um talento comprovado e muitos amigos em Hollywood, fundamentalmente, muitos atores amigos. É impressionante como Soderberg é dos poucos que consegue chamar tantos atores do primeiro time de Hollywood sem abrir mão do orçamento e da qualidade. Sua carreira é muito diversificada e praticamente nenhum filme se parece com o outro. Só para citar os melhores, ele começou a carreira da melhor forma possível, com um filme 100% autoral e independente com o ousado “Sexo, Mentiras e Videotape”, que rendeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1989 e o prêmio principal no Festival de Sundance. Na verdade, foi o primeiro ano do festival, era uma época em que o cinema independente estava começando a ser descoberto pela indústria e um festival de tamanha credibilidade foi praticamente a confirmação desse crescimento. O ano de seu auge veio em 2000. Foram dois filmes no mesmo ano que confirmaram a habilidade de Soderberg. “Erin Brockovich – Uma mulher de talento”, que deu o Oscar de Atriz para Julia Roberts, não é só um grande filme, mas um retrato muito corajoso da sujeira das indústrias químicas. E “Traffic”, que venceu 4 Oscars em 2001, entre eles o esperado prêmio de Melhor Diretor para Soderberg.

            Isso só para citar os melhores, mas há outros que o espaço aqui não daria. E “Terapia de Risco”, que, segundo as promessas do próprio diretor, é seu último filme, também há a sua marca, embora, segundo sua tradição, não se parece em nada com seus filmes anteriores, exceto a habilidade em trabalhar com atores. E aqui, ele faz isso como poucos.

            Terapia de Risco conta a história de Emily (Rooney Mara, ótima, excelente no papel), que começou a fazer terapia e ficou psicologicamente abalada após seu marido, Martin (Channing Tatum) ter ficado 4 anos preso. Emily tomou vários remédios e nenhum fazia efeito, mas é receitado para ela um novo remédio (novo mesmo, na verdade, não havia sido testado em ninguém) que promete tirar seu estado deprimido, receitado por seu terapeuta, Jon (Jude Law, péssimo no papel). Com a saída de Martin da prisão e com os efeitos desse novo remédio, Emily vai começando, aos poucos a ter uma vida normal, há vestígios de um novo recomeço e de uma vida amorosa com seu marido. Esse remédio novo, porém, causa muito sonambulismo em Emily, em muitos momentos, não se sabe se ela está acordada ou dormindo. Com esses sintomas de sonambulismos, ocorre uma virada em sua vida (infelizmente, não posso falar que virada é essa) e começa o dilema: quem é culpado. Emily, que executou, ou Jon, que receitou o remédio?

            O roteiro de Scott Z. Burns (de “Contágio”) é tão inteligente e provocativo que fica difícil acreditar em algo que se vê e a tensão permanece até o último ato. Recomenda-se não ler muito sobre o filme, pois, há uma brilhante reviravolta na metade do filme e há outra reviravolta arrepiante dos 10 minutos finais. O jogo de gato e rato, a busca pela verdade, o fator psicológico, embalado por ambientes de psicologia e o clima de suspense com uma trilha sonora excelente garantem prender o espectador, que há tempos não se via em um filme hollywoodiano. Estávamos carentes de um filme assim tão cheio de surpresas como é “Terapia de Risco”, que busca inspiração visível em Hitchcock (a câmera de “Psicose”) e em David Fincher (final surpresa de “Seven”) e só mesmo um diretor como Soderberg consegue mudar um filme assim da água para o vinho da 2ª metade sem perder o interesse e mantendo o mesmo clima do começo. É realmente, um retrato com chave de ouro dessa carreira tão boa como foi essa de Soderberg.

            Sobre o elenco principal, na primeira hora do filme, temos a predominância da Rooney Mara e seus problemas psicológicos. Na segunda metade, quase só o Jude Law que aparece, em sua busca pela “verdade”.

            Lamento dizer que, Jude Law não é um grande ator e não consegue segurar um filme sozinho. Ele não tem nem talento nem carisma para chamar um filme só dele. Ele fez muito filme bom, como “O Talentoso Ripley” e “Closer – Perto Demais”, mas ele estava com um grande elenco e grande direção. E aqui, que dependia sim, dele, sua atuação como psicólogo é desastrosa.

            O trunfo do filme, além do ótimo roteiro e surpresas, é a atuação da Rooney Mara. Sua atuação está hipnotizante como uma jovem perturbada. Suas expressões frias que causam calafrios, junto com seus surtos psicológicos, mais uma trilha que, a cada olhar da Rooney embala uma música tensa (também inspirada em “Psicose”) são o ponto alto do filme. A Rooney Mara é uma ótima atriz e se revelou muito mais interessante do que um rosto bonito, principalmente por seu papel em “Millennium – Os homens que não amavam as mulheres”, em que ela se despe da qualquer beleza e faz um papel indicado a Oscar de Melhor Atriz. É certamente, entre as melhores atrizes dessa nova geração.

            Terapia de Risco não foi um grande sucesso de bilheteria, mas foi sendo descoberto no Home Vídeo, e principalmente nos serviços de Streaming com a chegada simultânea no Netflix Brasil. É um filme que merece sim, ser descoberto e apreciado, assim como a maioria da obra de Steven Soderberg.


Nota: 9,0


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