Ninfomaníaca – Volume 1 (Nymphomaniac)
Direção: Lars Von Trier
Ano de produção: 2013
Com:
Stacy Martin, Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Shia LaBeouf, Christian
Slater, Uma Thurman.
Gênero: Drama
Classificação
Etária: 18 Anos
A
odisseia sexual de Lars Von Trier.
Não tem jeito. O cinema de Lars Von Trier é para ser
amado ou odiado. E para embarcar em seu universo, é preciso conhecer seu
estilo. A câmera quase documental, a ausência de trilha sonora e, em alguns
casos, até ausência de cenários. O público em geral odeia e os críticos,
adoram. Trier é, portanto, um diretor para poucos.
Mas seus filmes têm seu público e por isso ele faz mais
filmes. Não é um grande público dos blockbusters americanos, mas é um público
mais diferenciado. E geralmente de 2 em 2 anos temos um filme dele.
O cinema de Trier é incômodo. Ele mostra o ser humano da
pior forma possível e sem censura e pudor. Daí ele ganhou a fama de diretor
alternativo. Mesmo uma obra comovente como ‘Dançando no escuro’ apresenta uma
forma sombria do ser humano.
Mas, se olharmos para sua grande biografia, nenhum outro
filme é mais polêmico, incômodo e provocativo do que seu projeto mais
ambicioso, ‘Ninfomaníaca’. Trier escreveu e dirigiu esse filme e foi filmado e
concebido para ter 5h30 de duração e de forma íntegra (!). Porém, os produtores
viram (e com razão), que ninguém teria paciência de ver um filme com tudo isso
de tempo por melhor que fosse. Além do mais, o filme continha sexo explícito e
exacerbado e poderia chocar ainda mais seu público. Com isso, Trier enxugou e
editou seu projeto para dois filmes de duas horas.
Porém, “editado” não significa contido. ‘Ninfomaníaca –
volume 1’ é um filme denso, para poucas pessoas e muito, mas muito ousado.
Na história, uma mulher, Joe, vivida pela sempre ótima Charlotte
Gainsbourg é encontrada espancada em um beco e é resgatada por um homem mais
velho, Seligman (Stellan Skarsgard). Ela começa a contar sua história de vida e
deixa claro que não é uma boa pessoa e tem fixação por sexo. Como ela mesma se
autodenomina, ela é uma ninfomaníaca.
Dá para fazer uma alegoria com outro grande projeto de
outro grande diretor que dividiu seu filme em duas partes: ‘Kill Bill’, de
Quentin Tarantino. Lá, tínhamos uma história relativamente simples, mas que o
diretor quis uma temática mais profunda. E aqui não é diferente, temos uma
história muito simples, que em qualquer cine privê passa, mas que Trier gostou
tanto de escrever esse roteiro que tratou a coisa de maneira mais profunda.
O filme é narrado em capítulos, contando desde a infância
de Joe, com as descobertas sexuais de seu corpo e do mundo em geral, passando
pela relação carinhosa com seu pai, até sua adolescência, mostrando sua
primeira vez até as aventuras sexuais da adolescência. A cena em que ela aposta
com uma amiga com quantos homens ela consegue ter relações em uma viagem de
trem, terminando com um sexo oral em um milionário, é o ápice de tudo isso.
Se na grande maioria das cenas temos a ausência de trilha
sonora e tomadas longas de diálogos, quando se tem música, ela é arrebatadora.
Nas cenas de descoberta de Joe, logo no início, Trier usa a mesma música que
Kubrick usa na relação entre Tom Cruise e Nicole Kidman em ‘De olhos bem
fechados’, e quando Joe se assume ninfomaníaca no trem, o rock pesado como pano
de fundo faz todo o sentido.
O elenco de apoio está formidável. Uma Thurman e
Christian Slater, muito famosos nos anos 1990 estavam sumidos e estão bem no
papel. Até Shia LaBeouf (o mocinho dos três primeiros filmes de ‘Transformers’)
convence no seu papel, de início como o sujeito que tira a virgindade de Joe, e
depois, diretor provisório da empresa do tio.
E mesmo com todas as qualidades já citadas, como roteiro
e a direção de Trier, ‘Ninfomaníaca – volume 1’ seria um desastre total se não fosse
o papel sublime e espetacular de Stacy Martin, que vive a Joe na adolescência.
Ela é linda e ótima atriz! E é apenas uma iniciante atuando. E sua beleza
inocente e pervertida é também parte da personagem. Aliás, é uma coisa que define
muito uma grande atuação, quando não se precisa de tantos diálogos e um olhar e
expressão definem a personagem. Tanto o olhar de mocinha apaixonada tanto seu
olhar sedutor. Somente o conteúdo denso do filme explica o porquê essa menina
não foi indicada a prêmios. No que depender desse papel, essa menina tem um
grande carreira pela frente.
E Lars foi inteligente em contratar uma atriz novata e
desconhecida. O papel é ousado, com cenas de sexo e nudez sem censura e uma
atriz consagrada com certeza teria mais repulsa a um papel desses e exigiria
mais. Já imaginou uma Jennifer Lawrence em um filme desses?
Os críticos adoraram o filme, mas o público não. Muita
gente acusa o filme de pornográfico e frio. Discordo. O filme conta a
trajetória de uma mulher, tentando se descobrir e conhecendo-se. E como Lars
gosta de filmar como uma vida real, as aventuras sexuais fazem todo o sentido.
Nesse volume 1, além de contar a infância de descobertas
de Joe, o filme ainda passa pelo início da vida profissional da moça (e seu
chefe é o mesmo sujeito que tirou sua virgindade) e quando ela se torna uma
destruidora de lares. Aliás, esse é o melhor momento do filme, os momentos da
família do sujeito, com os filhos e a esposa traída, vivida por Uma Thurman, no
apartamento de Joe, contém diálogos poderosos e hipnotizantes.
Ah, mais duas curiosidades. O trailer desse filme passou
em uma sessão de ‘Frozen – uma aventura congelante’ em um cinema
norte-americano, para o constrangimento geral e pais desesperados. E nos
créditos finais deste filme, somos apresentados às imagens de ‘Ninfomaníaca –
volume 2’. No que depender das cenas, o desfecho será primoroso.
Nota:
9,0
Imagens:
Trailer:
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