Os 8 Odiados (The
Hateful Eight)
Direção:
Quentin Tarantino
2015
Com:
Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Michael
Madsen, Tim Roth, Demian Bichir, Bruce Dern, Channing Tatum.
Western
18
Anos
O
cinema precisa de Tarantino
Os 8 Odiados, o 8º filme de Quentin Tarantino, quase
deixou de existir, pois o roteiro do filme vazou, causou a ira de Tarantino,
mas depois, felizmente, ele voltou atrás.
Não se trata do melhor filme dele, Bastardos Inglórios e
Django Livre são melhores, por exemplo, mas todas as marcas dele estão aqui:
personagens com intenções duvidosas, violência quase gratuita e estilizada e
nada é o que parece ser.
Quentin Tarantino foi na contramão de Hollywood, na qual
todo mundo filma em formato digital, ele filmou ‘Os 8 Odiados’ em 70mm, o que
fica muito visível no início, com uma bela direção de arte, que se passa na
neve, com vários planos abertos e uma riqueza em detalhes do cenário. Depois o
filme se passa basicamente todo em um único lugar, chegando a ser
claustrofóbico, mas quem disse que não apresenta um bom uso da câmera? Alguns
planos dentro do mesmo cenário são abertos e enquanto um personagem faz algo no
centro, outro faz algo de relevante em uma ponta, e por aí vai.
É fácil comparar ‘Os 8 Odiados’ com o último trabalho de
Tarantino, Django Livre, pois se passa no Velho-Oeste e o racismo também é um
dos temas do filme. Mas seu filme mais parecido com este é justamente seu
primeiro, ‘Cães de Aluguel’, afinal, grande parte do filme se passa em um único
ambiente e todos os 8 envolvidos estão ali. E para variar, nada é o que parece
ser.
‘Os 8 Odiados’ conta a história de um carrasco chamado
John Ruth (Kurt Russell, ótimo!) que está transportando uma prisioneira, Daisy
Domergue (Jennifer Jason Leigh, que merece ir ao Oscar de Atriz Coadjuvante)
para uma cidade e pegar uma recompensa, mas surge no caminho um caçador de
recompensa, Marquis Warren (Samuel L. Jackson, em seu melhor papel desde Pulp
Fiction) que também quer ir à mesma cidade e também surge Chris Mannix, que
também quer carona para a mesma cidade, pois, segundo ele, será coroado xerife
do local.
Como as condições da neve pioram, eles decidem passar uma
noite em um armazém e ir à cidade de dia e todos os acontecimentos do filme se
desenrolam dentro desse armazém (daí se explica porque o filme é
claustrofóbico).
‘Os 8 Odiados’ é dividido em 6 capítulos, na qual os dois
primeiros se passam na neve e os seguintes na casa. Durante esses dois e na
maior parte do 3º, o filme é basicamente 100% de diálogos, e o clima de tensão
vai se instalando até o 5º capítulo, na qual tudo é explicado e todas as peças
se encaixam.
O filme deve incomodar os desavisados por 2 motivos: 90%
são diálogos e 10% é a violência sem pudor, o que pode irritar o grande público
acostumado com a ação hollywoodiana. Portanto, se você não conhece o cinema de
Tarantino, não é recomendável começar por este filme aqui, talvez por
‘Bastardos Inglórios’, que é seu filme mais dinâmico.
Outro motivo é que estamos na sociedade do politicamente
correto e tudo pode ser um insulto e há diversas piadas sobre negros e
violência contra a mulher. O que deve ser levado em conta é que Tarantino não é
racista nem machista (e já provou que não é em outros trabalhos) e estamos
falando de um filme que se passa no século XIX e na época ser racista era até
um direito religioso (sim, para quem não sabe, Lincoln teve briga com a Igreja
quando aboliu a escravidão) a mulher era uma propriedade do marido e não tinha
direito nenhum. Hoje sabemos que todos têm direitos, mas na época, isso não
acontecia.
É importante avisar isso antes que alguns grupos venham
protestar e boicotar o novo filme do Tarantino.
Na verdade, o que ele faz aqui é justamente uma crítica à
sociedade da época, assim como fez em ‘Bastardos Inglórios’ e ‘Django Livre’.
Mas, para quem aprecia um bom roteiro, vai se deliciar
com ‘Os 8 Odiados’, que é muito delicioso de se ver e acima do roteiro, é um
filme que privilegia os personagens. Todos os 8 estão incríveis em seus papéis:
Samuel L. Jackson faz um caçador que matou vários
soldados brancos na guerra e está sendo perseguido. Ele tem um monólogo no 3º
capítulo que é digno de Oscar.
Kurt Russell é um grande personagem que praticamente tem
os dois primeiros capítulos só para ele e embora ele divida a tela com mais
gente conforme o filme avança, seu personagem fica mais mítico a cada tomada.
Walton Goggins faz um sujeito cínico e irresistível ao
mesmo tempo e que provoca amor e ódio na plateia em fração de segundos. Se vier
a indicação para Ator Coadjuvante, será mais do que justo.
Jennifer Jason Leigh está longe das mulheres fortes da
Hollywood atual, mas está completamente maluca como Daisy e consegue atrair a
plateia só com olhar e trejeitos. Ela deve ir ao Oscar de Atriz Coadjuvante e
também é merecido, já que desde ‘Weeds’ e ‘Mulher Solteira Procura’ ela não
fazia algo digno de nota (olha o Tarantino revitalizando carreiras novamente!)
Esses são os principais no elenco, mas todos têm sua
importância: Tim Roth, Bruce Dern, Michael Madsen, Demian Bichir e até Channing
Tatum está bem.
Tudo aqui é incrível, o trabalho de edição, de montagem, de
fotografia e a trilha sonora incrível de Ennio Morricone, tudo parece uma
viagem ao cinema dos anos 60.
Em um mundo em que a palavra do produtor é a final, é
mágico ver que ainda temos espaço para um trabalho autoral, que pode doer nos
mais conservadores, mas foram os autores que salvaram Hollywood no fim dos ano
1960, que, vejam só, é onde estão as referências de ‘Os 8 Odiados’.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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