Taxi Driver
Direção: Martin Scorsese
Ano de produção: 1976
Com:
Robert De Niro, Jodie Foster, Harvey Keitel, Cybill Shepherd, Albert Brooks, Martin
Scorsese.
Gênero: Drama
Classificação
Etária: 18 Anos
Feito há quase 40 anos, “Taxi Driver” ainda está
assustadoramente atual
Hollywood produz mais de 300 filmes por ano. É a 2ª maior
indústria de cinema do mundo, ficando atrás da indústria indiana, Bollywood,
que produz mais do que o dobro de filmes da indústria americana. Mas o cinema
de Hollywood é, indiscutivelmente, mais famoso e mais milionário, pelo menos
para nós, ocidentais.
Mas desses mais de 300 filmes por ano, quantos serão
lembrados daqui há 10, 20 ou 50 anos. Eu posso garantir que são pouquíssimos. E
são esses poucos que se tornam clássicos, cultuados e amados por gerações. E de
muitas épocas gloriosas da 7ª arte, a mais lembrada de forma carinhosa pelos
críticos e cineastas são os anos 1970. Para quem não sabe, no início dessa
década, Hollywood estava quase falida e o cinema precisava se reinventar. Foi
preciso a união de alguns cineastas considerados rebeldes (influenciados pelos
movimentos dos anos 1960) para mudar tudo isso, são eles: George Lucas, Steven
Spielberg, Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Havia a necessidade do
chamado “cinema de autor”, pois tudo o que estava ali, que eram os
velhos-oestes e os grandes musicais, estavam fadados ao fracasso.
George Lucas reinventou o cinema com seu “Star Wars” em
1977; Spielberg também reinventou o cinema de verão (na verdade inventou) com
seu “Tubarão”, que, por décadas, foi a maior bilheteria do cinema em terras
brasileiras (até chegar Titanic em 1998). Coppola fez a trilogia “O Poderoso
Chefão”. Precisa dizer mais?
Faltou um? Pois é desse mesmo que iremos falar aqui.
Martin Scorsese fez um grande filme em 1974: “Alice não
mora mais aqui”, que virou cultuado e deu o Oscar de Melhor Atriz para Ellen
Burstyn (de “Réquiem para um sonho”). Mas foi com “Taxi Driver” que ele
realmente se confirma como um grande cineasta. Um diretor corajoso e que faz um
cinema autoral – e até os dias de hoje – seu último filme, “O lobo de Wall
Street”, que estreou este ano, foi uma obra com a sua cara, quase sem pudor
nenhum e com a temida classificação etária de 18 anos.
Taxi Driver não foi um sucesso comercial (na verdade,
filmes do Scorsese não fazem sucesso, à exceção de “A invenção de Hugo Cabret”
e “Os Infiltrados”), mas o reconhecimento crítico e o status de cult fazem o
filme ser lembrado até hoje.
E não só Taxi Driver é lembrado até hoje como é um filme
que não envelhece. Muito pelo contrário, suas situações sombrias e suas
citações ecoam até hoje, considerando a sociedade atual.
Taxi Driver conta a história de Travis (Robert de Niro,
sensacional!), que é um veterano da Guerra do Vietnã e aceita trabalhar como
taxista nas madrugadas de Nova York. Dentre várias situações bizarras que ele
presencia, entre drogas, prostituição e bebedeira, ele conhece a secretária do
candidato a presidente, Betsy (Cybill Shepherd). Na visão dele, Betsy é linda
demais e acaba se apaixonando por ela. Após um encontro frustrado em um cinema
pornô (!), Betsy o rejeita e Travis planeja assassinar o candidato a
presidente. Na compra da arma, ele se olha no espelho e diz a famosa frase:
“você está falando comigo”? Outro destaque é a personagem de Iris (Jodie
Foster), uma prostituta de 14 anos, que é hostilizada por seu cafetão e Travis
fica obcecado em salvá-la.
Para muitos, este é o melhor filme da carreira de
Scorsese. E tem motivos para isso sim. Além da história poderosa, temos que
ressaltar as atuações. Robert De Niro estava no auge de seu talento e
fresquinho pelo Oscar em 1975 por “O Poderoso Chefão 2”. E, no caso de “Taxi
Driver”, sempre com seu melhor diretor, que é o Scorsese. E este foi o primeiro
papel de Jodie Foster em sua carreira. Ela de fato só tinha 14 anos. Foi
indicada ao Oscar pelo papel e Scorsese viu nela a grande atriz que seria. Ela
cresceu e se tornou das atrizes mais importantes da história e faturou 2
merecidos Oscars, em 1989, por “Acusados” e em 1992 por “O Silêncio dos
Inocentes”.
A trilha sonora, muito viva até hoje, é composta por
Bernard Herrmann. Ele era o compositor preferido de Hitchcock e trabalhou com
ele por vários filmes. Foi ele que fez a famosa e poderosa trilha de “Psicose”.
Ele faleceu em dezembro de 1975 e não viu “Taxi Driver” pronto.
Há outro ponto que não se deve ser destratado ao falar de
“Taxi Driver”: Oscar 1977. Foi das premiações mais polêmicas da história ao
premiar aquele que é, na minha opinião, apenas mediano, “Rocky – Um Lutador”.
Haviam 3 filmes melhores do que ele para merecer o prêmio de Melhor Filme – e
muito mais corajosos – além do próprio “Taxi Driver”, também tinha “Todos os
homens do presidente”, que relata o escândalo de Watergate, mas, principalmente
o poderoso filme de Sidney Lumet, “Rede de Intrigas”. Assim como “Taxi Driver”,
é um filme muito à frente do seu tempo por tratar de manipulação da mídia e a
arte do espetáculo. Mas “Rede de Intrigas” foi até bem na premiação, ganhou 4
Oscars, de Roteiro Original e Ator para Peter Finch (que havia morrido um mês
antes da premiação) e injustamente para Beatrice Straight de Atriz Coadjuvante
(deveria ter ficado para Jodie Foster). Mas o prêmio mais justo foi o de Atriz
para Faye Dunaway. Ela estava no auge de seu talento e beleza e sua personagem
é tão formidável quanto cínica.
Bom, com tudo isso, porque raios premiar um filme tão
insignificante quanto “Rocky – Um Lutador”? Se “Rede de Intrigas” já tinha
ganho 4 prêmios, porque não premiá-lo como Melhor Filme também? Há uma
explicação para isso. Em 1977, os EUA estavam na lona, com a derrota na Guerra
do Vietnã e o escândalo de Watergate com o presidente Nixon e eles estavam
precisando de algo para levantar a moral e deixar mais em evidência o sonho
americano. E eles acharam melhor premiar uma história de superação do que uma
obra mais política.
Uma
pena e Taxi Driver saiu de mãos vazias. Uma obra tão à frente de seu tempo que
assustou os membros da Academia. Mas não faz mal. A vida é assim mesmo.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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