Marvel: Jessica Jones - 1ª temporada
Criada por: Melissa Rosenberg
2015
Com: Krysten Ritter, David Tennant,
Rachael Taylor, Mike Colter, Carrie-Anne Moss, Eka Darville, Erin Moriarty, Wil
Traval.
Ação
14 Anos
É a
mesma Marvel dos cinemas – só que diferente
Em abril desse ano estreou a série do Demolidor. Foi a
primeira parceria entre a Marvel e a Netflix. A casa das ideias já está
consolidada com o seu universo nos cinemas e agora está expandindo isso para a
TV.
Tudo começou em 2013 com a estreia de Agents of Shield no
canal ABC, que teve uma primeira temporada que dividiu opiniões, mas que se
acertou no final daquela temporada, teve um segundo ano excelente e está tendo
um terceiro ainda melhor. Em janeiro deste ano, durante o hiato de Shield,
estreou a série da Agent Carter, que se passa após os acontecimentos de
‘Capitão América – O Primeiro Vingador’ e foi elogiada por público e crítica.
E agora, em novembro de 2015, chega no serviço streaming
a segunda série da parceria Marvel/Netflix: Jessica Jones.
Essa parceria também promete entregar a série do Luke
Cage e de início a ideia também era uma série do Punho de Ferro, mas os
produtores gostaram tanto do trabalho de Jon Bernthal como Justiceiro na 2ª
temporada de Demolidor que estão com a ideia da série própria do herói e o
Punho de Ferro ganharia um filme – e tudo isso culminando na série dos
Defensores, que seria o “núcleo urbano” da Marvel.
Se nos cinemas a casa das ideias trabalha com heróis
fantásticos e poderosos, nas séries eles trabalham com personagens mais reais e
humanos. A própria Agente Carter não é nenhuma super-heroína, mas tem um papel
fundamental na história do Universo Marvel.
Outra grande diferença entre as séries e filmes é que ao
passo que vemos filmes com a violência moderada e nunca realista, nas séries (ao
menos as da Netflix) o que vemos é um retrato violento e sombrio de Nova York.
Isso em Demolidor ficou muito claro – e foi um diferencial importantíssimo –
mas aqui em Jessica Jones a coisa vai além: em momento algum a série indica que
se trata de um universo de super-herói, já que consegue ser ainda mais
violenta, sombria e realista do que Demolidor. E mais ousada também: há muito
conteúdo sexual e as cenas de sexo são mostradas sem pudor e sem culpa – o que
é muito bom para mostrar que quadrinho não é coisa apenas de criança, há várias
publicações para o público adulto e quem ainda associa HQs à infantilidade, ou
não conhece o universo dos quadrinhos ou é mal intencionado.
Jessica Jones é baseada na série de quadrinhos Alias, de
2001, escrita por Brian Michael Bendis e desenhada por Michael Gaydos e
mostrava o dia-a-dia da agência Alias (que no Brasil ganhou o nome de
“codinome”, que também tem esse nome da série) e sua principal investigadora:
Jessica Jones, que é órfã, foi viver Trish Walker, que se tornou sua melhor
amiga e lida com os demônios internos de seu passado e com seus poderes, que é
sua força sobre-humana, que ela considera mais como uma maldição, sobretudo
após ela conhecer o vilão Kilgrave e ter um passado sombrio com ele: os dois já
foram amantes e nos tempos atuais ela ainda vive atormentada com suas
lembranças.
Kilgrave – ou Homem-Púrpura, como preferem os fãs de
quadrinhos, tem um poder muito peculiar: ele consegue que as pessoas façam o
que ele quiser. A única pessoa imune a isso é a própria Jessica, que conforme
vai passando a série – tanto das HQs como da Netflix – descobrimos o porquê da
obsessão que ele tem pela Jessica.
Todo o passado de Jessica vem à tona quando ela conhece o
Luke Cage, um herói que tem o poder de ser indestrutível e isso é mostrado na
série de forma brilhante e sem explorar demais (afinal, Luke vai ganhar uma
série própria) e descobre-se que Jessica assassinou a ex-esposa de Luke no
passado a mando – ou não – de Kilgrave.
O primeiro encontro de Luke e Jessica na série é idêntico
ao mostrado nos quadrinhos: ela toma um uísque no bar de Luke (ele é dono do
bar) e os dois vão para casa fazer sexo. A cena foi muito bem feita, envolvente
e o espectador acredita e torce pela relação dos dois e considerando que ainda
teremos série do Luke, ainda podemos ver o romance dar certo (nas HQs os dois
se casam e têm um filho) – embora que nas histórias de Alias, ela tenha
estudado com Peter Parker (sim, o próprio Homem-Aranha) e confessa ter uma
queda com ele. Considerando que o herói aracnídeo agora é da Marvel Studios,
esse triângulo amoroso unindo cinema e TV seria muito atraente.
As comparações com Demolidor são inevitáveis, já que é a
série do mesmo canal e no mesmo local: Hell’s Chicken, que é a periferia de
Nova York que ainda está afetada com os acontecimentos de The Avengers – Os
Vingadores, sem contar que ambos os heróis irão se encontrar lá na frente em
Defensores, mas deve-se tomar cuidado com as comparações pois os pontos de
vista são diferentes: ao passo que Demolidor era uma série de ação de fato,
mostrava a ascensão do herói e focava muito na corrupção, aqui temos uma
heroína em decadência e que o foco está mais em seu psicológico do que na cidade
em si, que raramente é citada ao longo da série.
Em tempos de debate sobre o feminismo e o lugar da mulher
na sociedade, Jessica Jones é a série certa e na hora certa: a questão do
feminismo é tratada de forma natural e sem estereótipos.
A própria Jessica não é uma heroína qualquer: ela bebe,
fala palavrão, mas não deixa de ser mulher. E ela se preocupa com as pessoas e
ainda tem o coração de uma heroína, tanto que o fato de ela ter uma vida
solitária e se afastar de amizade e relacionamento, é para a própria proteção
das pessoas que ela ama, sobretudo a sua melhor amiga, Trish, que é uma
ex-apresentadora famosa de rádio, e também tem o coração de super-heroína.
Trish é uma personagem que se torna mais interessante e
atraente com o passar dos episódios. De início ela pode parecer como uma
coadjuvante de luxo, apenas como a melhor amiga da protagonista (e tá cheio de
série assim), mas ela se torna peça fundamental na caça de Jessica ao seu
rival.
Ainda sobre a questão do feminismo, temos a personagem da
Heri, vivida por Carrie-Anne Moss (a Trinity de ‘Matrix’), que é melhor
advogada de Nova York, ou seja, tem uma carreira bem-sucedida, mas está de
divórcio marcado com uma médica e está envolvida com uma das suas funcionárias
(deixa alguém da “família tradicional” assistir isso).
Carrie-Anne Moss faz seu melhor personagem desde Trinity
exatamente por trazer a imponência que o papel exigia, ao passo em que ela é
destruída internamente.
Krysten Ritter (que virá ao Brasil para a Comic Con
Experience) interpreta de forma muito competente a Jessica Jones e também não
cai nos estereótipos de uma heroína sexualizada e consegue ser uma mulher forte
e ser feminina ao mesmo tempo.
Mas quem rouba mesmo a cena é David Tennant (que também
virá ao Brasil na CCXP). Tennant é o Doutor preferido da maioria dos fãs de
Doctor Who e a escolha dele para fazer o vilão Kilgrave foi certeira por 2
motivos: ele é um grande ator e como não é exatamente uma estrela
hollywoodiana, não custou muito para trazê-lo à série. Segundo que seu papel em
Doctor Who, que durou 3 temporadas, foi tão marcante que fica difícil não
associar o ator ao personagem e ele precisava de um papel forte.
Kilgrave só aparece a partir do 3º episódio e é mostrado
aos poucos, sempre de forma ameaçadora e sempre um passo à frente da Jessica.
Como já citado, seu poder é o de obrigar as pessoas a fazerem o que ele quer.
Há uma cena das HQs que foi alterada para a série, mas
que ficou muito melhor: nos quadrinhos, Kilgrave obrigava todos os clientes de
um restaurante a pararem de respirar, causando a morte de todos, mas na série,
o vilão obrigou os policiais em uma delegacia a apontarem arma uns aos outros e
a câmera dando uma visão geral da tensão do momento.
É impressionante como Kilgrave/Homem-Púrpura é um vilão
fascinante, mas não era famoso, mas agora tem a chance de ganhar fama com o
público em geral. Ele já é dos maiores vilões se juntarmos filmes e séries e
juntando Marvel e DC - e merece estar ao lado dos memoráveis Coringa, Magneto,
Loki e Wilson Fisk.
Os 13 episódios de Jessica Jones passam rápido e após o
término já fica a saudade. Em um ano tão positivo para a Netflix, com séries
maravilhosas e que dificilmente passariam em um canal tradicional, como Sense8
e a própria Demolidor, Jessica Jones entra na galeria das obras-primas do
serviço. E é, na opinião deste que vos fala, A Melhor Série Baseada em HQ da
Atualidade.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer: