Kinsey – Vamos falar de sexo (Kinsey)
Direção: Bill Condon
Ano de produção: 2004
Com: Liam Neeson, Laura Linney, Oliver
Pratt, Chris O’ Donnell.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 16 Anos
“Kinsey” tem uma história tão surreal que só poderia ser
real.
Nos dias de hoje, a sociedade americana vende para o
mundo como um povo progressista e com idéias avançadas, mas é bom saber que, em
um passado não muito distante, eles já foram puritanos, e por que não dizer,
retrógrados. Estamos falando do início dos anos 1950, com a sociedade ainda com
o calor da vitória da 2ª Guerra Mundial e dessa vez com um novo inimigo
declarado: a URSS, e, fundamentalmente, o sistema comunista.
Era uma época, também, que o sexo era um tabu. E foi
nesse tempo e espaço que viveu o Dr. Alfred Kinsey, que revolucionou a forma de
como encaramos a sexualidade e seu legado permanece até os dias de hoje.
Mas, afinal, quem foi esse Alfred Kinsey?
Ele foi um Entomologista e Zoólogo norte-americano que,
de início, tinha poucas pretensões e coletou mais de 1000 vespas para estudar
mais a fundo a espécie.
Mas foi em outro ramo que Kinsey se destacou. Ele sempre
teve a infância reprimida, em especial seu pai, que o reprimia de quase tudo,
até da dança de salão (!). Kinsey se casou virgem aos 25 anos com Clara
McMillen, mas logo percebeu que, sexualmente, o casal ia mal. Seu pênis era
muito grande e a penetração causava dores à sua esposa. O casal tentou procurar
ajuda médica, mas ninguém tinha respostas às dúvidas. E foi por essas dúvidas
que Kinsey começa a se interessar pela sexualidade humana. Com todos esses
porquês, ele começa conversando com homens e mulheres, queria mostrar para o
mundo que no sexo tudo é normal e com o tempo descobre que sua atração também é
por homens.
Kinsey começa entrevistando seus alunos (ele é professor
universitário), e depois expande para o público em geral, mas seu ápice foi com
suas principais publicações: em 1948, ele publica o livro ‘Sexual Behavior in
the Human Male’ (Comportamento sexual masculino, que, absurdamente, não foi
publicado no Brasil) e em 1953, ‘Sexual Behavior in the Human Female’
(Comportamento sexual feminino, que também não chegou por aqui).
Seus livros foram um sucesso de público e crítica, mas
não demora muito para a sociedade conservadora o acusar de tudo o que é nome:
foi chamado de “destruidor de lares”, de sádico e, claro, de comunista.
Mas, seu estudo mais polêmico foram as entrevistas com
pedófilos para conhecer o que ele chamou de “orgasmo infantil” (um tema
polêmico até para os dias de hoje).
Sua morte foi em 1956, mas suas idéias e obras são
estudadas até hoje, em especial em cursos de educação sexual e faculdades de
psicologia.
E é exatamente sobre essa história e pessoa que fala o
filme ‘Kinsey – vamos falar de sexo’.
A direção e o roteiro são de Bill Condon (de ‘Deuses e
Monstros’) e faz uma homenagem honesta à pessoa e à obra de Kinsey.
Mais do que isso, é uma bela reconstrução de época e,
embora o filme não tenha feito sucesso comercial (mas deveria!) é uma história
que merece ser conhecida, seja pelo filme ou pela biografia do Kinsey.
Quem interpreta o protagonista é Liam Neeson, que faz
brilhantemente o médico que, ao passo que é um doutor revolucionário, é um
homem inseguro e internamente infeliz, além dos problemas em casa.
E sua esposa, Clara McMillen é interpretada pela sempre
ótima Laura Linney (indicada ao Oscar pelo papel) e faz uma típica dama dos
anos 1950: insegura sexualmente e dividida entre crescer como uma mulher e
manter a tradição paternalista. A primeira cena em que ela e seu marido vão ao
médico para falar dos problemas sexuais, bem como o ato sexual em si, são muito
bem produzidas.
Mas por mais que o filme seja muito bem realizado e
escrito, são maior trunfo é entender a mentalidade da sociedade da época.
A forma como Bill Condon coloca a todos, desde o
tradicionalismo até os jovens mais pervertidos, é um ponto chave para o filme.
Desde o semblante de um casal jovem constrangido em contar suas experiências
até os risinhos nervosos na aula de educação sexual, mostram que o ser humano é
alheio às mudanças.
Esse filme, ‘Kinsey – vamos falar de sexo’, não deve ser
visto como um produto de entretenimento. E, para os mais entusiasmados, digo
que as cenas de nudez e sexo são raras e quase nulas. O filme se preocupou mais
em mostrar a história do homem e seu legado.
E se considerarmos que, em pleno ano de 2014, cerca de 60
anos depois dos acontecimentos do filme, um simples beijo entre dois homens em
uma novela provoca comoção e era algo novo na telinha da TV, vemos que,
infelizmente, a sociedade não evoluiu sexualmente.
Nota:
9,0
Imagens:
Trailer:
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