Quiz Show – A verdade dos bastidores (Quiz Show)
Direção: Robert Redford
Ano de produção: 1994
Com:
Rob Morrow, Ralph Fiennes, John Turturro, David Paymer, Martin Scorsese, Paul
Scofield, Mira Sorvino, Barry Levinson, Ethan Hawke.
Gênero: Drama
Classificação Etária: LIVRE
‘Quiz
Show’ é hollywoodiano, mas poderia ser muito bem brasileiro
Não é de hoje que a opinião pública questiona a
veracidade do conteúdo da TV, em especial dos canais abertos. Mas, estamos em
2014, bombardeados de informações para todos os lados e questionar de forma
mais aberta e íntegra se torna mais viável. Mas, no final dos anos 1950, isso
era impensável. Enquanto aqui no Brasil a TV ainda engatinhava (ela chegara no
ano de 1950), nos EUA já estava consolidada como o principal meio de
comunicação daquele país. Era comum a família americana reunida em volta da TV
todas as noites e saboreando a programação. Era o símbolo do chamado “American
Way of Life”. O modo de vida americano é o novo sonho para as famílias desde o
final da 2ª Guerra Mundial, quando o país se saiu vitorioso.
Neste cenário, a TV tinha a obrigação de entreter seu
povo. Havia notícias, filmes e séries, mas existia um estilo de programa que
logo se tornou febre e as famílias salivavam quando anunciava que a atração
iria começar, que eram os programas de perguntas e respostas.
Nos canais mais alternativos existia sim, esse tipo de
programa, mas ele se tornou popular com o grande sucesso “21”, na rede NBC.
O programa era visto por 50 milhões de lares e consistia
em um confronto entre dois participantes em que as perguntas eram diversas e
difíceis. Quem ganha, continua para a semana seguinte. Quem perdesse, estava
fora e no filme somos apresentados a Herbie Stempel (papel de John Turturro),
que está invicto há 11 semanas. Mas, Herbie começa a incomodar os produtores do
programa devido ao seu temperamento e logo a produção começa a procurar um
substituto para “vencedor” do programa. E a pessoa ideal encontrada é a
professor universitário Charles Van Doren (vivido por um inspirado Ralph
Fiennes). Ele é charmoso, carismático, inteligente e logo se torna uma celebridade
da noite para o dia.
Charles ficou invicto no programa por 14 semanas e ganhou
muito mais do que ganharia dando aula. Todo esse glamour do programa chama a
atenção do investigador Dick Goodwin (Rob Morrow, ótimo no papel!), que logo
descobre que o programa é manipulado e as perguntas são combinadas entre a
produção do programa e o participante e começa a investigar e descobrir as
sujeiras por debaixo dos panos.
O filme de Robert Redford possui diálogos poderosos e
conta uma história que precisava ser colocada em tela. Mais do que isso, é um
retrato muito sério e correto sobre um episódio que marcou uma época, além da
brilhante reconstrução, fruto de uma Direção de Arte e Figurinos muito bem
cuidados.
Ao contrário de outro filme ácido sobre a sujeira da TV, ‘Rede
de Intrigas’, de 1976, que é mais uma paródia levada a sério, aqui a coisa é
tratada com a seriedade que foi o tamanho de seu escândalo em atuações poderosas.
O quarteto de protagonistas é sensacional. Rob Morrow que é quase o mocinho da
trama. Ele investiga até as últimas conseqüências o que se passa por dentro da
emissora de televisão. Ralph Fiennes traz a imagem de homem poderoso e seguro
de si, mas, na verdade, é um peão nesse jogo de xadrez e jogo de interesses. John
Turturro é um sujeito que tenta bater de frente com o sistema, mas, se sente
impotente perante os poderosos. E já David Paymer, como o cínico e arrogante
produtor do programa, é concordante com a sujeira toda e é tão corrupto quanto
seu chefe, dono da emissora.
Até mesmo a pergunta que Herbie é obrigado a errar é uma
referência cinematográfica, quando cita dois vencedores de Oscar, do ano de
1955 e 1956, respectivamente, ‘Sindicato de Ladrões’ e ‘Marty’.
É interessante se analisarmos que esse caso é real e a
emissora em questão, a NBC, não foi responsabilizada por seus atos. Acontece muito
como no Brasil, há corrupção política e policial sim, mas, os meios de
comunicação, em especial, as emissoras, se denominam as intocáveis e perfeitas perante
o público. Mais do que isso, trazem uma pseudo-imagem de imparcialidade, quando
há muito interesse em jogo.
Questionar as informações que nos chegam é de fundamental
importância para a formação do senso crítico. No filme aqui, o dono da emissora
se protege quando confrontado sobre a idoneidade do programa, pois diz que sua
função é só entretenimento. Na verdade, mesmo programas com o intuito do show
bizz devem sim, fornecer o melhor para o povo, afinal, se a emissora é aberta
e, portanto, de domínio público, é de total obrigação fornecer algo idôneo e de
qualidade.
A frase que fecha o filme é arrepiante, cínica e reflete
todo o espírito de como funciona a lógica do pão e circo: “Não somos
criminosos, somos uma empresa. Ao fazer o que fizemos, foi feito pelo bem do
povo. Nós faturamos, os patrocinadores faturam, transmitimos conhecimento, e o
público se diverte. Todo mundo sai ganhando”.
E mesmo escolher uma pessoa charmosa como Charles Van
Doren para ser “herói nacional” é uma forma de cultivar o pão e circo, afinal,
o povo precisa de heróis e de pessoas para torcer e se identificar. Aqui no
Brasil, heróis do esporte aparecem de vez em quando, na maioria das vezes,
propagados pela mídia e tratados como deuses e intocáveis.
‘Quiz Show – A verdade dos bastidores’ merece ser visto
como objeto de estudo por pessoas comuns, jornalistas e estudantes de direito,
jornalismo e ciências políticas e sociais. E merece ser discutido depois em uma
mesa redonda por especialistas e leigos.
‘Quiz Show – A verdade dos bastidores’ foi indicado a 7
Oscars mas saiu de mãos vazias em 1995. Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado,
Ator Coadjuvante foram algumas delas. Foi ovacionado pela crítica, mas não deu
público.
E eu não poderia terminar esse comentário sem falar de
duas atuações especiais neste filme: o diretor Martin Scorsese faz muito bem o
papel de um sujeito cínico e temos também uma quase ponta de Mira Sorvino como
esposa de Dick. Mira ganharia seu Oscar no ano seguinte por ‘Poderosa Afrodite’.
Era uma atriz que prometia muito e a Indústria tratou de estragá-la em papéis
sem destaque nunca mais fazendo um filme digno de nota. Coisas da vida.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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