domingo, 8 de novembro de 2015

007 Contra Spectre


007 Contra Spectre (Spectre)

Direção: Sam Mendes

2015

Com: Daniel Craig, Léa Seydoux, Ben Whishaw, Ralph Fiennes, Christoph Waltz, Dave Bautista, Naomie Harris, Andrew Scott, Monica Bellucci.

Ação

14 Anos

De volta às raízes, mas sem perder o que foi construído

            Em 2002, era lançado o 20º filme da franquia do James Bond, ‘Um Novo Dia Para Morrer’. Na ocasião, era a comemoração dos 40 anos da franquia e embora o filme tenha sido bem-sucedido comercialmente, a crítica o detonou, parecia que um ciclo se fechava e tudo indicava que a franquia terminaria ali. E ainda nesse tempo apareceu uma nova franquia de ação que mudaria para sempre a forma de como ver um filme de espionagem: a trilogia Bourne, que foi tão inventiva que praticamente obrigou uma franquia já consagrada do 007 a se reinventar aos novos tempos e os produtores resolveram que sim, a franquia do agente da rainha continuaria.

            Quando Daniel Craig foi escolhido como o novo 007, muita gente criticou e não o achavam com o charme para o papel. Felizmente as redes sociais não eram tão fortes como são hoje, senão ele seria bombardeado, assim como Gal Gadot foi criticada como Mulher Maravilha, por exemplo.

            Neste cenário, em 2006 chegaria aos cinemas 007 – Cassino Royale, que foi uma espécie de reboot da franquia e colocou um James Bond mais realista, humano e sim, o filme bebe muito da fonte de Jason Bourne.

            Cassino Royale foi um grande sucesso de público e crítica e abriu espaço para mais 2 filmes: 007 – Quantum of Solace em 2008, que não foi tão bem sucedido, embora seja um bom filme, mas o melhor da franquia viria em 2012: 007 – Operação Skyfall foi aclamado, foi a maior bilheteria da franquia até então e marcou a comemoração dos 50 anos de 007.

            E agora em 2015 a franquia retorna com seu 24º filme, novamente sob a direção de Sam Mendes (que dirigiu Skyfall) e também com Daniel Craig como o agente secreto: 007 Contra Spectre.

            Possivelmente, este será o último filme de Daniel no papel do agente secreto, já que ele declarou que “prefere cortar os pulsos a viver o herói novamente”.

            E isso, infelizmente, é visível quando vemos 007 Contra Spectre: Daniel claramente esteve sem vontade de fazer o papel e ainda bem que o filme se sobressai nas cenas de ação, na direção de Sam Mendes (que também já declarou que não volta à franquia) e no grande elenco. Todos os atores estão muito bem, obrigado conseguem ofuscar o protagonista, cada um à sua maneira: Léa Seydoux faz uma Bond Girl muito interessante e que não se contenta em ser a mocinha em perigo: muitas vezes ela ajuda o nosso agente e sua primeira aparição é muito boa. Embora ela perca para Eva Green como Vesper Lynd, ela está na galeria das melhores Bond Girls da história. Ao menos ela ganha de Halle Berry de ‘Um Novo Dia Para Morrer’, que mais prometeu do que cumpriu.

Christoph Waltz vive o vilão Oberhauser e embora ele seja um grande ator, já vencedor de 2 Oscar, ele não consegue ser melhor do que Javier Bardem em Skyfall nem do que Le Chiffre em Cassino Royale, seja por pouco tempo de tela ou pela pouca carga dramática – e seu papel exigia isso.

            Ralph Fiennes é o novo M, após a atriz Judi Dench ficar no papel por 7 filmes, ele assume o comando do MI6, que é tão bom quanto Judi e que venham mais 7 filmes para Ralph. Dave Bautista é o capanga de Oberhauser e ele não só é uma ameaça ao James Bond como ele protagoniza duas das melhores cenas do filme: uma perseguição de carro pelas ruas de Roma e uma luta no trem. Para quem não sabe, ele é o Drax em ‘Guardiões da Galáxia’ e parece que Hollywood o descobriu como um novo “brucutu” simpático, coisa que Schwarzenegger e Stallone um dia foram.

            Dois outros grandes destaques são o Q, vivido por Ben Whishaw, repetindo seu papel de nerd de Skyfall, mas, desta vez, com muito mais espaço em cena. Ele consegue ser um alívio cômico que funciona, sem cair no “nerd esquisito” e sem quebrar o ritmo da história.

            Outro ator que se destaca é Andrew Scott que também faz uma espécie de vilão, o arrogante C, que quer acabar com os serviços do MI6 e aprova um projeto para que os agentes sejam substituídos por drones e robôs.

            É difícil dizer sobre Monica Bellucci, já que ela tem pouco tempo de tela – embora seja uma aparição importante para a trama.

            Como em todo e qualquer filme da franquia, tudo começa com uma cena de ação para depois subirem os créditos iniciais e começar a história principal. E os primeiros 15 minutos de 007 Contra Spectre são espetaculares: tudo se passa na Cidade do México, em um desfile do chamado “dia dos mortos”, na qual James Bond está à procura dos responsáveis da morte de M no filme anterior. Há um plano-sequência magnífico com uma câmera acompanhando o herói e uma dama subindo todo um prédio de elevador e terminando em um quarto de hotel.

            Parece que é fácil, mas é dificílimo fazer isso: o diretor tem que pensar em todos os detalhes, em todos os figurantes e no tempo de tudo, já que não há cortes e a cena deve acontecer de uma única vez.

            Ainda bem que 007 Contra Spectre estava em boas mãos com um grande diretor como Sam Mendes, vencedor de Oscar por Beleza Americana e que também fez o ótimo ‘Estrada para Perdição’.

            Após isso, há uma cena de ação grandiosa com um helicóptero dando voltas no ar aos olhos de uma multidão assustada e terminando na morte do vilão.

            Quando o filme “começa” de fato, James Bond precisa destruir uma organização chamada Spectre (muito conhecida pelos fãs da franquia), liderada por Oberhauser.

Paralelamente a isso, M não gostou de James ter agido por conta própria na Cidade do México e com a ameaça de C, começa a questionar da importância dos agentes 00 e teme por Bond fazer algo sem sua permissão.

            É basicamente a mesma questão de Skyfall, na qual o filme questiona o tempo todo se os agentes de campo estão ficando obsoletos ou não.

            Mas, se a temática é idêntica, qual a necessidade de se fazer este filme? Primeiro, lá em Skyfall a discussão é sobre o MI6 em si e sobre a obediência do agente, ao passo que aqui a discussão é sobre tecnologia e como a máquina pode substituir o homem – ou não. Segundo que a franquia do 007 estava seguindo uma sequência e desde Cassino Royale, cada filme é a continuação do outro e essa “quadrilogia” estava abordando o lado mais dramático e psicológico do herói. Em Skyfall, por exemplo, não há uma Bond Girl, cena de sexo (como há em todos os filmes) e nem mesmo a famosa abertura com a música clássica e o tiro na tela.

            Já aqui, embora tenha uma carga dramática alta, o filme retoma aos filmes clássicos, na qual o herói era o galanteador, combatia vilões megalomaníacos e sempre bebia antes de salvar o mundo. E há sim, cenas de cama, uma com Monica Bellucci e outra com Léa Seydoux (e a química dos dois é muito boa).

            Mas isso pode não ser um retrocesso como se imagina. Esses 4 filmes mais intimistas foram importantíssimos para a franquia ganhar fôlego e o público voltar a se interessar pelo agente secreto, mas 007 Contra Spectre deixou claro que este é um ciclo se se encerra e a franquia está longe de acabar: podem escolher um novo ator para viver o James Bond e a história ter um novo recomeço, desta vez com o 007 que aprendemos a ver e apreciar. E sem medo do politicamente correto.

Nota: 9,0

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