sexta-feira, 28 de março de 2014

Drive



Drive (Idem)

Direção: Nicholas Winding Refn

Ano de produção: 2011

Com: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Craston, Albert Brooks, Oscar Isaac, Christina Hendricks.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos



“Drive” foge da mesmice e ousa sem sutilezas.

            Durante o Festival de Cannes de 2011, duas coisas ficaram na história: uma foi o discurso polêmico do diretor Lars Von Trier na coletiva de imprensa do filme “Melancolia”, em que ele diz que entende Hitler e os motivos que o levaram ao nazismo. A declaração pegou mal e isso quase abafou as qualidades que “Melancolia” tem. Isso foi um fato negativo. Porém, na mesma festa, houve um fato positivo, na verdade, foi um filme que ninguém deu muita bola, surpreendeu à todos e no final da exibição foi ovacionado por 15 minutos. Esse filme é “Drive”, do diretor dinamarquês Nicholas Winding Refn (que venceu o prêmio de direção em Cannes) um filme absolutamente incrível, que não tem nada a ver com o padrão americano de entretenimento e que, infelizmente, passou quase batido pelo Oscar.

            Drive conta a história de um sujeito, cujo nome nunca é revelado, ele “apenas dirige”, como ele se auto-intitula, vivido por Ryan Gosling (sensacional no papel!) que trabalha em uma oficina de carros e também trabalha como dublê de filmes de ação. Ele praticamente não tem vida além disso, até que conhece Irene (vivida pela irresistível Carey Mulligan) e seu filho, que começa uma grande amizade?! O marido de Irene, Standard, está na prisão, mas logo é solto e deve 200 mil dólares para uma quadrilha, que espanca Standard e ameaça fazer o mesmo com a família. O protagonista toma as dores e rédeas da situação e planeja pagar os criminosos, desde que deixem a família em paz, mas algo dá errado...

            Os produtores bem que queriam, mas não conseguiram vender “Drive” como um filme de ação de carros no estilo “Velozes e Furiosos”, o que, veja bem, não há nada a ver uma coisa com a outra. Isso explica o fato de muita gente ter se frustrado com esse filme aqui. O diretor mesclou bem as cenas espetaculares e o drama intimista.

            A trilha sonora é impressionante, como na seqüência de abertura em que somos apresentados ao personagem e também na cena do assalto em si, na qual há uma ausência de som, deixando para a própria platéia tomar suas decisões.

            O protagonista jamais diz seu nome, quase que como uma metáfora para um ser marginalizado e sem vida, tendo de fato uma vida somente ao lado de Irene, que, aliás, as expressões do protagonista deixam claro o seu interesse na moça, mas em momento algum o filme cai no romance e no melodrama. Pelo contrário, o motorista é quase sem expressão ao lado de Irene, mas seu olhar diz tudo sobre seus interesses. Em uma cena, ela pergunta se não é perigoso ele trabalhar dirigindo, mas, para ele, nada é mais perigoso do que se apaixonar pela esposa de um presidiário. Há um único beijo, dentro do elevador, uma cena fantástica, em que até a iluminação é abaixada para um clima mais intimista, com um desfecho violento e de roer a unha.

            Na segunda metade, o filme fica ultra violento, mas nada é mais perturbador do que as expressões frias do protagonista e deve-se salientar que aqui a violência é mais psicológica do que física.

            E o que dizer do elenco? Por um absurdo inexplicável, Ryan Gosling passou despercebido pelas premiações, assim como Carey Mulligan como atriz coadjuvante. Há um forte elenco de peso, como Albert Brooks, como um mercenário e uma atenção total à dois atores de séries premiadas de TV por aqui: Bryan Craston, de Breaking Bad como o chefe do protagonista e Christina Hendricks, de Mad Men, como uma stripper.

            Drive não é exatamente ação, nem drama nem romance mas é uma mistura de tudo um pouco. Sem explorar nada e sem os costumes e maniqueísmos americanos. Vida longuíssima ao cinemão independente.


Nota: 10,0


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