Garotas Selvagens
(Wild Things)
Direção:
John McNaughton
Ano
de produção: 1998
Com:
Matt Dillon, Kevin Bacon, Denise Richards, Neve Campbell, Robert Wagner, Bill
Murray.
Gênero: Suspense
Classificação Etária: 14 Anos
‘Garotas
selvagens’ suspense mal vendido e incompreendido
No final do século passado, vivemos uma febre de filmes
com a temática adolescente. Era impressionante como os hormônios juvenis foram
o palavra de ordem dos estúdios. Muito se deu devido ao sucesso da cinessérie
‘Pânico’, que começou em 1996. O filme logo se tornou um fenômeno e referência
para o gênero. Outro sucesso, que foi ‘Eu sei o que vocês fizeram no verão
passado’ não existiria sem o filme de Wes Craven. E não era somente no mundo do
terror essa febre, mas nas comédias também: todos queriam ser um novo ‘American
Pie’, que tratava sobre as descobertas sexuais de forma cômica.
O problema é que Hollywood (assim como o Brasil, também)
explora um tema até ele se tornar repetitivo, ou até vir a próxima febre, e
logo os filmes adolescentes se tornaram insuportáveis. Mesmo na época, era
tanto filme que o público alvo não se interessava. Isso explica porque filmes
muito interessantes, com histórias bem amarradas e que mereciam sim, uma
aceitação maior, tiveram rejeição do grande público, são eles: ‘Prova Final’,
de Robert Rodriguez, ‘Segundas Intenções’ e ‘Comportamento Suspeito’.
E o filme que falaremos aqui também está nessa linha, de
filmes que ninguém viu, foram um fracasso de bilheteria, e nem mesmo no Home
Video foram descobertos. Este é o exemplo de ‘Garotas Selvagens’, filme que
trazia nomes muito conhecidos.
E como se não bastasse a não-aceitação popular, o filme
ainda foi mal vendido. O trailer e esse título inútil traziam a idéia de algo
mais erótico. Existem os momentos ousados sim, mas aqui o centro de tudo é a
trama policial e de segredos e mentiras.
‘Garotas Selvagens’ conta a história de um professor
chamado Lombardo (Matt Dillon), que é acusado de estuprar uma aluna, Kelly Van
Ryan (Denise Richards), que é pertencente a uma família poderosa dos EUA. O
caso choca a opinião pública e chama a atenção da mídia.
O filme começa como qualquer outro do gênero, dentro de
uma escola, com os estereótipos e interesses, mas, depois que a trama central
se desenrola, a coisa fica mais adulta e, com um cuidado melhor na realização,
poderia ser épica.
Há duas coisas que merecem destaque: quando acompanhamos
as acusações de estupro: o tratamento da mídia em escândalos. Aqui no Brasil, o
que não faltam são exemplos de casos que chocam a opinião pública e a imprensa
faz questão de sensacionalizar e promover a arte do espetáculo, além de criar
vilões e fazer o papel de jurada e dona da verdade. Outra coisa é como a
justiça pode ser comprada e, infelizmente, de cega não tem nada. A personagem
da Denise Richards usa do poder de sua família para incriminar seu professor,
que tem a renda baixa, e seus pais a tratam de forma mimada. A casa do
professor é apedrejada e sua vida pessoal e acadêmica pode nunca mais ser a
mesma.
Tudo isso é no primeiro ato do filme. Depois da segunda
metade da história e com o resultado do julgamento decidido, o filme muda
completamente de temática e se torna mais cínica e não menos interessante. A
história foi traçada para enganar o espectador e iludir a platéia para os atos
finais.
E é exatamente isso que torna ‘Garotas Selvagens’ um
suspense eficiente. Além de levantar todas essas questões durante a primeira
hora, depois temos a sensação de não confiar em nada nem ninguém, todos podem
ser vendidos e nada é o que parece ser.
Na época do lançamento, os rostos mais conhecidos pelo
público eram o de Bill Murray, fazendo o advogado de Lombardo, e Kevin Bacon
(que também trabalha aqui como produtor), mas tem rostos novos, que hoje estão
esquecidos pela Indústria: Matt Dillon estava em alta pelo sucesso de ‘Quem vai
ficar com Mary’ e, embora ele não convença como professor, o resultado final de
seu Lombardo foi até que satisfatório. Denise Richards, que parecia ser uma
grande promessa e, no ano seguinte, seria a Bond Girl em ‘007 – O mundo não é o
bastante’, não é uma boa atriz, mas sua Kelly Van Ryan, que é uma patricinha
mimada, até que funciona. E Neve Campbell? Era musa de 11 entre 10 adolescentes
na época. Ela era justamente a Sidney de ‘Pânico’ e usaram seus momentos em
tela para promover o filme, bem como as poucas cenas ousadas dela, mas o tiro
saiu pela culatra. Até onde a memória alcança, seu último trabalho foi em um
episódio da série ‘Mad Men’.
Existem as poucas cenas ousadas sim, em ‘Garotas
Selvagens’. A cena de sexo a três, bem como a cena da piscina, são mais imaginativas
do que apelativas. E logo no começo, quando Denise Richards se insinua para seu
professor, que, pareciam gratuitas, mas fizeram todo o sentido para os
argumentos do filme.
Acho difícil que ‘Garotas Selvagens’ seja descoberto pelo
público atual, a grande maioria são atores esquecidos e com musas que
envelheceram mal nos anos seguintes. Eu mesmo quase me esquecia do filme, essa
crítica que escrevi se deu porque estava zapeando os canais na TV e, por acaso,
ele começaria. Mas, o que não pode é ser criticado sem ser visto.
Nota:
8,0
Imagens:
Trailer:
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