Um Crime Perfeito (A Perfect Murder)
Direção: Andrew Davis
Ano de produção: 1998
Com: Michael Douglas, Gwyneth Paltrow,
Viggo Mortensen.
Gênero: Suspense
Classificação Etária: 14 Anos
“Um Crime Perfeito” é tão
bom que parece idéia nova.
Há filmes tão intocáveis na história que parece que se
alguém mexer na obra, adaptá-la e filmá-la soa como heresia. Principalmente se
essa obra for tão poderosa ou de alguém influente na indústria cinematográfica.
E ainda se esse nome poderoso foi ninguém menos do que Alfred Hitchcock. Com
mais de 30 anos de sua morte, algumas de suas obras influenciam os cineastas e
a cultura pop até hoje. A principal influência é, claro, “Psicose”, esse grande
clássico do suspense, muito imitado, mas jamais superado. Principalmente a
famosa cena do assassinato no chuveiro. Não só a cena em si, mas a idéia de
matar a mocinha na metade do filme e abrir espaço para mais outra metade da
história é algo inovador até os dias de hoje.
Toda essa influência de Psicose foi base para Gus Van
Sant ter a “brilhante” idéia de refilmar o clássico de Hitchcock em 1998 e
fazer quase que uma Xerox do filme: é quadro a quadro, cena a cena de Psicose
que Sant fez para homenagear seu mestre. Sant estava no auge da carreira com o
sucesso de público e crítica de “Gênio Indomável” e não tinha como dar errada a
refilmagem de Psicose ainda com um elenco com Julianne Moore e William H. Macy.
Só que não! O resultado foi um mico e um fracasso de público e crítica. Muito
ruim, sem clima e o filme ainda ganhou o troféu “Framboesa de Ouro”.
No mesmo ano, em 1998, meses depois, ainda sob o trauma
do filme de Gus Van Sant, é lançada nos cinemas mundiais, outra refilmagem de
um filme de Hitchcock. Desta vez, o alvo era o clássico “Disque M Para Matar”,
de 1954 e com Grace Kelly no papel principal. Daí nasceu “Um Crime Perfeito”.
Na verdade, o diretor Andrew Davis (o mesmo de “O
Fugitivo”) deixou claro que não se tratava de uma refilmagem, mas de uma
adaptação do filme de Hitchcock e fazer um filme totalmente novo. E conseguiu.
Mesmo com uma inevitável comparação dos dois filmes, “Um Crime Perfeito” é um
suspense que se sustenta sozinho, sem depender do filme original ou ainda sem a
necessidade de amarrar as referências para a platéia sempre se lembrar que está
vendo um remake.
E por grande ironia, diferente do filme de Sant, “Um
Crime Perfeito” chega até a surpreender em alguns momentos e é apreciável
também a quem não conhece “Disque M Para Matar”.
Em “Um Crime Perfeito”, temos um executivo milionário,
Steven (Michael Douglas, em seu melhor papel desde “Wall Street”) que descobre
que sua esposa, Emily (Gwyneth Paltrow, no auge de sua carreira em 1998, com
seu “Shakespeare Apaixonado”, que lhe rendeu o Oscar e com seu namoro com Brad
Pitt) está o traindo com um pintor charmoso e pobretão David (Viggo Mortensen,
em início de carreira, que depois viraria o Aragorn da trilogia “O Senhor dos
Anéis”) e oferece uma oferta absurda a David: matar Emily em troca de 500 mil
dólares.
A história tem mais coisa, muita coisa. Tentei ao máximo
dar uma enxugada no resumo principalmente para não estragar as muitas
qualidades que o filme tem. Um clima devastador de suspense em diálogos
espertos e inteligentes, fruto do bom roteiro de Patrick Smith Kelly (que
escreveu “Segredo de Sangue”, também com Gwyneth Paltrow).
Nada é o que parece ser em “Um Crime Perfeito”. Steven e
Emily parecem ser um casal modelo e feliz. Mas não são. Emily parece ser uma
esposa fiel. Mas não é. David parece ser um legítimo príncipe encantado. Mas
não é. E o crime? É todo arquitetado pelo próprio Steven para ser perfeito. Mas
existe algo perfeito?
Todo o elenco parece estar à vontade. Gwyneth Paltrow tem
um papel muito interessante como uma esposa ambígua. Ela não é uma pessoa ruim,
mas carrega consigo a culpa da traição. Viggo Mortensen, que nem imaginaria que
seria galã de verdade nos próximos anos, também se diverte como um pintor
fracassado e homem conquistador.
Mas o filme é todo do Michael Douglas. Seu papel de
empresário frio e calculista chega a impressionar. O filme nem precisou de
tanto recurso para prender o espectador. Basta ver a frieza com que ele escuta
no telefone sua mulher sendo atacada em seu apartamento e depois volta a jogar
cartas e sorrindo como se nada tivesse acontecido.
A cena em que Emily é atacada, aliás, é a mais esperada e
melhor do filme. Acompanhada de uma trilha sonora arrepiante e uma câmera que
dá vários giros no seu próprio eixo, Emily é “morta pelo seu amante” (só quem
viu o filme entende as aspas) justamente na metade do filme. É um artifício
para colocar no meio do longa uma cena devastadora e esperada usada até hoje e
funciona principalmente em filmes de suspense (olha a referência de Psicose
aí... do assassinato bem no meio do filme).
Só poderiam ter melhorado o final, que ficou simples
demais para um filme complexo desses. O desfecho dos protagonistas chega até a
frustrar.
Mas, sem ressentimentos. Para um filme fadado ao fracasso
e com uma crítica agourando para que o filme desse errado pelo fato de muitos
críticos acharem “Disque M para Matar”, intocável, o resultado se aproximou do
que chamamos de Perfeito.
Nota:
9,0
Imagens:
Trailer:
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