Criada
por: Chris Brancato e Eric Newman
2015
Com:
Wagner Moura, Boyd Holbrook, Pedro Pascal, Juan Pablo Raba, Joanna Christie,
Stephanie Sigman, Gabriela de la Garza, Manolo Cardona, Ana de La Reguera, André
Mattos.
Drama
/ Biografia
18 Anos
Um “Tropa de Elite” colombiano de 10 horas
Já não é segredo nenhum que a TV
agora tem o efeito contrário do que era há 20, 30 anos: se antes era uma vergonha
para as celebridades irem para a TV, pois isto representava uma decadência de
carreira, agora é uma renovação e a chance de brilhar em uma nova mídia.
Esse fenômeno já estava acontecendo
com os atores, mas já faz pouco tempo que até diretores respeitados estão indo
para a TV: Martin Scorsese, Steven Spielberg, os irmãos Wachowski e agora o
brasileiríssimo José Padilha, diretor de Tropa de Elite 1 e 2 e do documentário
Ônibus 174.
Ele bem que tentou seguir o caminho
de Walter Salles e Fernando Meirelles e fazer uma carreira em Hollywood com o
remake de Robocop no ano passado e embora tenha feito um relativo sucesso, o
diretor reclamou muito da pressão dos executivos e que ele não teve liberdade
nenhuma para o projeto. Mesmo sendo um bom filme de ação, ficou claro que era
um filme de produtor, não do Padilha.
Mas, nada como voltar às origens e
ele fazer o que sabe de melhor: denúncia. E corajosa, sem as máscaras que a
imprensa brasileira e mundial tem ao mostrar o sistema como ele é por dentro.
Se Tropa de Elite 2 foi o auge
disso, agora isso é representado de forma mais global.
Ano passado foi anunciado que uma
série da Netflix sobre o Pablo Escobar estava sendo produzida, o que já nos
deixou otimistas, já que o canal, assim como a HBO, dá mais liberdade para os
autores realizarem suas obras e é possível ousar mais.
Não estou fazendo propaganda de
graça para a Netflix nem para a HBO, mas na grande maioria nos canais existe a
preocupação com patrocinadores e audiência, mas considerando que a HBO é uma TV
fechada e a Netflix é um serviço de streaming, isso não acontece. E essa
ousadia é clara se levarmos em conta uma série como Sense8, que não tem
vergonha nem pudor de mostrar quem é e jamais seria exibida em um canal aberto.
E não temos somente José Padilha de
brasileiro em Narcos, mas também temos o nosso Capitão Nascimento, Wagner Moura
como Pablo Escobar, o diretor de Fotografia é Lula Carvalho, que já trabalhou
com Padilha em Tropa 1 e 2 e Robocop e o ator André Mattos – que fez Tropa de
Elite 2. E também temos Fernando Coimbra, diretor de O Lobo Atrás da Porta (que
também tem Lula Carvalho na fotografia) e dirige o episódio 7 e 8 desta
temporada.
Padilha é o produtor executivo e
também dirige os dois primeiros episódios.
Narcos não é uma história de origem,
já começa tendo Pablo como um traficante e como ele se tornou um dos maiores da
história e uma lenda.
Durante os anos 80, ele já era o
maior da Colômbia, era temido dentro e fora do seu país, já tentou ser
presidente do país (e quase conseguiu, levantando a bandeira de trabalhar para
o povo), mas teve o cargo expugnado depois das denúncias de ele ser um
traficante de drogas (muito antes de a população em geral saber disso), ficou
exilado por um tempo no Panamá, mas seu auge foi na construção de sua “prisão”,
que na verdade era uma fortaleza.
A idéia de prisão surgiu de um
acordo entre ele a o governo da Colômbia, na qual a caça a ele estava se
intensificando e quanto mais se procurava por ele, mais ele provocava o terror em
seu país. Foi nesse período, na segunda metade dos anos 80 que a Colômbia teve
a fama que tem até hoje de um cartel de drogas e paraíso para os traficantes.
Durante esse período, houve guerra
civil no país, com atentados terroristas e a morte de todos aqueles que queriam
combater Escobar, como Rodrigo Lara, que foi o responsável pela impugnação de
Escobar, foi promovido para Embaixador colombiano na Tchecoslováquia, mas foi
baleado antes de viajar.
Outros momentos marcantes foram o
atentado em um avião no ar com a intenção fracassada de assassinar o então
candidato à presidência Cesar Gaviria. O caso gerou revolta nacional e foi a
partir daí que Escobar passou a ser odiado pelo público e mídia. E por falar em
mídia, não se deve esquecer os seqüestros de jornalistas importantes, sobretudo
de Diana Turbay, que era a porta voz da mídia contra Escobar e acabou sendo
morta acidentalmente em uma ação fracassada do exército colombiano, que causou
comoção nacional e foi o grande estopim para o então presidente colombiano
Cesar Gavíria fazer um acordo para Escobar criar sua fortaleza em troca de paz
pelo seu país.
Diana era filha do ex-presidente
colombiano e sua maior rival como jornalista era Valeria Velez, que era a porta
voz a favor de Escobar em troca de favores sexuais. E ela era tão ruim quanto
Escobar, já que o seqüestro de Diana foi uma sugestão dela.
Aliás, a série mostra que embora
Escobar fosse megalomaníaco, frio e calculista, seu império não seria nada sem
os seus capangas, ou sicários, como eram chamados, sobretudo Gustavo, que era
seu amigo de infância. Seus sicários já o salvaram da morte e inclusive
delataram traidores. Isso pode não parecer, mas é importantíssimo para a
História. Grandes ditadores, como Hitler e Stalin, além da ditadura brasileira,
só chegaram aonde chegaram porque seus servos eram fiéis como um cão e matariam,
literalmente, pelo seu chefe.
Ao contrário de muita obra do ponto
de vista do vilão em que mostra o lado mais humano da figura histórica, aqui
Escobar é tratado como um ser mau, sem sutilezas e assassino frio. Em uma das
conversas dois de seus sicários questiona se ele é um santo e o outro responde:
“claro, ele leva as pessoas ao céu”.
Quem se lembrar de Tropa de Elite
vai saber que os dois filmes eram contados em primeira pessoa, sob o ponto de
vista do Capitão Nascimento. Aqui também temos a narração em primeira pessoa,
mas do policial do DEA (Drug Enforcement Administration ou Órgão para o
Controle/Combate das Drogas dos EUA), Steve Murphy, que passou grande parte de
sua vida na captura de Escobar e é tão protagonista quanto Wagner Moura. Quem faz
é o ator Boyd Holbrook (de Garota Exemplar’), mas aqui faz seu melhor papel.
Por falar em grandes papéis, temos
que destacar o papel irretocável de Wagner, que é tão bom quanto o seu Capitão
Nascimento. Muita gente criticou seu sotaque espanhol e embora a crítica seja
válida, não devemos nos esquecer do esforço dele para fazer o melhor possível,
seja por ele ter engordado 20 quilos ou por ele ter vivido por 1 ano na
Colômbia.
Embora Escobar seja apresentado como
um pai exemplar para seus filhos pequenos e sua mãe sempre a defende e não
admite que ninguém fale mal de seu filho. Sua esposa, Tata, também o defende e
ele a trata com certo respeito – mas todos sabem que ele a traía com Valeria.
Mas engana-se quem acha que Narcos
seja uma série unicamente sobre Escobar: funciona muito bem como objeto de
estudo sobre a Colômbia, com uma fotografia poderosa de Lula Carvalho, tanto
representando a série como obra de ficção como as imagens reais de fatos
históricos. A série também deixou claro sobre a omissão norte-americana com o
tráfico colombiano. O então presidente Ronald Reagan estava preocupado
unicamente com a ameaça comunista, enquanto o tráfico de drogas entrava de
forma fácil em Miami e Los Angeles.
Narcos pode ser visto como um grande
filme de 10 horas, que é uma marca da Netflix com episódios contínuos, ou como
uma série propriamente dita. Não importa. O importante é que ela merece estar
entre as melhores do serviço e mostra que não são apenas americanos e ingleses
que podem fazer uma série de qualidade, nós, latinos, também. Tanto em idéia
como em produção (a abertura é uma obra-prima).
A segunda temporada ainda não foi
oficializada, mas, assim como Sense8, é só uma questão de tempo. E como estamos
falando de um canal sem a pressão da audiência e de agradar seus
patrocinadores, é compreensível que a próxima temporada só seja anunciada com
um roteiro pronto.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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