domingo, 22 de novembro de 2015

Marvel: Jessica Jones - 1ª Temporada


Marvel: Jessica Jones - 1ª temporada

Criada por: Melissa Rosenberg

2015

Com: Krysten Ritter, David Tennant, Rachael Taylor, Mike Colter, Carrie-Anne Moss, Eka Darville, Erin Moriarty, Wil Traval.

Ação

14 Anos


É a mesma Marvel dos cinemas – só que diferente

            Em abril desse ano estreou a série do Demolidor. Foi a primeira parceria entre a Marvel e a Netflix. A casa das ideias já está consolidada com o seu universo nos cinemas e agora está expandindo isso para a TV.

            Tudo começou em 2013 com a estreia de Agents of Shield no canal ABC, que teve uma primeira temporada que dividiu opiniões, mas que se acertou no final daquela temporada, teve um segundo ano excelente e está tendo um terceiro ainda melhor. Em janeiro deste ano, durante o hiato de Shield, estreou a série da Agent Carter, que se passa após os acontecimentos de ‘Capitão América – O Primeiro Vingador’ e foi elogiada por público e crítica.

            E agora, em novembro de 2015, chega no serviço streaming a segunda série da parceria Marvel/Netflix: Jessica Jones.

            Essa parceria também promete entregar a série do Luke Cage e de início a ideia também era uma série do Punho de Ferro, mas os produtores gostaram tanto do trabalho de Jon Bernthal como Justiceiro na 2ª temporada de Demolidor que estão com a ideia da série própria do herói e o Punho de Ferro ganharia um filme – e tudo isso culminando na série dos Defensores, que seria o “núcleo urbano” da Marvel.

            Se nos cinemas a casa das ideias trabalha com heróis fantásticos e poderosos, nas séries eles trabalham com personagens mais reais e humanos. A própria Agente Carter não é nenhuma super-heroína, mas tem um papel fundamental na história do Universo Marvel.

            Outra grande diferença entre as séries e filmes é que ao passo que vemos filmes com a violência moderada e nunca realista, nas séries (ao menos as da Netflix) o que vemos é um retrato violento e sombrio de Nova York. Isso em Demolidor ficou muito claro – e foi um diferencial importantíssimo – mas aqui em Jessica Jones a coisa vai além: em momento algum a série indica que se trata de um universo de super-herói, já que consegue ser ainda mais violenta, sombria e realista do que Demolidor. E mais ousada também: há muito conteúdo sexual e as cenas de sexo são mostradas sem pudor e sem culpa – o que é muito bom para mostrar que quadrinho não é coisa apenas de criança, há várias publicações para o público adulto e quem ainda associa HQs à infantilidade, ou não conhece o universo dos quadrinhos ou é mal intencionado.

            Jessica Jones é baseada na série de quadrinhos Alias, de 2001, escrita por Brian Michael Bendis e desenhada por Michael Gaydos e mostrava o dia-a-dia da agência Alias (que no Brasil ganhou o nome de “codinome”, que também tem esse nome da série) e sua principal investigadora: Jessica Jones, que é órfã, foi viver Trish Walker, que se tornou sua melhor amiga e lida com os demônios internos de seu passado e com seus poderes, que é sua força sobre-humana, que ela considera mais como uma maldição, sobretudo após ela conhecer o vilão Kilgrave e ter um passado sombrio com ele: os dois já foram amantes e nos tempos atuais ela ainda vive atormentada com suas lembranças.

            Kilgrave – ou Homem-Púrpura, como preferem os fãs de quadrinhos, tem um poder muito peculiar: ele consegue que as pessoas façam o que ele quiser. A única pessoa imune a isso é a própria Jessica, que conforme vai passando a série – tanto das HQs como da Netflix – descobrimos o porquê da obsessão que ele tem pela Jessica.

            Todo o passado de Jessica vem à tona quando ela conhece o Luke Cage, um herói que tem o poder de ser indestrutível e isso é mostrado na série de forma brilhante e sem explorar demais (afinal, Luke vai ganhar uma série própria) e descobre-se que Jessica assassinou a ex-esposa de Luke no passado a mando – ou não – de Kilgrave.

            O primeiro encontro de Luke e Jessica na série é idêntico ao mostrado nos quadrinhos: ela toma um uísque no bar de Luke (ele é dono do bar) e os dois vão para casa fazer sexo. A cena foi muito bem feita, envolvente e o espectador acredita e torce pela relação dos dois e considerando que ainda teremos série do Luke, ainda podemos ver o romance dar certo (nas HQs os dois se casam e têm um filho) – embora que nas histórias de Alias, ela tenha estudado com Peter Parker (sim, o próprio Homem-Aranha) e confessa ter uma queda com ele. Considerando que o herói aracnídeo agora é da Marvel Studios, esse triângulo amoroso unindo cinema e TV seria muito atraente.

            As comparações com Demolidor são inevitáveis, já que é a série do mesmo canal e no mesmo local: Hell’s Chicken, que é a periferia de Nova York que ainda está afetada com os acontecimentos de The Avengers – Os Vingadores, sem contar que ambos os heróis irão se encontrar lá na frente em Defensores, mas deve-se tomar cuidado com as comparações pois os pontos de vista são diferentes: ao passo que Demolidor era uma série de ação de fato, mostrava a ascensão do herói e focava muito na corrupção, aqui temos uma heroína em decadência e que o foco está mais em seu psicológico do que na cidade em si, que raramente é citada ao longo da série.

            Em tempos de debate sobre o feminismo e o lugar da mulher na sociedade, Jessica Jones é a série certa e na hora certa: a questão do feminismo é tratada de forma natural e sem estereótipos.

            A própria Jessica não é uma heroína qualquer: ela bebe, fala palavrão, mas não deixa de ser mulher. E ela se preocupa com as pessoas e ainda tem o coração de uma heroína, tanto que o fato de ela ter uma vida solitária e se afastar de amizade e relacionamento, é para a própria proteção das pessoas que ela ama, sobretudo a sua melhor amiga, Trish, que é uma ex-apresentadora famosa de rádio, e também tem o coração de super-heroína.

            Trish é uma personagem que se torna mais interessante e atraente com o passar dos episódios. De início ela pode parecer como uma coadjuvante de luxo, apenas como a melhor amiga da protagonista (e tá cheio de série assim), mas ela se torna peça fundamental na caça de Jessica ao seu rival.

            Ainda sobre a questão do feminismo, temos a personagem da Heri, vivida por Carrie-Anne Moss (a Trinity de ‘Matrix’), que é melhor advogada de Nova York, ou seja, tem uma carreira bem-sucedida, mas está de divórcio marcado com uma médica e está envolvida com uma das suas funcionárias (deixa alguém da “família tradicional” assistir isso).

            Carrie-Anne Moss faz seu melhor personagem desde Trinity exatamente por trazer a imponência que o papel exigia, ao passo em que ela é destruída internamente.

            Krysten Ritter (que virá ao Brasil para a Comic Con Experience) interpreta de forma muito competente a Jessica Jones e também não cai nos estereótipos de uma heroína sexualizada e consegue ser uma mulher forte e ser feminina ao mesmo tempo.

            Mas quem rouba mesmo a cena é David Tennant (que também virá ao Brasil na CCXP). Tennant é o Doutor preferido da maioria dos fãs de Doctor Who e a escolha dele para fazer o vilão Kilgrave foi certeira por 2 motivos: ele é um grande ator e como não é exatamente uma estrela hollywoodiana, não custou muito para trazê-lo à série. Segundo que seu papel em Doctor Who, que durou 3 temporadas, foi tão marcante que fica difícil não associar o ator ao personagem e ele precisava de um papel forte.

            Kilgrave só aparece a partir do 3º episódio e é mostrado aos poucos, sempre de forma ameaçadora e sempre um passo à frente da Jessica. Como já citado, seu poder é o de obrigar as pessoas a fazerem o que ele quer.

            Há uma cena das HQs que foi alterada para a série, mas que ficou muito melhor: nos quadrinhos, Kilgrave obrigava todos os clientes de um restaurante a pararem de respirar, causando a morte de todos, mas na série, o vilão obrigou os policiais em uma delegacia a apontarem arma uns aos outros e a câmera dando uma visão geral da tensão do momento.

            É impressionante como Kilgrave/Homem-Púrpura é um vilão fascinante, mas não era famoso, mas agora tem a chance de ganhar fama com o público em geral. Ele já é dos maiores vilões se juntarmos filmes e séries e juntando Marvel e DC - e merece estar ao lado dos memoráveis Coringa, Magneto, Loki e Wilson Fisk.

            Os 13 episódios de Jessica Jones passam rápido e após o término já fica a saudade. Em um ano tão positivo para a Netflix, com séries maravilhosas e que dificilmente passariam em um canal tradicional, como Sense8 e a própria Demolidor, Jessica Jones entra na galeria das obras-primas do serviço. E é, na opinião deste que vos fala, A Melhor Série Baseada em HQ da Atualidade.

Nota: 10,0

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