terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As Vantagens de ser Invisível

As vantagens de ser invisível (The Perks of Being a Wallflower)


Direção: Stephen Chbosky

Ano de produção: 2012

Com: Logan Lerman, Ezra Miller, Emma Watson, Mae Whitman, Paul Rudd, Nina Dobrev, Dylan McDermott, Melanie Lynskey, Joan Cusack.

Gênero: Comédia Dramática

Classificação Etária: 14 Anos



Rock, poesia e relacionamentos embalam “As vantagens de ser invisível”.

            Tem uma música do Charlie Brown Jr., “Não é Sério”, que tem um refrão mais ou menos assim: “na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, o jovem no Brasil nunca é levado a sério...”, dizendo que, o jovem, o adolescente, precisa ser mais ouvido, ser mais, levado a sério e ser menos tratado como alguém sem opinião. É justamente ao contrário, o jovem deve sim, ser ouvido e deve ter voz e vez, afinal, é, possivelmente, a fase mais importante da vida, pois é um momento de transição, em que após uma infância que a pessoa desenvolve a fala, o psicológico e a capacidade de se comunicar, é na adolescência que surgem as pressões, as dúvidas e certa independência em relação aos pais. Não estou falando de dinheiro, mas esse é o momento da vida que a sociedade e as amizades influem mais na vida do jovem do que os pais. Sigmund Freud dizia que a adolescência é o período que a pessoa “mata seus pais”.

            Exageros ou não, é nessa fase que surge um ser humano de fato e suas escolhas influem, talvez pelo resto da vida, o caminho a seguir.

            Olhando por esse lado, é muito triste e ver a programação destinada aos jovens na nossa TV. Há formadores de opinião guiando nossos jovens da maneira mais errada e perigosa possível, tratando jovem como um produto, e não como humano e vendendo tudo o que é de acordo com o interesse de poderosos. Isso fica mais visível nas novelas. Infelizmente, o adolescente é sempre o imaturo, perdido, que fala gírias e não tem perspectivas (alguém se lembrou de “Malhação”?).

            Infelizmente, a indústria do cinema não foge à regra. O retrato ou o tratamento pode ser menos manipulável, mas é muito difícil um produto de qualidade direcionado aos jovens. Mas, de vez em quando o cinema nos surpreende com um material honesto e humano. Como não se lembrar de “Clube dos Cinco”, “Curtindo a vida adoidado”, ambos da década de 1980, ou o recente “Juno”, filmes que colocam o coração e o lado humano acima de tudo. O cinema deve sim, retratar esse mundo de tempos em tempos e acompanhar a evolução e o público a que se refere, afinal, cada geração tem as suas necessidades e momentos. E nesta década, a 2ª do século XXI, não há filme que retrate melhor esse mundo, essa fase da vida da adolescência que é “As vantagens de ser invisível”.

            Não é exagero dizer que este é o melhor filme do gênero da década, com personagens que é impossível não se identificar, uma trilha sonora de arrepiar, absolutamente bem escrito, uma delícia de se ver e rever, altamente reflexivo e com um ótimo elenco jovem e adulto.

            No roteiro (e que roteiro!), passado do início da década de 1990, temos um jovem, Charlie (Lerman) que acabou de chegar na cidade após a morte da sua tia Helen (Melanie Lynskey) e terá seu primeiro dia de aula. Ele nunca foi popular, mas se sentia um “loser” perante seus colegas. No primeiro dia de aula, porém, seu único amigo foi seu professor, mas logo conhece dois amigos, Patrick e Sam (Ezra Miller & Emma Watson, respectivamente), que logo o acolhem para suas “famílias” e se tem o início de uma longa amizade. Charlie, porém, se apaixona por Sam e tudo complica quando entra na história Mary Elizabeth (Mae Whitman), que se apaixona por Charlie. De início, Mary se apresenta como uma garota amável, mas logo se revela possessiva, “grudenta” e até chata. Paralelamente, a irmã de Charlie, Candance (Nina Dobrev) está tendo um caso com um dos garotos mais populares da escola, Derek, que vira um problema para Charlie. Isso sem falar na convivência familiar, principalmente após a morte da tia, e a convivência escolar, com os “tipos” no colégio, a amizade com seu professor, Bill (Paul Rudd), e esse, digamos triângulo amoroso.

            É quase impossível não se identificar com os personagens. O elenco é farto e há várias histórias que, de fato, parecem a vida real. Charlie é a figura perfeita de um “nerd” em busca de seus objetivos e procurando o convívio no ambiente escolar. Patrick, que é gay, é, também inseguro, mas que não tem medo de mostrar seus ideais. Sam, apresentada aqui como uma garota incrível, descolada, até popular de certa forma, mas que é impossível não se apaixonar pelo seu jeito. E, por isso, chama a atenção e o coração de Charlie.

            Há cenas memoráveis, acompanhadas por uma trilha sonora digna de Oscar (curiosamente, a Academia não indicou esse filme em categoria nenhuma!), como a sequência da dança entre Patrick e Sam ao som de Dexy´s Midnight Runners quase no início do longa, ou o primeiro beijo entre Charlie e Sam, uma cena linda, que merece ser vista e revista e mostra, de verdade, o que é um sentimento verdadeiro entre dois jovens. Outra cena histórica é a sequência em que Sam abre os braços dentro do carro em um túnel ao som de Heroes, do David Bowie. A cena pode parecer até tola e desnecessária, mas, assistindo ao filme se percebe o sentimento da sequência, principalmente depois de se saber que a ideia foi da própria Emma Watson.

            Todo o sentimento e humanidade colocados no filme se refletem muito nas frases de efeito, que também têm no livro. Uma curiosidade é que o próprio diretor e roteirista do filme, Stephen Chbosky foi quem escreveu o livro. No caso, ele escreveu no ano de 1999, mas só agora resolveu colocar nas telonas, usando a linguagem e costumes atuais. E aqui, ele chamou ninguém menos do que John Malkovich para ajudá-lo a produzir. Algumas frases, como “somos todos invisíveis, somos todos infinitos”, ou quando Charlie pergunta a Bill “por que pessoas legais namoram idiotas”? E Bill responde: porque aceitamos o amor que imaginamos merecer. Infelizmente, é verdade, todos nós só fazemos aquilo que imaginamos merecer, às vezes, sem ousadia e sem persistência.

            “As vantagens de ser invisível” chegou sem fazer barulho nos cinemas. Não foi um sucesso comercial, mas, logo ficou sendo conhecido pelo boca-a-boca e por muitos elogios aos poucos que o viram no cinema. Agora que ele já está disponível em DVD, ele pode ser muito bem apreciado e descoberto por um novo público e uma nova geração, que estava carente de um produto que realmente a ouvia, entendia e falava a sua língua.

            Com todos esses fatores, não é absurdo nenhum dizer que “As vantagens de ser invisível” já recebeu ares de “Cult”.


Nota: 10,0


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