domingo, 23 de fevereiro de 2014

Robocop

Robocop

Direção: José Padilha

Ano de produção: 2013

Com: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Abbie Cornish, Michael Keaton, Jackie Earle Haley, Jennifer Ehle, Samuel L. Jackson.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 14 Anos


Ação de tirar o fôlego e com sangue brasileiro em “Robocop”.

            Fazer remake é realmente algo perigoso, principalmente quando o produto original é um sucesso e amado por muita gente. Que o diga Gus Van Sant. Em 1998 fez a pérola de refilmar o clássico “Psicose”, de Hitchcock. O resultado foi desastroso. Em 2012, o diretor Lee Wiseman (de “Anjos da Noite”) teve a “brilhante” ideia de refilmar “O Vingador do Futuro”, eternizado por Schwarzenegger e dirigido por Paul Verhoeven. O resultado foi também desastroso. E agora, outro filme de Verhoeven é refilmado. Um grande filme, aliás, que mudou muitos parâmetros da ação e ficção do final dos anos 1980, fala de muitas relevâncias como corrupção e política e não morreu com o tempo. Esse é “Robocop – O policial do futuro”, de 1987, que foi um grande sucesso, gerou moda e continuações e está vivo até hoje: revendo o filme antigo ele ainda está bacana pelas cenas e principalmente pela corrupção e conspiração.

            Olhando para esse lado mais político, o diretor brasileiro José Padilha e a Sony viram que um produto poderoso como esse não poderia ficar apenas na memória, mas que tinha que ganhar vida nos dias de hoje, principalmente com a tecnologia de hoje. E com o grande sucesso comercial e crítico que “Tropa de Elite” 1 e 2 ganharam, Hollywood viu em Padilha que ele tinha muito potencial e talento para levar a história do homem-máquina para os tempos atuais.

            E o resultado é ótimo. Alguns amaram outros odiaram, em alguns casos, as comparações com o original são inevitáveis, mas o que tem que deixar claro é que Padilha quis dar uma cara diferente à história, sem copiar a ideia original, o que é muito bom pois dá um ponto de vista diferente para a história e principalmente pega a plateia de surpresa.

            Não foi só Padilha de brasileiro que foi à Hollywood, mas também foi o diretor de fotografia, Lula Carvalho e o montador, Daniel Rezende (ambos de Tropa de Elite) e assistindo a Robocop, nota-se muitas características do filme do Capitão Nascimento: conspiração, sujeira, corrupção e um herói incorruptível. Nesse caso, com um orçamento muito maior do que no Brasil, o resultado é lindo.

            As cenas de ação estão perfeitas, na verdade de tirar o fôlego, logo na abertura, temos um treinamento de drones em solo iraniano resultando a morte de civis, com a câmera acompanhando os robôs e o psicológico dos moradores que mais parecem que irão à guerra é espetacular.

            Nessa mesma abertura, também somos apresentados ao jornalista sensacionalista Pat Novak, vivido muito bem por Samuel L. Jackson, que defende a presença de drones em solo americano e diz que o governo é antiquado. Além de ser uma referência aos apresentadores brasileiros, como Datena e Marcelo Rezende, também é uma referência ao personagem de André Mattos em Tropa de Elite 2.

            Logo depois, somos apresentados a Alex Murphy, vivido por Joel Kinnaman (da série “The Killing”), em seu primeiro dia de trabalho, que se envolve com a gangue de Vallon e essa mesma gangue arma um atentado à vida de Alex, colocando uma bomba em seu carro. Alex quase morre e quase fica paraplégico, mas sua esposa (Abbie Cornish, de “Sucker Punch”) aceita que o governo americano o transforme em máquina, transformando-o em Robocop.

            Mas de onde veio a ideia de governo de criar o robô? Na verdade, no futuro não muito distópico do filme, a violência de Detroit está incontrolável e o governo resolve criar robôs para combater o crime, porém, robôs não têm emoção e o senado veta o uso de robôs na rua. Mas o governo queria mais. Queria um homem com a armadura, um homem com emoções sim, mas eficiente no combate ao crime. Daí veio a ideia da empresa Omnicoop criar o Robocop, principalmente de seu dono, o corrupto Sellars (vivido por um surpreendente Michael Keaton) e do Dr. Norton, vivido por Gary Oldman, sempre ótimo.

            Mas como controlar o emocional e ainda ser frio e eficiente no combate ao crime? A resposta é: impossível. E então os criadores resolvem tirar de Murphy todo o seu hormônio dopamina (que nos dá a emoção e sentimentos) e daí ele vira uma máquina, literalmente – A cena em que ele não reconhece sua família é sensacional – e logo o crime chega a quase zero em Detroit, mas logo Murphy descobre que os verdadeiros criminosos estão ao seu lado, principalmente Sellars, que só pensa em dinheiro acima de tudo.

            A mudança principal em relação ao filme original foi que aqui Murphy está vivo e naquela ocasião nosso herói está morto. Mas não é só isso: o foco aqui, além da corrupção é o psicológico do nosso herói. No filme de 1987 a família de Murphy não tinha tanto destaque. Por aqui, não só tem destaque como a participação da esposa é fundamental no roteiro, inclusive batendo de frente com o sistema. Bater de frente com o sistema? Alguém se lembrou de Tropa de Elite 2? Pois é, um cineasta é assim: possui uma marca própria, faz referência a si mesmo – e a outros diretores também – e tem algo a mostrar, algo difícil hoje em dia.

            É maravilhoso ver pessoas tão legais do nosso cinema fazendo seu nome em Hollywood. Com nomes como José Padilha, Carlos Saldanha (que em breve estará em “Rio 2”), Alice Braga e Wagner Moura, Hollywood poderá ficar mais legal do que já é.

Essa sim, seria uma forma de valorizar a pátria e defender o Brasil, e não com Copa do mundo, como a imprensa faz.


Nota: 9,0

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