Os Homens são de Marte... E é para lá que eu vou
Direção: Marcus Baldini
Ano de produção: 2014
Com: Mônica Martelli, Daniele Valente,
Paulo Gustavo, Marcos Palmeira, Eduardo Moscovis, Humberto Martins, Irene
Ravache, Júlia Rabelo.
Gênero: Comédia
Classificação Etária: 14 Anos
Comédia
nacional tenta divertir, mas coloca um tema perigoso
Com tantas comédias passageiras no cinema brasileiro nos
últimos anos – e a grande maioria é de gosto duvidoso – estou só esperando o
momento de o público e o mercado saturarem do gênero e finalmente produzir
grandes filmes que o nosso cinema sabe fazer muito bem.
Não que fazer filme para divertir o público seja algo
abominável. Muito pelo contrário, o cinema é uma arte e, como tal, deve
entreter seu povo, mas deve haver um mínimo de inteligência e coerência. Mais
do que isso, considerando que o Brasil é um país que consome muito conteúdo das
novelas como entretenimento (pois é!), os executivos viram que podem levar esse
público da tv ao cinema. E conseguiram. Esse tipo de filme é uma mina de ouro
para o mercado nacional, o que são devemos ir contra – se o dinheiro entra,
mais e mais filmes são feitos e o cinema brasileiro só tende a crescer. Já
tivemos uma crise, no início dos anos 1990 e as lembranças não são muito boas.
E agora, não é só a TV que está influenciando o cinema,
mas o teatro também: tivemos o fraco ‘Qualquer gato vira-lata’ em 2011 e, no
ano passado, o surpreendente ‘Minha mãe é uma peça’.
E em 2014, mais uma peça de sucesso recebe uma adaptação
cinematográfica: ‘Os Homens são de Marte... E é para lá que eu vou’, que ficou
em cartaz por 8 anos e também virou um sucesso de bilheteria.
Na história, Fernanda é uma bem-sucedida organizadora de
casamentos, mas é infeliz no amor. Ela tem 39 anos e sonha em encontrar o amor
da sua vida, mas não consegue emplacar um relacionamento.
A intenção do roteiro é fazer uma crônica sobre a mulher
atual e independente. Mais do que isso, o roteiro é vendido como um filme para
o público feminino. Se o caminho fosse esse, o resultado até poderia ser um
pouco melhor, porém, a história esconde mensagens machistas subliminares:
Fernanda é uma mulher que não pode viver sem homem e só consegue ser feliz com
algum ao seu lado. Ah, e tem que ser rico, pois, segundo algumas situações do
filme, a mulher tem que ser sustentada pelo homem. Nos dias de hoje, isso é um
ultraje. Lembra muito o filme de Woody Allen, ‘Blue Jasmine’, que deu o Oscar
para Cate Blanchett.
A decepção nesse ponto é que a própria Mônica Martelli é
uma das roteiristas e ela poderia dar um toque menos machista para a trama.
A estrutura do roteiro lembra bastante o estilo inglês de
se fazer comédias e a inspiração em Bridget Jones está clara, seja na
protagonista atrapalhada e insegura e na narração em primeira pessoa, que
deixou a trama mais didática e, infelizmente, quer explicar demais os detalhes.
Algumas situações podem provocar risos no público, em
especial nos encontros frustrados de Mônica, seja com o senador, vivido por
Eduardo Moscovis, ou com o alemão que vive na Bahia que é desprovido de bens
materiais. Pode ter uma ou outra piada que funcione, mas os momentos são
constrangedores e, sim, previsíveis.
O filme não é um desastre total, tem algumas qualidades.
A trilha sonora, que é às vezes brega, faz todo o sentido com a proposta do
filme (ainda que boa parte seja focada propositalmente nas músicas do Lulu
Santos).
O elenco está afiadíssimo. Mônica Martelli abraçou sua
personagem e transmite o carisma e graça que a personagem precisava, ela não
quer aparecer mais do que deveria e faz uma atuação contida e na medida. O
elenco de coadjuvantes, bem como as participações especiais, também está cômico
(inclusive o próprio Lulu Santos), mas há dois atores que aqui estão até
melhores do que a protagonista e funcionam como alívio cômico: Daniele Valente
e Paulo Gustavo: Ela faz a melhor amiga de Fernanda, Nathalie, uma aspirante a
atriz que tem mais juízo do que sua amiga. As conversas das duas quando algo dá
errado são hilariantes. Daniele Valente não teve grandes papéis como atriz, mas
sua carreira como comediante tem bons momentos e esse filme pode ser uma porta
para uma sorte melhor.
E eu não poderia encerrar a crítica seu falar desse
grande comediante: Paulo Gustavo: é impossível não se lembrar dele aqui como
sócio de Mônica e como a mãe super protetora em ‘Minha mãe é uma peça’. E cada
situação ambos os personagens soltam alguma piada que sempre funciona e nem
sempre é algo que as protagonistas querem ouvir.
Esse trio, Mônica, Paulo e Daniele, mais um grande elenco
de apoio, com nomes como Irene Ravache, Marcos Palmeira e até uma ponta cômica
de Júlia Rabelo (de ‘Porta dos Fundos’), como uma vidente, é o que fazem deste
filme aqui, no mínimo assistível. Mas é pouco se a história é fraca. E
dificilmente será lembrado para os próximos anos.
Nota:
4,0
Imagens:
Trailer:
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