sexta-feira, 4 de abril de 2014

Noé



Noé (Noah)

Direção: Darren Aronofsky

Ano de produção: 2014

Com: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Emma Watson, Ray Winstone, Logan Lerman, Anthony Hopkins.

Gênero: Épico

Classificação Etária: 14 Anos


“Noé” fala com o grande público sem perder a tradição bíblica

            Aronofsky é um cineasta como poucos e seu cinema ultrapassa os limites de o que é real, o que é irreal e até onde a imaginação humana pode ir. Seu filme mais conhecido é “Cisne Negro”, que deu à Natalie Portman seu merecido Oscar em 2011. Cisne Negro é um grande filme, com certeza, mas, seu melhor filme ainda é “Réquiem para um sonho”, que mostra um lado bem obscuro da espécie humana.

            Mesmo com um currículo desses, havia certa desconfiança da ideia de ele filmar um blockbuster, afinal, estamos falando de um sujeito conhecido no cenário independente. E principalmente se esse blockbuster tem um pano de fundo bíblico. Dificilmente alguém se arrisca para fazer um filme de tema religioso, mas, quando sai, o resultado muitas vezes é um sucesso, como “A paixão de Cristo”, de Mel Gibson, em 2004, ou o polêmico “A última tentação de Cristo”, de Martin Scorsese. E o cinema estava precisando mesmo de um grande filme religioso exatamente para mostrar para as novas gerações uma história clássica sob um ponto de vista diferente.

            E nesse ponto, “Noé” acerta em cheio.

            É uma superprodução, sim, há muitos efeitos e computação gráfica, com batalhas dignas de “O Senhor dos Anéis”, mas fala de uma história que, segundo a Bíblia, ocorreu antes de Cristo. E com uma linguagem acessível e inteligente, seja para o pessoal mais religioso ou para quem vê o filme apenas como entretenimento. É entretenimento sim, mas dos bons, com um roteiro sem exageros e, principalmente, sem tomar partido de nenhuma ideia levantada. Tudo isso com a competência do roteiro do próprio Aronofsky e de Ari Handel, os mesmos de “Cisne Negro” e “O Lutador”.

            Na história, Noé (Russell Crowe) recebe uma mensagem de Deus (que no filme é apresentado como “Criador”) para construir uma arca e, assim, salvar todos os animais e sua família do mundo do dilúvio e a espécie humana, que fez mal ao mundo, deve deixar de existir.

            Essa é a história que está na Bíblia, mas Aronofsky tomou algumas liberdades poéticas, como o personagem de Tubal-Cain, (Ray Winstone), que foi criado pelos roteiristas e aqui representa a arrogância e ganância humana. Temos também a personagem de Ila (Emma Watson), namorada de Shem e filha adotiva de Noé. Na Bíblia, jamais é citado o nome dela, assim como a esposa de Noé, aqui, com o nome de Naameh (Jennifer Connelly, em sua 2ª contribuição com Aronofsky, a 1ª foi em “Réquiem para um sonho”).

            Como o roteiro não toma partido de praticamente nada, o Aronofsky fez, assim como fez em seus outros filmes, deixar para o público tomar suas decisões e conclusões. Nem o próprio Criador, nem Noé são tão incontestáveis como as religiões dizem. Afinal, o homem é ou não é a razão da maldade do mundo? A espécie humana deve ser extinta? A se merece ser extinta, Ele é puro ou vingativo? O Noé, de Russell Crowe, é basicamente um pouco de tudo. Ele tem que seguir o legado e chamado do Criador, mesmo que isso signifique o fim do homem e não permitir que haja mais gerações humanas (as sequencias, da metade para o fim, em que Ila fica grávida e Noé sugere a morte dos bebês são angustiantes).

            Mas e o elenco? Bom, aqui, Aronofsky trabalha só com os melhores. Russell Crowe, claro, dispensa comentários. Ele já foi o Gladiador e agora representa, com muita competência, um personagem épico. Jennifer Connelly, que estava sumida, é verdade, faz uma esposa segura, eficiente e até independente. Aliás, esta é a 2ª vez que os dois fazem um casal – a 1ª foi em “Uma mente brilhante” – e a química deles é perfeita.

            E o que dizer de Emma Watson? Já tem alguns filmes em que ela já deixou o estigma da bruxinha Hermione de Harry Potter e está em papéis mais densos e exigentes, como a doce Sam de “As vantagens de ser invisível” e a esperta Nicki de “The Bling Ring – A gangue de Hollywood”, da Sofia Coppola. Aqui, ela é Ila, que representa, ao mesmo tempo, a moça tradicional de família e a mulher quase independente que pode representar o futuro da humanidade.

            “Noé” é um filme quase perfeito. É uma superprodução e podem aparecer problemas, mas, nesse caso, o maior problema dele é também a maior virtude: a computação gráfica e a tecnologia 3D. Quase não há profundidade, se puder, veja em 2D, mas a ressalva maior fica por conta do uso do computador: embora haja momentos bons, como a história da Criação, que Noé conta para a sua família, com belas imagens da origem do mundo, lembrando muito o jogo de imagens usado em “Réquiem para um sonho”, a maior parte do tempo, os efeitos estão tão artificiais que incomodam a platéia, como a floresta nascendo ao redor da casa de Noé, mas a decepção ficou mesmo com as criaturas digitais chamadas “Guardiões”, com um péssimo uso da computação gráfica e CGI.

            Mas, mesmo com essa ressalva, não há dúvidas das qualidades de “Noé” e devemos aplaudir a iniciativa de resgatar a Bíblia para as novas gerações, além de ser um grande incentivo aos nossos jovens de buscar histórias clássicas.


Nota: 9,0


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