Terapia de Risco (Side Effects)
Direção: Steven Soderberg
Ano de produção: 2013
Com:
Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum.
Gênero: Suspense Dramático
Classificação Etária: 16 Anos
Terapia de Risco é um último
e instigante retrato de Soderberg.
Durante o lançamento de “Terapia de Risco” em maio de 2013,
Steven Soderberg anunciou aposentadoria. Após uma carreira muito vitoriosa,
cheia de sucessos, um Oscar no currículo, uma Palma de Ouro em Cannes, um
talento comprovado e muitos amigos em Hollywood, fundamentalmente, muitos
atores amigos. É impressionante como Soderberg é dos poucos que consegue chamar
tantos atores do primeiro time de Hollywood sem abrir mão do orçamento e da
qualidade. Sua carreira é muito diversificada e praticamente nenhum filme se
parece com o outro. Só para citar os melhores, ele começou a carreira da melhor
forma possível, com um filme 100% autoral e independente com o ousado “Sexo,
Mentiras e Videotape”, que rendeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1989
e o prêmio principal no Festival de Sundance. Na verdade, foi o primeiro ano do
festival, era uma época em que o cinema independente estava começando a ser
descoberto pela indústria e um festival de tamanha credibilidade foi
praticamente a confirmação desse crescimento. O ano de seu auge veio em 2000.
Foram dois filmes no mesmo ano que confirmaram a habilidade de Soderberg. “Erin
Brockovich – Uma mulher de talento”, que deu o Oscar de Atriz para Julia
Roberts, não é só um grande filme, mas um retrato muito corajoso da sujeira das
indústrias químicas. E “Traffic”, que venceu 4 Oscars em 2001, entre eles o
esperado prêmio de Melhor Diretor para Soderberg.
Isso só para citar os melhores, mas há outros que o
espaço aqui não daria. E “Terapia de Risco”, que, segundo as promessas do
próprio diretor, é seu último filme, também há a sua marca, embora, segundo sua
tradição, não se parece em nada com seus filmes anteriores, exceto a habilidade
em trabalhar com atores. E aqui, ele faz isso como poucos.
Terapia de Risco conta a história de Emily (Rooney Mara,
ótima, excelente no papel), que começou a fazer terapia e ficou
psicologicamente abalada após seu marido, Martin (Channing Tatum) ter ficado 4
anos preso. Emily tomou vários remédios e nenhum fazia efeito, mas é receitado
para ela um novo remédio (novo mesmo, na verdade, não havia sido testado em
ninguém) que promete tirar seu estado deprimido, receitado por seu terapeuta,
Jon (Jude Law, péssimo no papel). Com a saída de Martin da prisão e com os
efeitos desse novo remédio, Emily vai começando, aos poucos a ter uma vida
normal, há vestígios de um novo recomeço e de uma vida amorosa com seu marido.
Esse remédio novo, porém, causa muito sonambulismo em Emily, em muitos
momentos, não se sabe se ela está acordada ou dormindo. Com esses sintomas de
sonambulismos, ocorre uma virada em sua vida (infelizmente, não posso falar que
virada é essa) e começa o dilema: quem é culpado. Emily, que executou, ou Jon,
que receitou o remédio?
O roteiro de Scott Z. Burns (de “Contágio”) é tão
inteligente e provocativo que fica difícil acreditar em algo que se vê e a
tensão permanece até o último ato. Recomenda-se não ler muito sobre o filme,
pois, há uma brilhante reviravolta na metade do filme e há outra reviravolta
arrepiante dos 10 minutos finais. O jogo de gato e rato, a busca pela verdade,
o fator psicológico, embalado por ambientes de psicologia e o clima de suspense
com uma trilha sonora excelente garantem prender o espectador, que há tempos
não se via em um filme hollywoodiano. Estávamos carentes de um filme assim tão
cheio de surpresas como é “Terapia de Risco”, que busca inspiração visível em
Hitchcock (a câmera de “Psicose”) e em David Fincher (final surpresa de
“Seven”) e só mesmo um diretor como Soderberg consegue mudar um filme assim da
água para o vinho da 2ª metade sem perder o interesse e mantendo o mesmo clima
do começo. É realmente, um retrato com chave de ouro dessa carreira tão boa
como foi essa de Soderberg.
Sobre o elenco principal, na primeira hora do filme,
temos a predominância da Rooney Mara e seus problemas psicológicos. Na segunda
metade, quase só o Jude Law que aparece, em sua busca pela “verdade”.
Lamento dizer que, Jude Law não é um grande ator e não
consegue segurar um filme sozinho. Ele não tem nem talento nem carisma para
chamar um filme só dele. Ele fez muito filme bom, como “O Talentoso Ripley” e
“Closer – Perto Demais”, mas ele estava com um grande elenco e grande direção.
E aqui, que dependia sim, dele, sua atuação como psicólogo é desastrosa.
O trunfo do filme, além do ótimo roteiro e surpresas, é a
atuação da Rooney Mara. Sua atuação está hipnotizante como uma jovem
perturbada. Suas expressões frias que causam calafrios, junto com seus surtos
psicológicos, mais uma trilha que, a cada olhar da Rooney embala uma música
tensa (também inspirada em “Psicose”) são o ponto alto do filme. A Rooney Mara
é uma ótima atriz e se revelou muito mais interessante do que um rosto bonito,
principalmente por seu papel em “Millennium – Os homens que não amavam as mulheres”,
em que ela se despe da qualquer beleza e faz um papel indicado a Oscar de
Melhor Atriz. É certamente, entre as melhores atrizes dessa nova geração.
Terapia de Risco não foi um grande sucesso de bilheteria,
mas foi sendo descoberto no Home Vídeo, e principalmente nos serviços de
Streaming com a chegada simultânea no Netflix Brasil. É um filme que merece
sim, ser descoberto e apreciado, assim como a maioria da obra de Steven
Soderberg.
Nota:
9,0
Imagens:
Trailer:
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