Divergente (Divergent)
Direção: Neil Burger
Ano de produção: 2014
Com:
Shailene Woodley, Theo James, Kate Winslet, Jai Courtney, Miles Teller, Zoe
Kravitz, Maggie Q, Ashley Judd, Tony Goldwyn .
Gênero: Aventura
Classificação Etária: 14 Anos
“Divergente” é fraco como cinema e como adaptação
literária.
Definitivamente, Hollywood sabe explorar um tema até ele
ficar repetitivo. Para o bem e para o mal, as adaptações literárias se tornaram
quase obrigatórias para os estúdios. E sucesso de literatura não
necessariamente quer dizer sucesso de bilheteria. Que o diga “Dezesseis Luas” e
“Instrumentos Mortais”, este último, uma grande série de livros, é verdade, mas
o filme é fraco. Mas a verdade é que todos querem ser o sucesso de “Jogos
Vorazes” na atualidade e os já consagrados “Harry Potter” “Senhor dos Anéis” e “Crepúsculo”.
O que os executivos têm que entender é que essas obras são originais e trouxeram
algo de novo ao cinema e muitos filmes são um quase plágio de obras
consagradas. Até mesmo “Crepúsculo” com todas as suas falhas, trouxe algo de
novo ao cinema e não devemos nos esquecer da importância literária que a serie
de livros da Stephenie Mayer trouxe ao mundo.
E agora, em 2014, com o estouro da franquia “Jogos
Vorazes”, logo os estúdios resolveram colocar uma adaptação literária quase do
mesmo patamar: “Divergente”, baseado em uma trilogia de livros da autora
Veronica Roth. Os 3 livros já foram lançados no Brasil e eu, Raphael, só li até
agora o 1º livro, que deu nome a esse filme, “Divergente”. Os outros 2 livros, “Insurgente”
e “Convergente”, espero ler para os próximos meses.
E quais foram as impressões lendo o livro? Então, fiquei
muito surpreso de forma positiva. Fiquei com receio de ser plágio de “Jogos
Vorazes”, principalmente por se tratar de um futuro distópico e ditatorial. Mas,
“Divergente”, que não tem nada a ver com a obra da Suzanne Collins, tem muitas
qualidades, é um livro absolutamente bom de se ler e a escrita de Veronica Roth
é muito competente. Aliás, é uma nova onda – e onda positiva, diga-se de
passagem – de novos escritores jovens no mercado da literatura. Inclusive aqui
no Brasil, basta ver as obras deliciosas de, por exemplo, Raphael Draccon,
Carolina Munhoz e Ana Macedo, entre muitos outros.
E com uma história tão poderosa como a de “Divergente”,
logo a Summit Entertainment, também distribuidora da série “Crepúsculo” viu que
esta poderia ser uma nova franquia.
O problema é que, “Divergente” é fraco, tanto como cinema
tanto como adaptação literária. As atuações são fraquíssimas, a direção é
amadora e nem a parte técnica salva.
A história de “Divergente” se passa em uma Chicago do
futuro, em que as guerras inexistem e a sociedade se divide em 5 facções:
Amizade, Abnegação, Audácia, Erudição e Franqueza. A protagonista, Beatrice (Shailene
Woodley) vive na Abnegação, que é uma facção que defende que a vida deve se
privar de qualquer vaidade. Ao completar 16 anos, todos são obrigados a fazer o
teste, quase como um teste vocacional, para saber em qual facção a pessoa se
encaixa. E Beatrice, ao completar 16 anos também faz seu teste. Porém, seu
teste dá inconclusivo, o que eles chamam de Divergente. Para não levantar
suspeitas, Beatrice escolhe o caminho da Audácia, que são uma espécie de protetores
da sociedade, mas, Beatrice, que depois adota o nome de Tris, descobre que
escolher a Audácia pode não ter sido uma boa escolha, principalmente pelos
testes sub-humanos para fazer parte da facção mas também porque ela descobre
que a Erudição, que é uma facção que defende a inteligência e a razão, quer
controlar a tudo, diminuindo o poder da Abnegação e transformando a Audácia em
um exército.
Quando eu disse anteriormente que “Divergente” é fraco
como adaptação e como cinema é por motivos muito simples: quem leu o livro se
sente desolado e o prólogo do filme se passa tão rápido que mal dá para se
envolver emocionalmente com a protagonista. Obviamente que uma adaptação
cinematográfica não vai seguir o livro à risca, pode faltar algo, desde que
tenha uma certa coerência e inteligência por trás da história. Foi o mesmo
problema de “O Código da Vinci”, que como se não bastasse isso, respeitou
demais o livro que não merecia tanto respeito. Uma adaptação cinematográfica
pode e deve mudar conteúdos do livro, afinal, uma adaptação deve ser livre, mas
muita coisa faltou nesse filme, como a melhor amiga de Tris, Christina, vivida
por Zoe Kravitz, que no livro tem presença onipresente, mas aqui é uma
coadjuvante de luxo. E o filme tem um grande problema de interpretação, pois
começa com a narração em 1ª pessoa, mas o filme é todo contado em 3ª pessoa,
embora focado na Tris.
E quem não leu o livro? Pois bem, havia um receio da
história ficar parecida com “Jogos Vorazes” pelo contexto, mas digo que “Divergente”
é, na verdade, mais parecido é com “Crepúsculo”. Sim, é tudo o que vocês não
queriam ouvir, principalmente por focar mais no romance de Tris e Quatro,
vivido por Theo James. A ditadura no futuro distópico é, portanto, um segundo
plano na trama.
Mas e o elenco? A escolha de Shailene Woodley como Tris
foi a pior possível. Ela está em alta em Hollywood, já tem uma indicação ao
Globo de Ouro por “Os Descendentes” em 2012 de Atriz Coadjuvante e está, agora,
em 3 franquias. Além dessa, “Divergente”, ela será a Mary Jane em “Homem-Aranha”
e será a protagonista de outra adaptação literária, “A culpa é das estrelas”,
com previsão de estrear em Junho nos cinemas.
Vendo “Divergente”, observa-se que ela é uma atriz muito
limitada e que, infelizmente, não tem a força que um filme deste tamanho
exigia. Assim como Kristen Stewart em “Crepúsculo”, sua atuação é, no máximo,
mediana. Sua atuação boa em “Os Descendentes”, foi portanto, uma sorte do
destino por estar ao lado de nomes como George Clooney e do diretor Alexander
Payne.
O restante do elenco não ajuda, em especial o elenco
jovem. Alguns merece, aliás, indicações ao troféu Framboesa de Ouro, como o
próprio Theo James, que interpreta Quatro, que está mais preocupado em fazer
pose de galã do que em atuar e mesmo quando ele é exigido, como quando ele é
manipulado pela Erudição, ele não consegue mostrar carga dramática nenhuma. Aliás,
seu romance com Tris não empolga. Ele é arrogante e de início destrata a
protagonista e depois ele vira o herói e o queridinho da vez. Fica difícil
torcer pelo casal. O elenco jovem também é péssimo, como Jai Courtney, como
Eric e Miles Teller como Peter também infelizmente estão mal. E é bom eu
lembrar do nome dos dois agora, Miles Teller e Jai Courtney, que amanhã eu já
devo esquecer. Assim como já me esqueci do rosto.
Mas a decepção
maior fica mesmo com o diretor, Neil Burger, um bom diretor, que fez “O
Ilusionista” e “Sem Limites”, que é um bom cineasta e seus filmes tinham como
característica maior a loucura e até onde o ser humano pode chagar. Aqui, ele
está mais contido, mais por culpa do estúdio, que queria um produto mais
adolescente e menos ousado e menos por culpa de seu talento.
O filme só fica bom mesmo com a vilã, Kate Winslet, essa
sim, que dá um tom maior à história e sua ditadora Jeanine é um alívio na,
digamos, “crepusculada” que o filme dá. Seu método de controlar a mente humana,
em transformar os integrantes da Audácia em soldados sem emoção é de arrepiar e
quando ela aparece em cena, o filme solta faíscas.
Ah, com o sucesso nos EUA e no Brasil, “Insurgente” vem
logo aí em 2015.
Nota:
3,0
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