segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A Fraternidade é Vermelha



A Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs - Rouge)

Direção: Krzysztof Kieslowski

Ano de produção: 1994

Com: Irene Jacob, Jean-Louis Trintignant, Samuel Le Bihan.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos


Vermelho é a cor mais quente.

            Em 1993, o saudoso cineasta polonês Krzysztof Kieslowski teve a brilhante idéia de homenagear a França nos ideais de sua revolução: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. E também de fazer essa alegoria com as cores da bandeira francesa, respectivamente, azul, branco e vermelho. E o resultado foram 3 ótimas metáforas para o comportamento humano: ‘A liberdade é azul’, e já em 1994, ‘A igualdade é branca’ e ‘A fraternidade é vermelha’. Todos ótimos filmes e com algo em comum: ambos têm como pano de fundo o tema proposto do sentimento que tem no título e suas cores são um espetáculo em matéria de fotografia. É bom lembrar que nenhum dos filmes fala sobre a Revolução em si ou sobre feitos heróicos, são puramente sobre relações humanas.

            Mesmo sendo uma trilogia muito centrada e equilibrada, não é exagero nenhum dizer que, o melhor filme dessa trilogia é seu 3º, ‘A fraternidade é vermelha’. Essa pequena obra de arte foi muito aclamada no mundo inteiro e têm motivos para isso: é um filme que prioriza o bom roteiro e personagens. E, assim como os filmes anteriores, o uso das cores são quase como um personagem, no caso, a cor vermelha. A cor pode ser interpretada como metáfora para o sentimento e angústia dos personagens.

            Na história, temos uma modelo famosa, Valentine (Irene Jacob, em um papel sublime) que, acidentalmente, atropela um cachorro. Mas, no cachorro, há uma fita com um endereço que dava direto para o dono, no caso, o solitário Joseph. Além de Joseph ser um pouco frio e calculista, Valentine descobre que ele é um juíz aposentado e mais do que isso, que ele tem um hábito um pouco peculiar: ele ouve as conversas telefônicas de seu vizinho. O que de início pode gerar um sentimento de repulsa, termina em uma grande amizade entre Joseph e Valentine.

            Felizmente, estamos falando de uma obra feita com a competência do cinema francês. Se o filme fosse americano, ou feito pelos novelistas brasileiros, haveria uma espécie de julgamento para Joseph e Valentine seria seu anjo da guarda, e, possivelmente, até um possível caso. Mas, aqui, o roteiro conduzido também por Krzysztof Kieslowski, trata pessoas comuns em situações do cotidiano e mostra uma amizade madura e com mais humanidade do que muita pieguice por aí. Os diálogos na casa de Joseph, com uma fotografia mais escura, são intocáveis.

            Logo na sequência de abertura, temos um jogo de imagens muito bem feito com o telefone e o andamento de suas linhas, mostrando para a platéia o quanto esse meio de comunicação seria importante para a história.

            O cineasta Krzysztof Kieslowski viria a falecer em 1996, dois anos após o lançamento de ‘A fraternidade é vermelha’. Uma grande pena, mas fica aqui o reconhecimento e saber que ele fechou sua carreira com sua obra-prima.

            O filme recebeu 3 indicações ao Oscar de 1995: Melhor Diretor para Krzysztof Kieslowski, Roteiro Original e Fotografia. Tudo merecido, mas, registro aqui o omissão por parte da Academia para a não indicação de Melhor Atriz para Irene Jacob. Seu papel como Valentine é melhor do que de todas as indicadas naquele ano, inclusive da que venceu o Oscar, que foi Jessica Lange por ‘Céu Azul’. É certo que, infelizmente, há um preconceito por atrizes e atores que não falam a língua inglesa, mas a Valentine de ‘A fraternidade é vermelha’ ter passado em branco por quase todas as premiações, é quase que um crime cinematográfico.

            Se Irene Jacob fosse uma atriz norte-americana, ela já teria um Oscar na estante há muito tempo, bem como nossa Fernanda Montenegro por seu papel em ‘Central do Brasil’.


Nota: 10,0

Imagens:










Trailer:

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