De forma geral, o povo aprendeu a confiar nas produções
originais da Netflix e ela faz por onde, sobretudo em suas séries e
documentários. Já em seus filmes, ela começou com tudo com o excelente drama
Beasts of no Nation, mas que essa qualidade não foi continuada em alguns de
seus filmes originais, sobretudo nas comédias do Adam Sandler.
Mas eis que ela lança, sem fazer muito barulho, mais um
filme original: XOXO – A Vida é Uma Festa, que teve apenas um trailer e quase
zero de publicidade, mas é dos melhores filmes de 2016 até agora.
Em um ano de várias decepções com alguns blockbusters, é
algo primoroso ver que o cinema independente está com a sua força e isso só
enriquece a sétima arte.
A história de XOXO se passa, basicamente, em um dia
apenas, quando pessoas diferentes vão a um festival de música: um aspirante a
DJ que busca um lugar ao sol, seu empresário frustrado com a sua vida, uma moça
que tenta se encontrar com o namorado no meio da multidão do festival, um casal
que fica preso após um acidente com um ônibus, não consegue entrar no festival
e o motorista deste ônibus.
O filme vai intercalando a trajetória de cada um deles e
o destaque aqui é a montagem primorosa de Sam Bauer (que também é o montador de
Donnie Darko) que não para e mostra de forma vibrante a ação de cada
personagem, que, apesar de serem pessoas completamente diferentes, são pessoas
comuns e com um objetivo mútuo, que é estar no festival de música a qualquer
custo.
Tanto o ritmo do filme quanto algumas situações lembram
dois ótimos filmes dos anos 90: Vamos Nessa, de Doug Liman e Trainspotting, de
Danny Boyle. Neste último, a referência está na cara, inclusive reproduzindo a
famosa cena da bacia sanitária. Já as semelhanças com o filme de Doug Liman,
ficam, principalmente, na parte técnica (montagem, fotografia) e por estarmos
acompanhando adolescentes diferentes, com ações diferentes, mas em um contexto
idêntico.
O aspirante a DJ, Ethan, é a típica personificação do
sonho americano: um jovem praticamente sem perspectiva em um mundo dos gigantes
no ramo. Seu empresário, Tariq, fica dividido entre a vida confortável com o
seu pai ou em seguir os seus sonhos. Krystal, a patricinha que entrou no
festival por meios menos nobres, é a típica “pobre menina rica”, que tem uma
boa vida, um namorado cobiçado, mas que, no fundo, é infeliz consigo mesma. E o
envolvimento com esses personagens tridimensionais é o que define o gosto ou
não de cada um com o filme e mesmo sendo pessoas diferentes em situações
diferentes, não é difícil que espectadores do mundo inteiro se identifiquem com
pelo menos um dos personagens.
Praticamente não há atores conhecidos do grande público,
o que não é nenhum problema. Na verdade, seria difícil para os realizadores
venderem este filme a algum distribuidor “tradicional” funcionou muito bem no
serviço da Netflix, principalmente pelo elenco, diretor e roteiristas novatos. Quem
mais se aproxima aqui de “famosa” é Sarah Hyland, a Haley de Modern Family (que
também é produtora deste filme), mas quem nunca viu a série dificilmente vai reconhecê-la.
O festival de XOXO realmente existe, em Portland, nos
EUA, e é focado em criadores independentes de filmes, música, quadrinhos, arte
e ilustração, games, design de hardware, entre outras áreas e os organizadores
do festival também contribuíram para a realização deste filme. E como este
filme mostra, vários empresários e olheiros têm neste festival uma chance de
descobrir novos talentos. Vale a pena pesquisar sobre isso.
XOXO – A Vida é Uma Festa é vibrante, intenso e considerando
que ele está em um serviço popular como a Netflix, é de fácil acesso.
É o cinema independente mostrando que tem espaço junto
aos blockbusters.
Nota:
9,0