Em 2002, A Identidade
Bourne mudou completamente a forma de como o público via os filmes de ação: os
cortes rápidos, a câmera que acompanha a ação de forma quase participativa e os
efeitos práticos.
De lá para cá, houve mais dois filmes da franquia, que
foram evoluindo a trama e um spin-off, que foi bem de bilheteria, mas não foi
tão bem recebido pela crítica, tanto que o ator Matt Damon e o diretor Paul
Greengrass relutaram para voltar ao universo Bourne porque acharam que a
história não poderia avançar mais e todos os arcos haviam sido fechados em O
Ultimato Bourne.
Mas, com uma boa ideia nas mãos, uma grande equipe e bom
elenco é possível sim fazer com que uma franquia se reinvente aos novos tempos
e embora não seja tão brilhante quanto a trilogia original, Jason Bourne é um
grande filme. E se não tem a inovação técnica que consagrou a série, ao menos
mostra que está atualizada com o mundo atual, que está mais conectado o avanço
da tecnologia e das redes sociais, além de mostrar como está a paranoia americana com a questão da privacidade pós Edward Snowden.
O personagem título agora é um lutador de rua e está fora
dos holofotes, até que Nicky Parsons (personagem da Julia Stiles) o procura
oferecendo novas informações sobre o seu passado, sobretudo sobre o seu pai.
Mas Bourne é perseguido pela CIA, liderada agora por Robert Dewey (Tommy Lee
Jones, ótimo no papel!) que teme um novo vazamento de dados, mas a novata
Heather Lee (Alicia Vikander) acredita que recrutar Jason Bourne seja a melhor
ideia.
Jason Bourne promove uma boa discussão sobre privacidade
na rede e como isso interfere na segurança de um país. Afinal, o que é mais
importante, a segurança do Estado ou do indivíduo? A dualidade entre o
personagem de Tommy Lee Jones e de Riz Ahmed (claramente inspirado em Mark
Zuckerberg) é praticamente uma trama paralela aos acontecimentos principais.
Quando juntos em cena, um representa o passado e o outro, o futuro.
Há duas cenas espetaculares de ação em Jason Bourne: uma
se passa paralelamente a um protesto no Grécia. A urgência do conflito
misturada com a tensão da perseguição e trama do filme tiram o fôlego, assim
como uma perseguição automobilística em Las Vegas.
Todos os
personagens são bem aproveitados e até o de Vincent Cassel, que faz um sniper
que persegue Bourne e praticamente repete o personagem de Clive Owen no filme
de 2002, mas quem apresenta mais camadas aqui é a personagem de Alicia
Vikander, na qual suas intenções são ficam muito claras por aqui, sua Heather é
mais tridimensional do que o próprio protagonista e é uma personagem a ser
explorada.
O diretor Paul Greengrass também produz o filme (junto
com o próprio Matt Damon e Frank Marshall) e o escreve junto com Christopher
Rouse, que também é o montador desse e dos outros filmes da franquia e levou o
Oscar de 2008 na categoria. Ambos mostram aqui que sabem o que fazer ao passo
que também não querem que a franquia que os deu notoriedade acabe.
Jason Bourne não é nenhuma obra-prima, é inferior à
trilogia original, mas supera o spin-off. Merece ser visto por fãs e não-fãs da
franquia.
Com
tantos filmes que não vão acrescentar nada ao mundo do cinema e ao mundo real,
um produto que traz questões como paranoia com o terrorismo e privacidade na
rede jamais deve ser ignorado.
Nota:
9,0
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