Spotlight – Segredos
Revelados (Spotlight)
Direção:
Tom McCarthy
2015
Com:
Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, John Slattery, Liev Schreiber,
Stanley Tucci, Billy Crudup, Brian D’Arcy James.
Drama
14 Anos
Uma
aula de cinema – e de jornalismo
No ano de 2001 uma equipe de jornalismo do Boston Globe,
conhecida como Spotlight, fez uma investigação sobre as denúncias que os padres
das igrejas daquela cidade estariam praticando pedofilia com as crianças. Na
verdade, a Igreja já havia sido denunciada no passado, mas a instituição
católica colocou tudo por debaixo dos panos e conseguiu “acordos” com as
vítimas.
Mas o jornal estava disposto a levar a investigação até
as últimas consequências, pressionando os poderosos e coletando depoimentos das
vítimas.
E o resultado foi mais chocante do que o esperado: foram
mais de 80 padres, só na cidade de Boston, que estavam ligados de forma direta
aos escândalos. Nem os atentados de 11 de setembro inibiram as investigações. A
equipe do jornal recebeu o Prêmio Pulitzer sobre as matérias e o jornal ganhou
mais credibilidade do que já tinha.
Essa é a história de ‘Spotlight – Segredos Revelados’,
que estreou sem fazer barulho no ano passado nos EUA, já vem colecionando
críticas positivas e está chamando atenção das premiações – ele deve ir ao
Oscar deste ano.
E o filme merece todos os elogios possíveis: ‘Spotlight –
Segredos Revelados’ é uma grande homenagem ao jornalismo investigativo, muito
na linha de ‘Todos os Homens do Presidente’ (que, curiosamente, está completando
40 anos em 2016) e extraiu toda a urgência do escândalo.
Quem quer um programa de cinema para se divertir deve
procurar em outra sala de exibição. Aqui é cinema sério, de gente grande e na
sessão de cinema que este que vos fala estava, não houve uma única risada por
parte da plateia.
Mas ‘Spotlight – Segredos Revelados’ está muito longe de
ser considerado chato. Ou não. O grande público pode sair do filme e dizer que
ele é “muito parado”, já que, dentro da história, não é uma grande reviravolta
e tudo é feito de forma linear. E olha que algum momento dramático poderia
passar com toda a pieguice.
E mesmo se tratando de um filme sobre a pedofilia da
igreja, este não é um filme sobre religião. Ele não aponta o dedo na população
católica e os culpa sobre a pedofilia, o filme vai onde os poderosos estão,
mostra o quanto a igreja como instituição usa argumentos religiosos em
benefício próprio e mais do que isso, o filme nos mostra o quanto a fé humana é
um tabu: derrubar um escândalo em uma instituição religiosa é muito mais
difícil do que derrubar algo relacionado à política ou à uma empresa. E tudo
isso porque ainda somos intolerantes quando à religião: a equipe de jornalismo
pode muito bem ser vista aos olhos dos religiosos como “hereges” ou coisa do tipo.
Alguns integrantes da equipe inclusive têm a formação católica, mas trabalho é
trabalho.
Mas mesmo sendo um filme mais “pé no chão”, ‘Spotlight –
Segredos Revelados’ jamais cansa o espectador, muito pelo contrário, cada
revelação, cada descoberta da equipe é algo que vai avançando e chegando mais
perto de desmascarar os responsáveis e tudo isso com um belo trabalho de
montagem e edição (que também devem ir ao Oscar) que tornam o filme mais
dinâmico e atraente a cada tomada. Por exemplo, no mesmo espaço de tempo, há um
personagem entrevistando uma vítima, no outro, entrevistando um advogado, no
outro, um padre, e no outro tem um jornalista na redação coletando provas.
E tudo isso com um roteiro primoroso do próprio diretor
Tom McCarthy e de Josh Singer (que já tem essa veia investigativa, ele escreveu
alguns episódios de ‘The West Wing’ e o filme ‘O 5º Poder’), que nos agracia
com diálogos instigantes, imparciais e diretos no que eles têm a dizer, sem as
firulas hollywoodianas e respeitando a inteligência do espectador. Até a trilha
sonora é contida. ‘Spotlight – Segredos Revelados’ é, portanto, um filme de
roteiro e direção, não um filme de produtor.
E o elenco aqui é excelente. É uma grande prova de que um
filme para ser bom não precisa chamar os melhores atores do mundo, desde que se
tenha um diretor que saiba trabalhar com atores. São ótimos atores sim, mas não
há nenhuma estrela e ninguém quer aparecer mais do que o filme.
Michael Keaton é o líder da equipe e às vezes têm que
tomar decisões que não agradem a todos, embora tenha intenções boas. Mark
Ruffalo é o que mais se envolve emocionalmente com a investigação. Rachel
McAdams é o grande equilíbrio entre jornalista competente e imparcial, mulher
forte e ao mesmo tempo feminina e mora com a avó, que é religiosa devota.
E todo o elenco de apoio está sensacional: John
Slattery, Liev Schreiber, Stanley Tucci, Billy Crudup e Brian D’Arcy James.
Seja você católico,
evangélico, judeu ou ateu, ‘Spotlight
– Segredos Revelados’ é um filme para todos, justamente por tratar o caso com
imparcialidade e de não ofender a fé – ou falta de fé – de ninguém. Não vá ver
o filme com a cabeça de “todo católico é pedófilo” ou “o filme é uma heresia”,
vá com a cabeça de uma denúncia com a pedofilia, que não é exclusiva das
religiões, é um crime e quem a pratica deve ser punido sim.
A pedofilia, como prática de estupro, pode deixar
consequências físicas, mas as psicológicas dificilmente são superadas e isso
‘Spotlight – Segredos Revelados’ retrata muito bem com os relatos das vítimas e
assim como qualquer vítima de estupro, fica constrangida, não recebe o apoio
das autoridades, que deviam apoiar e em muitos casos até a família a
discrimina. E neste caso específico da pedofilia na igreja, há relatos de
vítimas que não receberam apoio de ninguém por estar “ofendendo um homem de
Deus”, afinal, é a palavra de um sacerdote respeitado pela sociedade contra uma
criança perturbada. E qual criança teria coragem de dizer aos pais que iria
abandonar uma vida religiosa porque foi abusada?
É um
tabu que estamos muito longe de quebrar.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
Muito boas fotos. Um dos elementos que eu mais gostei foi o elenco, especilamente Michael Keaton. Falar dele significa falar de uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. O mesmo aconteceu com sua última produção sobre a historia do McDonalds, para mim é um dos grandes filmes de Hollywood. Se vocês são amantes do trabalho do ator este é um filme que não devem deixar de ver. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.
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