Que Horas Ela Volta?
Direção: Anna Muylaert
2015
Com: Regina Casé, Camila Márdila, Michel
Joelsas, Karine Teles, Lourenço Mutarelli, Helena Albergaria, Luis Miranda,
Theo Werneck.
Drama
14 Anos
‘Que
Horas Ela Volta’ é o melhor filme brasileiro em anos
Desde um distante 1999, com ‘Central do Brasil’, que o nosso
país não vai ao Oscar de Filme Estrangeiro. Em 2004, um outro grande filme teve
chances de sair com a estatueta, desta vez em categorias “maiores”, inclusive a
de Melhor Diretor: Cidade de Deus, que até hoje é um dos filmes brasileiros
mais aclamados da história e sua montagem (que também foi indicada) é sempre
uma referência em escolas de cinema e em muitas outras obras. Os filmes da
Kathryn Bigelow estão aí para comprovar.
De lá para cá vimos os grandes Tropa de Elite se tornando
fenômenos pop, mas o que moveu a indústria nacional foram as comédias
televisivas, que gerou milhões para os estúdios (sobretudo a Globo Filmes), a
maioria das comédias foram destruídas pela crítica, mas o público adorou. O
problema é que esses filmes ocupam 80% das salas e engolem os filmes
independentes do nosso cinema, que, infelizmente, ficam restritos aos
festivais.
Mas, é glorioso quando um filme brasileiro independente
ganha destaque e é ovacionado por público e crítica: ‘Que Horas Ela Volta?’ é o
melhor filme brasileiro em anos, um grande exercício de reflexão, é
provocativo, comovente e acredite – ninguém sairá do filme da mesma forma.
‘Que Horas Ela Volta?’ conta a história de Val (Regina
Casé, no melhor papel de sua carreira) que trabalha como empregada domestica em
uma casa luxuosa em São Paulo e é basicamente sua única família, sobretudo na
figura de Fabinho (Michel Joelsas, o protagonista de ‘O Ano em que Meus Pais
Saíram de Férias’), o filho de sua patroa Bárbara e é seu grande laço materno.
Ela está há anos sem ver sua filha, Jéssica (Camila
Márdila, igualmente ótima), que está morando no Pernambuco e liga para sua mãe
avisando que se mudará para São Paulo para prestar vestibular de Arquitetura.
Mas a presença de Jéssica abala o ambiente da casa – para
o bem e para o mal – pois ela se revela uma moça inteligente e estudiosa, mas
se recusa a dormir no quarto de empregada de sua mãe, senta junto aos patrões
para comer, fica na piscina da família, dentre outras coisas.
O filme promove várias discussões: até quando vai a
relação entre patrão e empregado e até onde vão os limites de uma ordem e o
respeito. Val é uma empregada quase como da família, mas não pode fazer muita
coisa que seus patrões fazem – além de ter um quarto insalubre nos fundos da
casa.
Também a presença de Jéssica gera uma ambigüidade: será
que essa personagem fascinante é arrogante ou determinada? Ela não segue os
padrões porque tem vergonha da mãe ou porque ela quer crescer na vida? Ou mais
do que isso: ela não chama a mãe pelo nome porque não gosta dela ou pelo tempo
ausente?
O filme deixa essas perguntas o tempo todo, não dá
respostas prontas, deixando para o espectador tirar suas conclusões.
Regina Casé faz O papel de sua carreira, e não consigo
imaginar outra atriz em uma personagem tão cativante, verdadeira e humana. A
sua Val foge dos estereótipos e comove com sua sutileza, humildade e momentos
de quebrar o coração, tudo fruto de um roteiro primoroso e com uma montagem e
fotografia de encher os olhos.
Quem dirige e escreve o roteiro é a sempre ótima Anna
Muylaert, que começou lá em 2002 com Durval Discos, escreveu o roteiro de ‘O
Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, mas ‘Que Horas Ela Volta?’ é seu melhor
filme.
E apesar de Regina Casé estar ganhando um destaque
merecido pelo papel, o elenco de apoio também arrebenta: Camila Márdila é uma
revelação em pessoa, faz seu primeiro filme e ‘Que Horas Ela Volta?’ pode ser a
chance de uma carreira consolidada. Michel Joelsas faz seu melhor papel desde
‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’ e não devemos nos esquecer dos
patrões de Val, Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles).
‘Que Horas Ela Volta?’ merece mais do que a indicação ao Oscar
de Filme Estrangeiro: o roteiro maravilhoso e as atuações impecáveis de Regina
Casé e Camila Márdila (no caso, para Atriz Coadjuvante) também merecem
reconhecimento.
‘Que Horas Ela Volta?’ é um filme tão provocativo sobre
luta de classes e superação que pode assustar os conservadores da Academia – e ao
público norte-americano conservador. Mas não faz mal. A vida é assim mesmo.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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