How to Get Away With
Murder – 1ª temporada
Criada
por: Peter Nowalk
2014
Com:
Viola Davis, Liza Weil, Charlie Weber, Katie Findlay, Alfred Enoch, Jack
Falahee, Aja Naomi King, Matt McGorry, Karka Souza, Billy Brown, Tom Verica.
Suspense
14 Anos
How
to Get Away With Murder mostra o porquê de a TV estar melhor do que o cinema
Na semana passada a série ‘How to
Get Away With Murder’ ganhou duas motivações para o grande público começar a
vê-la: primeiro porque a 1ª temporada chegou no serviço de streaming e agora
pode ser vista por um público muito maior (sobretudo depois que o canal Sony
fez o descaso de só exibi-la dublada) e principalmente porque Viola Davis não
só ganhou o Emmy de melhor atriz dramática por este papel irretocável, como
também fez um discurso histórico sobre racismo e oportunidade. Viola foi a
primeira mulher negra a ganhar o prêmio.
E ela estava certa: que uma atriz negra só pode ganhar um
prêmio desses se houverem papéis e embora o racismo tenha diminuído, ele existe
ainda, infelizmente, e na TV isso não é diferente.
Mas há uma pessoa que está lutando para diminuir isso
desde 2005: a grande Midas da TV americana, Shonda Rhimes, que ganhou muita
fama com a criação de Grey’s Anatomy e Private Practice, com suas tramas,
reviravoltas e acolhida popular, e dando muito destaque aos atores negros. Mas
ainda faltava algo, faltava uma série em que um negro era protagonista, sem ser
“vítima do sistema” e menos ainda com algum tema racial.
Daí veio a idéia de fazer Scandal, em 2012. Uma série
política, eletrizante e com uma protagonista negra, a ótima Kerry Washington.
Scandal já vai para a 5ª temporada, e é um sucesso de
público e crítica (embora a 4ª temporada tenha sido um pouco aquém em relação
às outras) e só mostra o quanto Shonda sabe escrever bons roteiros, ótimos
personagens e é conhecedora do mundo em geral.
E agora surge uma série que não é sua criação, mas ela é
produtora executiva, e não é exagero nenhum dizer que esta é sua melhor obra:
How to Get Away With Murder, que chegou arrancando elogios da crítica e do
público, a segunda temporada já estreou nos EUA e de tão ousada tem muito mais
cara de série de TV fechada, mas é de um canal aberto – e com apenas 15
episódios – em contrapartida dos 22, que a maioria das séries abertas tem.
A série foi criada por Peter Novalk (que escreveu alguns
episódios de Scandal e Grey’s Anatomy) e conta a história da professora de
direito Annalise Keating (Viola Davis, no melhor papel da sua carreira) que
ensina em uma renomada universidade da Filadélfia a disciplina Introdução ao
Direito Penal, também conhecida como How to Get Away With Murder ou em português, “como se livrar de um
assassinato”.
Annalise escolhe casos reais e desafia seus alunos a
descobrirem soluções para livrar seus clientes e escolhe um grupo dos alunos
mais preparados para serem seus “estagiários” e terem a honra de trabalharem
com ela, são eles: Connor Walsh, Michaela Pratt, Wes Gibbins, Asher Millstone e
Laurel Castillo.
Um grande trabalho para a pós-produção desta temporada
foi a questão da montagem: a série é cheia de flashbacks que alterna presente e
passado e a cada episódio pistas novas são colocadas e cabe ao espectador
encaixá-las e desvendar o mistério.
Logo nos primeiros instantes do primeiro episódio vemos
um grupo de jovens (na qual ainda não conhecemos) tentando esconder um cadáver
que acabaram de matar – aparentemente por acidente e depois somos levados à
aula de Keating, na qual dá um salto de 3 meses no tempo e conforme os
episódios avançam, esse tempo vai diminuindo, até que no episódio 9 (o melhor
da temporada), chegamos ao grande dia.
E para aguçar ainda mais a curiosidade do espectador,
logo descobrimos que a vítima é Sam Keating, marido de Annalise. E também
descobrimos que ela tem um amante, chamado Nate. Por que os alunos mataram o
marido da professora? Por que Annalise é infiel? São essas perguntas que deixam
a série mais atraente e mais viciante a cada momento.
Pode parecer que não, mas é dificílimo fazer isso, de
amarrar os fatos do passado para compreender o presente, sem cansar o
espectador, sem deixar o roteiro enfadonho e sem perder o ritmo, mas How to Get
Away With Murder faz isso de forma brilhante.
E conforme a temporada vai evoluindo descobrimos que o
plot principal é a morte de Lisa Stangard, na qual os dois suspeitos são Sam
Keating (que mantinha um caso com ela) e Rebecca Sutter (sua amiga que
claramente é viciada em drogas e não dá para confiar em seu estado).
O destaque de How to Get Away With Murder é o grande papel
de Viola, que logo nos primeiros momentos da série a percebemos como professora
brilhante, mulher forte e exigente com os alunos - e isso se estende até o
final, mas também a reconhecemos como um ser humano com suas falhas e problemas
pessoais, sobretudo quando o foco é sua casa, seja pelo seu marido e por outros
laços familiares que vão aparecendo na série.
E sua exigência também atrai a admiração e respeito pelos
alunos, que a vêem como modelo a idolatria (quem nunca teve um professor como
ídolo, é porque não valoriza a educação). Coincidência ou não, isso lembra
muito ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ e, vejam, o nome de Robin Williams no filme
era John Keating.
Embora Viola Davis faça a série soltar faíscas, nada
disso aconteceria sem um grande elenco de apoio, que é quase desconhecido,
sobretudo os alunos, e todos, sem exceção, podem ter em How to Get Away With
Murder uma chance de carreira consolidada e todos têm uma história interessante
e é impossível não ter envolvimento emocional:
Connor é homossexual assumido (e a série acerta em tratar o caso com naturalidade), tem um affair, é
inteligente e é o primeiro aluno a ganhar o cobiçado troféu (embora tenha sido
em troca de favores sexuais); Laurel é linda e idealista e também é um elo
importante para a história; Michaela é a maior fã de Annalise, nasceu em um
lugar pobre do sul dos EUA, está de casamento marcado com o amor da sua vida (mas
sua sogra acha que é um casamento por interesse) e vê no trabalho com Annalise
uma chance de crescer; Asher é inteligente e convencido (mas não é arrogante),
é o único do grupo de alunos que fica de fora do assassinato – e jamais
desconfia.
Para quem bateu o olho nele e o reconheceu, ele é o mesmo
ator que faz o guarda da prisão de ‘Orange is the New Black’ que engravida
Dayanara.
Mas o estudante mais interessante do grupo é Wes e é o
que mais precisa se provar, pois, embora seja esforçado, é o menos conhecedor
da área e ele entra no grupo para preencher uma vaga e Annalise viu nesse
esforço que valeria a pena investir.
Ele é vizinho de
Rebecca (sim, a mesma que é a suspeita do assassinato de Lisa) e se apaixona
por ela, mesmo sendo pessoas completamente diferentes (ele é mais certinho e
ela mais “largada”) e mesmo com ela o esnobando.
Rebecca também é uma personagem interessante e bipolar,
ela deixa a dúvida de sua inocência o tempo todo.
A maioria dos críticos falou mal de sua personagem,
inclusive teve um famoso portal da internet que disse que ela estragou a série.
Discordo completamente. Rebecca é uma personagem a ser descoberta aos poucos e
foi um grande esforço da atriz em não entrar no clichê da drogada perturbada e
nos estereótipos que, por exemplo, a TV brasileira tem. Katie Findlay também
pode ter em How to Get Away With Murder a chance de brilhar em Hollywood.
E também não devemos nos esquecer dos dois braços
direitos de Annalise: Frank - que também é um personagem a ser descoberto - e
Bonnie, que exerce também a carreira de advogada e substitui Annalise quando
precisa.
Não foi a toa que How to Get Away With Murder ganhou
vários fãs em pouco tempo de vida, seja por sua trama intrigante, personagens
fascinantes e roteiro que nos enriquece de conhecimento e nos provoca. E lembra
muito o formato de Netflix, como um grande filme de 12, 13 horas (ou 15 horas,
como é o caso aqui) e nós, fãs, esperamos que a série não tenha o triste fim de
Revenge, Smallville, Arquivo X, dentre outras: se arrastar até se tornar
repetitiva e ser lembrada de forma negativa. Só o tempo dirá.
Nota: 10,0
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