domingo, 20 de abril de 2014

Divergente



Divergente (Divergent)

Direção: Neil Burger

Ano de produção: 2014

Com: Shailene Woodley, Theo James, Kate Winslet, Jai Courtney, Miles Teller, Zoe Kravitz, Maggie Q, Ashley Judd, Tony Goldwyn .

Gênero: Aventura

Classificação Etária: 14 Anos


“Divergente” é fraco como cinema e como adaptação literária.

            Definitivamente, Hollywood sabe explorar um tema até ele ficar repetitivo. Para o bem e para o mal, as adaptações literárias se tornaram quase obrigatórias para os estúdios. E sucesso de literatura não necessariamente quer dizer sucesso de bilheteria. Que o diga “Dezesseis Luas” e “Instrumentos Mortais”, este último, uma grande série de livros, é verdade, mas o filme é fraco. Mas a verdade é que todos querem ser o sucesso de “Jogos Vorazes” na atualidade e os já consagrados “Harry Potter” “Senhor dos Anéis” e “Crepúsculo”. O que os executivos têm que entender é que essas obras são originais e trouxeram algo de novo ao cinema e muitos filmes são um quase plágio de obras consagradas. Até mesmo “Crepúsculo” com todas as suas falhas, trouxe algo de novo ao cinema e não devemos nos esquecer da importância literária que a serie de livros da Stephenie Mayer trouxe ao mundo.

            E agora, em 2014, com o estouro da franquia “Jogos Vorazes”, logo os estúdios resolveram colocar uma adaptação literária quase do mesmo patamar: “Divergente”, baseado em uma trilogia de livros da autora Veronica Roth. Os 3 livros já foram lançados no Brasil e eu, Raphael, só li até agora o 1º livro, que deu nome a esse filme, “Divergente”. Os outros 2 livros, “Insurgente” e “Convergente”, espero ler para os próximos meses.

            E quais foram as impressões lendo o livro? Então, fiquei muito surpreso de forma positiva. Fiquei com receio de ser plágio de “Jogos Vorazes”, principalmente por se tratar de um futuro distópico e ditatorial. Mas, “Divergente”, que não tem nada a ver com a obra da Suzanne Collins, tem muitas qualidades, é um livro absolutamente bom de se ler e a escrita de Veronica Roth é muito competente. Aliás, é uma nova onda – e onda positiva, diga-se de passagem – de novos escritores jovens no mercado da literatura. Inclusive aqui no Brasil, basta ver as obras deliciosas de, por exemplo, Raphael Draccon, Carolina Munhoz e Ana Macedo, entre muitos outros.

            E com uma história tão poderosa como a de “Divergente”, logo a Summit Entertainment, também distribuidora da série “Crepúsculo” viu que esta poderia ser uma nova franquia.

            O problema é que, “Divergente” é fraco, tanto como cinema tanto como adaptação literária. As atuações são fraquíssimas, a direção é amadora e nem a parte técnica salva.

            A história de “Divergente” se passa em uma Chicago do futuro, em que as guerras inexistem e a sociedade se divide em 5 facções: Amizade, Abnegação, Audácia, Erudição e Franqueza. A protagonista, Beatrice (Shailene Woodley) vive na Abnegação, que é uma facção que defende que a vida deve se privar de qualquer vaidade. Ao completar 16 anos, todos são obrigados a fazer o teste, quase como um teste vocacional, para saber em qual facção a pessoa se encaixa. E Beatrice, ao completar 16 anos também faz seu teste. Porém, seu teste dá inconclusivo, o que eles chamam de Divergente. Para não levantar suspeitas, Beatrice escolhe o caminho da Audácia, que são uma espécie de protetores da sociedade, mas, Beatrice, que depois adota o nome de Tris, descobre que escolher a Audácia pode não ter sido uma boa escolha, principalmente pelos testes sub-humanos para fazer parte da facção mas também porque ela descobre que a Erudição, que é uma facção que defende a inteligência e a razão, quer controlar a tudo, diminuindo o poder da Abnegação e transformando a Audácia em um exército.

            Quando eu disse anteriormente que “Divergente” é fraco como adaptação e como cinema é por motivos muito simples: quem leu o livro se sente desolado e o prólogo do filme se passa tão rápido que mal dá para se envolver emocionalmente com a protagonista. Obviamente que uma adaptação cinematográfica não vai seguir o livro à risca, pode faltar algo, desde que tenha uma certa coerência e inteligência por trás da história. Foi o mesmo problema de “O Código da Vinci”, que como se não bastasse isso, respeitou demais o livro que não merecia tanto respeito. Uma adaptação cinematográfica pode e deve mudar conteúdos do livro, afinal, uma adaptação deve ser livre, mas muita coisa faltou nesse filme, como a melhor amiga de Tris, Christina, vivida por Zoe Kravitz, que no livro tem presença onipresente, mas aqui é uma coadjuvante de luxo. E o filme tem um grande problema de interpretação, pois começa com a narração em 1ª pessoa, mas o filme é todo contado em 3ª pessoa, embora focado na Tris.

            E quem não leu o livro? Pois bem, havia um receio da história ficar parecida com “Jogos Vorazes” pelo contexto, mas digo que “Divergente” é, na verdade, mais parecido é com “Crepúsculo”. Sim, é tudo o que vocês não queriam ouvir, principalmente por focar mais no romance de Tris e Quatro, vivido por Theo James. A ditadura no futuro distópico é, portanto, um segundo plano na trama.

            Mas e o elenco? A escolha de Shailene Woodley como Tris foi a pior possível. Ela está em alta em Hollywood, já tem uma indicação ao Globo de Ouro por “Os Descendentes” em 2012 de Atriz Coadjuvante e está, agora, em 3 franquias. Além dessa, “Divergente”, ela será a Mary Jane em “Homem-Aranha” e será a protagonista de outra adaptação literária, “A culpa é das estrelas”, com previsão de estrear em Junho nos cinemas.

            Vendo “Divergente”, observa-se que ela é uma atriz muito limitada e que, infelizmente, não tem a força que um filme deste tamanho exigia. Assim como Kristen Stewart em “Crepúsculo”, sua atuação é, no máximo, mediana. Sua atuação boa em “Os Descendentes”, foi portanto, uma sorte do destino por estar ao lado de nomes como George Clooney e do diretor Alexander Payne.

            O restante do elenco não ajuda, em especial o elenco jovem. Alguns merece, aliás, indicações ao troféu Framboesa de Ouro, como o próprio Theo James, que interpreta Quatro, que está mais preocupado em fazer pose de galã do que em atuar e mesmo quando ele é exigido, como quando ele é manipulado pela Erudição, ele não consegue mostrar carga dramática nenhuma. Aliás, seu romance com Tris não empolga. Ele é arrogante e de início destrata a protagonista e depois ele vira o herói e o queridinho da vez. Fica difícil torcer pelo casal. O elenco jovem também é péssimo, como Jai Courtney, como Eric e Miles Teller como Peter também infelizmente estão mal. E é bom eu lembrar do nome dos dois agora, Miles Teller e Jai Courtney, que amanhã eu já devo esquecer. Assim como já me esqueci do rosto.

             Mas a decepção maior fica mesmo com o diretor, Neil Burger, um bom diretor, que fez “O Ilusionista” e “Sem Limites”, que é um bom cineasta e seus filmes tinham como característica maior a loucura e até onde o ser humano pode chagar. Aqui, ele está mais contido, mais por culpa do estúdio, que queria um produto mais adolescente e menos ousado e menos por culpa de seu talento.

            O filme só fica bom mesmo com a vilã, Kate Winslet, essa sim, que dá um tom maior à história e sua ditadora Jeanine é um alívio na, digamos, “crepusculada” que o filme dá. Seu método de controlar a mente humana, em transformar os integrantes da Audácia em soldados sem emoção é de arrepiar e quando ela aparece em cena, o filme solta faíscas.

            Ah, com o sucesso nos EUA e no Brasil, “Insurgente” vem logo aí em 2015.
             

Nota: 3,0


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