Hércules
Direção: Brett Ratner
Ano de produção: 2014
Com:
Dwayne Johnson, Ian McShane, John Hurt, Joseph Fiennes, Rufus Sewell.
Gênero: Ação
Classificação Etária: 14 Anos
Só a
indústria hollywoodiana explica ‘Hércules’.
Injustiçado para uns e sem critério para outros, mas, é
quase impossível ficar indiferente em relação a um cineasta tão polêmico quando
Brett Ratner. Ele é o diretor da trilogia ‘A hora do rush’, mas, seu trabalho
mais conhecido (e mais ambíguo) foi em ‘X-Men 3: O Confronto Final’. Muita
gente diz que ele não é autoral e faz tudo o que o estúdio determina e seus
filmes são, na verdade, de produtor. Em parte, isso é verdade, embora ‘X-Men 3’
seja um filme feito nas pressas e a Fox praticamente desprezou a grande
história que tinha nas mãos, o resultado foi até satisfatório, menos por culpa
de Ratner, mas, pela grande história com os mutantes.
E, no caso de ‘Hércules’, seu novo filme, ficou claro que
se trata sim, de um filme de produtor. Em tomada nenhuma desse filme há algum
indício de que teve a mão de um cineasta ou do roteirista. Aqui, é um filme
feito pelo estúdio e com a palavra final dos, digamos, engravatados de
Hollywood.
Não que eu seja contra os produtores em Hollywood, muito
pelo contrário, em filmes de orçamento milionário, o resultado só é possível
com muito recurso dos estúdios e investimento de produtores, mas, alguns
detalhes, como o timing dos atores e uma história consistente dependem de quem
entende de cinema. Os bons filmes da Marvel e a biografia de Christopher Nolan
estão aí para comprovar.
As adaptações estão em alta em Hollywood e essa grande
história do semideus Hércules, filho de Zeus, não deveria ficar esquecida para
a cultura pop atual. A primeira adaptação para Hércules se deu em 1958 pelo
cinema italiano, mas logo Hollywood se mexeu e adaptou para uma famosa série de
TV dos anos 1990 e em 1997, com uma grande animação da Disney.
De lá para cá, a mitologia grega ficou em alta, em
especial no grande ‘Tróia’, com Brad Pitt e a adaptação das HQs de Frank
Miller, ‘300’, que mudou muito a forma de como enxergamos adaptações de
quadrinhos e estilizou uma fotografia mais sombria, respeitando a linguagem
cinematográfica. Aliás, visualmente, esse novo Hércules é idêntico a ‘300’.
A abertura de ‘Hércules’ é espetacular e parecia que a
coisa seria bacana. Primeiro, somos jogados e seu nascimento e infância. Depois
temos a cena em que ele salva seu sobrinho de uma tortura, contra 40 homens.
Tanto as batalhas, como os trejeitos do herói, definem o personagem para
sempre. Até para uma possível franquia (?).
O problema é que, depois o filme desanda. O roteiro é
cheio de pontas soltas e situações mal explicadas, em especial em relação à
morte de sua família. Ao longo do filme, nosso herói tem alucinações com a fera
de 3 cabeças e a morte de sua esposa, mas, depois, quando descobrimos o motivo
real dessas alucinações, é uma explicação tão rasa e rápida que dificilmente a
platéia se envolverá emocionalmente.
O nosso Dwayne Johnson, o “The Rock”, é um ótimo ator de
ação, embora péssimo ator dramático. E seu Hércules lhe caiu muito bem.
Percebe-se seu esforço (tanto físico quanto psicológico) para entregar a seu
público o melhor papel possível. Ele treinou exaustivamente, enfrentou um forte
calor em Budapeste com a armadura grega e ainda leu muito sobre a mítica do
personagem (sim, “The Rock” é muito inteligente), mas, sem um olhar mais
autoral do diretor, seu papel ficou vazio como uma natureza morta.
Aliás, este não é bem um filme sobre Hércules. Conforme o
filme vai evoluindo, ele lidera o exército do rei Cótis, e, ao lado se seus
aliados, vingar a morte de sua família e conquistar a Trácia. Porém, o filme
explora mais o reino de Trácia e do rei Cótis e Hércules se torna coadjuvante
de sua própria história. O que deveria ser o diferencial para o filme, em
mostrar a história de um semideus extremamente forte, se torna um filme comum
na nossa época: o bem contra o mal, batalhas intermináveis e um drama sem
consistência, assim como sua mitologia.
Todo o elenco de apoio está mal desenvolvido, até mesmo
alguns atores consagrados: John Hurt, como o rei Cótis, é um vilão sem carisma
nenhum, assim como seu “parceiro”, Euristeus, vivido por Joseph Fiennes (de
Shakespeare Apaixonado) – e é impressionante como Joseph atua mal.
E até uma característica que deveria ser um ponto alto
para o filme, que é a computação gráfica, está mal feita. Como se não bastasse,
a fotografia quase plagiada de ‘300’, como já citado, aqui temos personagens
digitais mal feitos, que de tão artificiais, provocam mais risos do que tensão
na platéia. e isso fica mais claro nas cenas com a câmera por cima, em especial
nas grandes batalhas.
É certo que o filme queria conversar com as novas
gerações, apesar de falar de uma época que se passa antes de Cristo, mas,
pressionar um roteiro mais pop é forçar a barra.
O filme não se assume como cultura pop, nem como feito
histórico, e com o resultado negativo das bilheterias americanas, estamos
livres de uma continuação. Pelo menos, um alívio.
Nota:
4,0
Imagens:
Trailer:
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