Noé (Noah)
Direção: Darren Aronofsky
Ano de produção: 2014
Com:
Russell Crowe, Jennifer Connelly, Emma Watson, Ray Winstone, Logan Lerman,
Anthony Hopkins.
Gênero: Épico
Classificação Etária: 14 Anos
“Noé” fala com o grande público sem perder a tradição bíblica
Aronofsky é um cineasta como poucos e seu cinema
ultrapassa os limites de o que é real, o que é irreal e até onde a imaginação
humana pode ir. Seu filme mais conhecido é “Cisne Negro”, que deu à Natalie
Portman seu merecido Oscar em 2011. Cisne Negro é um grande filme, com certeza,
mas, seu melhor filme ainda é “Réquiem para um sonho”, que mostra um lado bem
obscuro da espécie humana.
Mesmo com um currículo desses, havia certa desconfiança
da ideia de ele filmar um blockbuster, afinal, estamos falando de um sujeito
conhecido no cenário independente. E principalmente se esse blockbuster tem um
pano de fundo bíblico. Dificilmente alguém se arrisca para fazer um filme de
tema religioso, mas, quando sai, o resultado muitas vezes é um sucesso, como “A
paixão de Cristo”, de Mel Gibson, em 2004, ou o polêmico “A última tentação de
Cristo”, de Martin Scorsese. E o cinema estava precisando mesmo de um grande
filme religioso exatamente para mostrar para as novas gerações uma história
clássica sob um ponto de vista diferente.
E nesse ponto, “Noé” acerta em cheio.
É uma superprodução, sim, há muitos efeitos e computação
gráfica, com batalhas dignas de “O Senhor dos Anéis”, mas fala de uma história
que, segundo a Bíblia, ocorreu antes de Cristo. E com uma linguagem acessível e
inteligente, seja para o pessoal mais religioso ou para quem vê o filme apenas
como entretenimento. É entretenimento sim, mas dos bons, com um roteiro sem
exageros e, principalmente, sem tomar partido de nenhuma ideia levantada. Tudo
isso com a competência do roteiro do próprio Aronofsky e de Ari Handel, os
mesmos de “Cisne Negro” e “O Lutador”.
Na história, Noé (Russell Crowe) recebe uma mensagem de
Deus (que no filme é apresentado como “Criador”) para construir uma arca e,
assim, salvar todos os animais e sua família do mundo do dilúvio e a espécie
humana, que fez mal ao mundo, deve deixar de existir.
Essa é a história que está na Bíblia, mas Aronofsky tomou
algumas liberdades poéticas, como o personagem de Tubal-Cain, (Ray Winstone),
que foi criado pelos roteiristas e aqui representa a arrogância e ganância
humana. Temos também a personagem de Ila (Emma Watson), namorada de Shem e
filha adotiva de Noé. Na Bíblia, jamais é citado o nome dela, assim como a
esposa de Noé, aqui, com o nome de Naameh (Jennifer Connelly, em sua 2ª
contribuição com Aronofsky, a 1ª foi em “Réquiem para um sonho”).
Como o roteiro não toma partido de praticamente nada, o
Aronofsky fez, assim como fez em seus outros filmes, deixar para o público
tomar suas decisões e conclusões. Nem o próprio Criador, nem Noé são tão
incontestáveis como as religiões dizem. Afinal, o homem é ou não é a razão da
maldade do mundo? A espécie humana deve ser extinta? A se merece ser extinta,
Ele é puro ou vingativo? O Noé, de Russell Crowe, é basicamente um pouco de
tudo. Ele tem que seguir o legado e chamado do Criador, mesmo que isso
signifique o fim do homem e não permitir que haja mais gerações humanas (as
sequencias, da metade para o fim, em que Ila fica grávida e Noé sugere a morte dos
bebês são angustiantes).
Mas e o elenco? Bom, aqui, Aronofsky trabalha só com os
melhores. Russell Crowe, claro, dispensa comentários. Ele já foi o Gladiador e
agora representa, com muita competência, um personagem épico. Jennifer
Connelly, que estava sumida, é verdade, faz uma esposa segura, eficiente e até
independente. Aliás, esta é a 2ª vez que os dois fazem um casal – a 1ª foi em
“Uma mente brilhante” – e a química deles é perfeita.
E o que dizer de Emma Watson? Já tem alguns filmes em que
ela já deixou o estigma da bruxinha Hermione de Harry Potter e está em papéis
mais densos e exigentes, como a doce Sam de “As vantagens de ser invisível” e a
esperta Nicki de “The Bling Ring – A gangue de Hollywood”, da Sofia Coppola.
Aqui, ela é Ila, que representa, ao mesmo tempo, a moça tradicional de família
e a mulher quase independente que pode representar o futuro da humanidade.
“Noé” é um filme quase perfeito. É uma superprodução e
podem aparecer problemas, mas, nesse caso, o maior problema dele é também a
maior virtude: a computação gráfica e a tecnologia 3D. Quase não há
profundidade, se puder, veja em 2D, mas a ressalva maior fica por conta do uso
do computador: embora haja momentos bons, como a história da Criação, que Noé
conta para a sua família, com belas imagens da origem do mundo, lembrando muito
o jogo de imagens usado em “Réquiem para um sonho”, a maior parte do tempo, os
efeitos estão tão artificiais que incomodam a platéia, como a floresta nascendo
ao redor da casa de Noé, mas a decepção ficou mesmo com as criaturas digitais
chamadas “Guardiões”, com um péssimo uso da computação gráfica e CGI.
Mas, mesmo com essa ressalva, não há dúvidas das
qualidades de “Noé” e devemos aplaudir a iniciativa de resgatar a Bíblia para
as novas gerações, além de ser um grande incentivo aos nossos jovens de buscar
histórias clássicas.
Nota:
9,0
Imagens:
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário