domingo, 10 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia



Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy)


Direção: James Gunn

Ano de produção: 2014

Com: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Bradley Cooper, Vin Diesel, Lee Pace, Karen Gilan, Djimon Hounson, Benicio del Toro, Gleen Close, John C. Reilly, Josh Brolin.

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 12 Anos


Decididamente, ‘Guardiões da Galáxia’ é o blockbuster de 2014.

            Empresa organizada é outra coisa: enquanto a DC Comics só agora está começando a se mexer e explorar seu universo, com os anúncios de ‘Batman VS Superman’ e ‘Liga da Justiça’, além das séries de TV, Flash, Constantine e Gothan, a Marvel já há alguns anos está se mexendo e explorando seu universo. Tanto que agora já tem um estúdio próprio, a Marvel Studios. Nem todos são grandes filmes, mas eles arriscam. Mesmo ‘Homem de Ferro 3’, que foi muito contestado, foi um grande sucesso, faturando mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo no ano passado.

            A Marvel Studios é um dos estúdios de Hollywood mais lucrativos do momento. Se não, o mais. Todos seus filmes superaram o orçamento.

            E também a Marvel Studios é dos estúdios mais criativos do momento. Fazer uma adaptação de quadrinhos não é fácil e os últimos filmes do estúdio são um salto de criatividade, boas histórias e ótimos personagens. E o principal: são filmes que se sustentam sozinhos, mesmo quem não conhece as HQs, se identifica, gosta e se apaixona pelos filmes.

            É quase como a Pixar estava até a algum tempo. Com tantas obras-primas seguidas, era difícil imaginar um filme tão fraco como ‘Carros 2’ em seu currículo.

            O problema é que todo ser humano erra e mesmo em uma carreira, todo mundo derrapa uma hora. Mas, enquanto esse momento não chega para a Marvel, estaremos com a expectativa alta para suas obras.

            Até o momento, porém, a Marvel trabalhava com personagens já consagrados das HQs, então, os fãs de quadrinhos veriam seus filmes de qualquer jeito, sem o risco de um fracasso. Mas, agora, a situação é diferente. A Marvel colocou em tela heróis que o grande público não conhecia. Mesmo os fãs de quadrinhos quase que desconheciam os ‘Guardiões da Galáxia’. Afinal, quase não se vê essas histórias nas bancas no meio de outros grandes nomes como ‘X-Men’ e ‘Homem-Aranha’. Os ‘Guardiões da Galáxia’ são quase como quadrinhos underground, ou alternativos. A minoria que conhecia era quem corria atrás em feiras, exposições ou coisa do tipo.

            E como adaptar uma história dessas para uma mídia tão popular como o cinema? E, principalmente, como convencer os executivos e produtores a colocar dinheiro em uma produção que ninguém conhece? E foram com esses dilemas e dúvidas que a Marvel resolve fazer sua manobra mais arriscada: ‘Guardiões da Galáxia’.

            E a resposta para essas perguntas é: no mundo do cinema, tudo se pode. Desde que se tenha uma boa história boas intenções de um grande filme, e assim surgiu ‘Guardiões da Galáxia’.

            Os Guardiões surgiram no ano de 1969, mas, com uma formação completamente diferente da apresentada no filme. O que se vê no filme é a formação mais recente, realizada agora nesse século. Mas, quem se importa? Aliás, um bom filme independe da fidelidade ou não de sua obra original, seja HQ, livro, ou qualquer coisa. Claro que o universo e alguns elementos devem ser respeitados e preservados, mas, a livre adaptação e a licença poética são válidas e saudáveis para a cultura pop.

            Sendo assim, mesmo que ‘Guardiões da Galáxia’ tenha sido “infiel” à formação original, deve-se olhar para o filme de forma independente.

            E é isso que faz com que ‘Guardiões da Galáxia’ seja um filme tão poderoso. Mesmo quem nunca leu ou ouviu falar nas HQs, vai entender e se envolver com a história. E qualquer roteiro que seja adaptação de algo, não deve ficar na zona de conforto de depender de seu produto original (não é, Sr. ‘Código da Vinci’????).

            A abertura do filme é uma obra de arte, e já prende o espectador, mostrando a morte da mãe de Peter Quill, que foi abduzido ainda criança e se tornou o Senhor das Estrelas.
            A cena foi tão inesquecível e os roteiristas tinham tanta certeza que ela daria certo que ela acontece antes do logotipo da Marvel e dos Créditos Iniciais.

            E logo somos apresentados à todos os personagens. Gamora, a mulher mais poderosa do Universo (como ela mesma se autodenomina) é filha adotiva de Thanos e está atrás de uma esfera roubada que está nas mãos de Peter. A primeira cena dela, em uma luta com Peter, e com uma Direção de Arte linda, é instigante. Logo no meio da luta dos dois, aparecem mais dois personagens: Rocket Raccoon, um Guaxinim mercenário muito interessante, e Groot, uma árvore que é como uma espécie de guarda-costas de Rocket.

            Por atrapalharem a “ordem pública”, os 4 são presos. Lá, eles conhecem Drax, o destruidor e, mesmo com um sistema rigoroso de prisão, os cinco conseguem fugir (em uma cena de ação espetacular), junto com a bendita esfera.

            Mas, o que fazer com ela? Bom, ela é valiosa, e quase todos estão interessados em dinheiro, daí eles resolvem vendê-la ao Colecionador (Benicio Del Toro), mas, como um bom blockbuster, algo tem que dar errado...

            Paralelamente, as, digamos, forças do mal, também estão interessadas na esfera, Thanos, o ser mais poderoso do universo, a quer a todo custo, e manda seu braço-direito, Ronan e a Nebulosa (irmã de Gamora) atrás dela.

            A ousadia do filme não está somente em colocar heróis desconhecidos na tela, mas, também, em algumas situações: desde que Christopher Nolan ousou em colocar um tom mais sombrio com a franquia Batman, agora, todo mundo quer colocar isso em seu filme, e não necessariamente isso pode ser bom. Aqui no caso de ‘Guardiões da Galáxia’, existem os momentos mais intimistas, em que a platéia se envolve com a história, mas é inegável que o filme apresente um tom mais pop, humorístico e menos sério, embora, a história se leve muito a sério.

            No caso de ‘Guardiões da Galáxia’, é difícil apontar uma, mas, arrisco dizer que a melhor cena do filme é justamente a seqüência de abertura. Explico o porquê.

            Sem conhecermos e nos envolvermos com o drama e história de Peter, provavelmente encararíamos o filme como comédia passageira e como mais uma Sessão da Tarde, mas, felizmente, não é o caso.

            Os personagens, digamos, digitais do filme, Rocket e Groot, praticamente são apresentados aqui sem origem. O que é muito bom, afinal, a história recente mostrou que explicações demais podem prejudicar a evolução de um filme.

            Por falar nos dois, é impossível não se apaixonar e se envolver com a dupla. Vivemos em um mundo politicamente correto em que até um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo é contestado e enquanto a DC (olha o atraso novamente) discute se vale a pena ter um filme protagonizado por uma mulher, com sua Mulher Maravilha, a Marvel coloca no mercado uma árvore e um guaxinim (e não duvide de um filme solo da dupla). Em apenas uma semana que o filme está em cartaz, esses já símbolos, Groot e Rocket já caíram nas graças do grande público e pode escrever – seus bonecos venderão como água para este natal e vão colocar no chinelo brinquedos consagrados agora em 2014.

            Quem dubla Groot é Vin Diesel, de Velozes e Furiosos. A frase “Eu sou Groot” já pode ser considerada a frase do ano e uma curiosidade: Vin Diesel dublou a frase em 6 idiomas diferentes, inclusive em português e com sotaques.

            E quem dubla Rocket é Bradley Cooper, que começou como comediante e mais um galã, mas, agora, muito mais respeitado como ator, principalmente com seu ótimo ‘O lado bom da vida’.

            Mas, se não há motivação para Rocket e Groot, para Drax, há uma grande: Roman, o grande vilão deste filme aqui e braço-direito do Thanos, assassinou sua família e agora Drax quer vingança. Para ele, dinheiro é o de menos.

            Quem faz Drax é Dave Bautista. Na vida real ele é lutador de MMA e nunca havia feito um papel de destaque até então. Seu Drax é a chance de brilhar – seja como astro de ação ou ator mais sério.

            O filme acerta em não ter ninguém se sobressaindo no elenco, todos são tratados de forma igual e não há destaque. Mesmo a grande Zoe Saldana, com sua Gamora, tem tratamento igual. Ela que, aliás, virou nova musa nerd e ‘Guardiões da Galáxia’ já é sua 3ª franquia, como não se lembrar de sua Uhura em ‘Star Trek’ e Neytiri em ‘Avatar’. Sua Gamora é uma grande personagem e uma grande prova que mulheres hoje em dia não combinam mais como donzelas em perigo e agora partiram para o ataque.

            A dupla de roteiristas conta com o próprio diretor, James Gunn (de ‘Seres Rastejantes’) e da novata Nicole Perlman. Sim, uma novata. Ela não tinha escrito absolutamente nada antes de ‘Guardiões da Galáxia’, o que foi uma grande iniciativa da Marvel, de colocar pessoas novas e com novas visões de futuro para as próximas gerações. E o resultado ficou grandioso.

            Há um clima de nostalgia no filme, principalmente na visão de Peter. Ele não larga seu Walkman e ouve muita música antiga, em especial dos anos 1980. A cena da fuga da prisão, em que ele resgata seu Walkman, ao som de Jimmy Buffett com sua If You Like Pina Colada, é tão corajosa, que fica difícil imaginá-la em um filme desse tamanho. E o desfecho ao som de Ain’t No Mountain High Enough mostra o quanto esse filme tem tudo – e mais um pouco – para se tornar clássico.

            E como todo bom filme da Marvel, há a aparição rápida de Stan Lee – dessa vez como um sujeito paquerador – e a cena pós-créditos, que não tem nada a ver com o Universo Marvel e é mais um Easter-Egg de um outro filme antigo da Marvel.

            O próximo filme da Marvel será ‘Os Vingadores 2’, que estréia ano que vem. E no que depender de ‘Guardiões da Galáxia’, decepção não será a palavra.


Nota: 10,0

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