American Horror
Story: Asylum
Criação:
Ryan Murphy
Ano de produção: 2012
Com: Sarah Paulson, Jessica Lange, Lily
Rabe, Zachary Quinto, Evan Peters, Joseph Fiennes, James Cromwell, Lizzie
Brocheré.
Gênero: Terror
Classificação
Etária: 18 Anos
O terror se multiplica – e se renova.
Puxe bem pela memória: qual foi o último filme bom de
terror que você viu? Possivelmente já faz algum tempo. Com o cinema investindo
mais em suas franquias, a boa qualidade do terror em assustar está sendo jogada
de lado. E quando tem, ela é mal feita. Após o furacão que foi a franquia ‘Jogos
Mortais’, os estúdios estão apostando em torturas sem limites. E após o
fenômeno que foi ‘Atividade Paranormal’, agora os filmes de terror genéricos
que falam sobre espiritismo estão por aí. E a grandiosa maioria é de qualidade
duvidosa.
Mas, voltando à pergunta inicial, qual será que foi o
último bom filme de terror que nós vimos? Bom, a esperança estava no ano
passado com ‘Carrie – A Estranha’, um remake do filme de 1976 e com uma boa
atriz como protagonista: Chloe Grace Moretz. Mas o resultado foi um fracasso de
público e crítica.
O último filme bom de fato de terror possivelmente foi o
1° Jogos Mortais, de um distante 2004. Antes de a série virar repetição de si
mesma, ela mostrou um ponto de vista diferente de terror e um final surpresa.
Mas, e os dias de hoje? Bom, se considerarmos que vivemos
a época de ouro das séries de TV, com roteiros e personagem melhores do que o
cinema, isso também aconteceria naturalmente com as séries de terror.
Ou melhor, A série, no singular mesmo, que não só
apresenta um roteiro ultra-inteligente, situações de fotografia e câmera de
atiçar e assustar o espectador e ainda inovar até no formato atual das séries:
American Horror Story. Criada por Ryan Murphy em 2011 já irá para a 4ª
temporada no canal Fox, mas esse comentário se resume à 2ª temporada, de 2012,
que já está disponível no Netflix.
E porque ela é tão inovadora? Por duas razões. Primeiro,
é que toda e qualquer série, independentemente do número de temporadas, conta
uma história centrada e fechada e muitas vezes, para o entendimento de uma 4ª
temporada, por exemplo, deve-se voltar à 1ª e entender todo o contexto. E aqui
não. Cada temporada começa e termina de um jeito completamente diferente da
anterior. No caso de American Horror Story, a 1ª temporada se passou em uma
casa abandonada e a 3ª foi em um convento. E a 2ª (a melhor de todas – e objeto
desse estudo) se passa em um hospício.
Outra razão para a série ser tão inovadora é o clima de
terror que só se tinha nos grandes clássicos do gênero, como ‘O Exorcista’ e ‘O
Iluminado’. Muitas vezes o terror não está só nos momentos sanguinolentos, mas
às vezes até em um diálogo, ou expressão de algum personagem. É quase que uma
referência e homenagem aos primeiros filmes de Darren Aronofsky, ‘Pi’ e ‘Réquiem
para um sonho’.
Essa 2ª temporada, Asylum, se passa no hospício Briarcliff,
no ano de 1964. A instituição foi fundada pelo padre Timothy (Joseph Fiennes) e
conta com freiras e médicos para cuidar dos pacientes. A líder dessas freiras é
a irmã Jude (Jessica Lange) e sua assistente, Mary Eunice (Lily Rabe). Os doutores
responsáveis pela “cura” dos pacientes são o cientista Arthur Arden (James
Cromwell) e o psiquiatra Oliver (Zachary Quinto). Muitos pacientes estão lá de
forma injusta, que é o caso da jornalista Lana Winters (Sarah Paulson), e os
possíveis assassinos, Kit Walter (Evan Peters) e Grace (Lizzié Brocheré).
Cada personagem tem o seu momento na série. E a cada
episódio fica aquela impressão de que “nada é o que parece ser”. Muitas vezes,
aquele personagem que era tratado como herói ou “do bem”, se revela mais
perigoso. Ou ao contrário. De início, o espectador é apresentado à personagem
da Jessica Lange, que é mostrada como uma freira ditadora e impiedosa. Ela prende
Lana injustamente no hospício por suas idéias contrárias e a série vai
mostrando em flashbacks o tratamento cruel que ela dá aos pacientes e seu vício
por álcool.
Mas depois, a coisa muda de lado. A irmã Jude começa a
perder poder na instituição para o Dr. Arden e é vítima de armação de sua “amiga”,
Mary, que toma o poder e interna Jude e a rebaixa como uma paciente comum.
Mas quem são Arden e Mary? O Dr. Arden sempre foi
apresentado na série como um personagem obscuro – e quanto mais se sabe sobre
ele, mais interessante ele fica. Ele faz experimentos em seres humanos – do mesmo
jeito que a ciência faz em ratos hoje em dia – e tem o “sonho” de transformar
seres “inferiores” (os pacientes), em seres “evoluídos”. Alguém associou isso
ao Nazismo? Se alguém fez esse paralelo, acertou em cheio. O Dr. é acusado pela
paciente Charlotte Brown (papel de Franka Potente) se ter servido ao Nazismo. O
problema é que ninguém acredita nela. Primeiro pelo seu estado visível de
loucura, segundo porque ela diz que é a própria Anne Frank, que escreveu seu
diário em um Best-Seller. Esse arco ocorre em 2 episódios apenas, mas tem um
grande desfecho.
E Mary é apresentada, de início, como uma freira doce e
atenciosa, mas que se revela ambiciosa e ainda pior, possui o diabo no corpo. Literalmente.
E conforme a série vai passando, seu estado de possuída é mais evidente e vai
tendo contornos de sadismo e crueldade. Vai chegar uma determinada hora da
série que Mary será a grande vilã.
Outro detalhe importante é a troca de protagonistas ao
longo dos episódios. De início tínhamos a Jessica Lange como o principal nome,
mas que depois outros personagens serão apresentados e, assim como o Dr. Arden,
quanto mais se conhece, mais interessante fica. Que é o caso do psiquiatra
Oliver, que de mero coadjuvante e homem certinho se revela um sádico e
psicopata (fazendo o paradoxo de sua profissão). Ele seqüestra Lana para suas
experiências com mulheres e acusa Kit Walter injustamente de assassinato, sendo
que o culpado é ele.
Aliás, Kit Walter é vivido de forma soberba por Evan
Peters. Ele está nas 3 temporadas da série e se revela um ótimo ator. Ele viveu
o mutante Mercúrio em ‘X-Men: Dias de um futuro esquecido’ e está em alta em
Hollywood. E deve estar na 4ª temporada.
Mas a grande protagonista da série, aquela personagem que
vai definir o futuro da série é a Lana Winters. Ela começa como uma mera
jornalista, é internada injustamente e passa por poucas e boas na série: quando
ela tem um suspiro de liberdade, iludida pelo Oliver de libertá-la, mas ele a seqüestra
e só não a mata porque, por um golpe de pura sorte, ela consegue fugir. Mas quem
disse que essa fuga que trará paz? Ela acaba voltando a Briarcliff e tem que
conviver com uma espécie de ditadura da irmã Mary Eunice e experimentos do Dr.
Arden. Quando ela finalmente consegue o direito de sair do hospício, ela conta
suas experiências em seu livro – que logo vira Best-seller - e inicia o plano
de fechar as portas de Briarcliff.
A história não termina aí, mas daí para frente seria
entregar demais a história, mas ‘American Horror Story: Asylum’ é um puro
deleite para fãs de terror e sempre está entre os indicados a Globo de Ouro e
Emmy.
Outro detalhe importante: como uma legítima série adulta,
a falta de pudor é um ponto alto. Não espere sutilezas nas cenas, a série é
estritamente violenta e sombria – e ousada também. A cena em que a irmã Mary e
o padre Timothy transam (sem a vontade dele e com direito a uma rápida nudez
frontal dela) é dessas coisas que jamais passariam em uma TV aberta, por
exemplo.
Enquanto é discutido se pode ou não um beijo gay, ‘American
Horror Story: Asylum’ está a mil corpos à frente do seu tempo.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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