O Lobo de Wall Street
(The Wolf of Wall Street)
Direção: Martin Scorsese
Ano de produção: 2013
Com:
Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jon
Favreau, Jean Dujardin, Matthew McConaughey.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 18 Anos
Scorsese mostra seu vigor de
décadas sem perder seus costumes.
O cineasta Martin Scorsese sabe como poucos, fazer cinema
e fundamentalmente, trabalhar com atores. Ele já se infiltrou em muitos
gêneros: em filmes históricos (A Época da Inocência e Gangues de Nova York),
suspense psicológico (Ilha do Medo) e até na história do cinema, com “A
Invenção de Hugo Cabret”, seu filme anterior. E mesmo sendo ele assim tão
versátil e tentando experimentar de tudo, não tem jeito: seu maior talento é
sim, para filmes de máfia, filmes envolvendo drogas, dinheiro e com uma
temática mais adulta. Mesmo “Hugo Cabret” tendo uma temática mais infantil e
sendo um exercício delicioso de se assistir, seu olho é mesmo para o mundo
adulto. Não é à toa, que “Taxi Driver”, “Touro Indomável” e “Os Bons
Companheiros” são considerados filmes únicos na história do cinema. Pensando
nisso, porque não voltar ao seu gênero preferido e colocá-lo aos novos tempos?
E ainda com o seu grande companheiro, Leonardo DiCaprio? A ainda adaptar uma
história tão impressionante que só poderia ser real? Foi daí que nasceu a ideia
de criar “O Lobo de Wall Street”.
E o que torna esse filme tão especial? É o simples fato
de a temática e o contexto serem muito parecidos com dois de seus filmes de
máfia, que foram “Os Bons Companheiros” e “Os Infiltrados”, filme que lhe
rendeu seu Oscar de Filme e Direção, como a narração em primeira pessoa e a
falta de caráter do protagonista se misturar com a moral ou a falta dela, ou
seja, o sujeito não é exatamente honesto mas é impossível não torcer por ele.
Scorsese também não se submeteu às pressões do estúdio:
os produtores queriam que o diretor deixasse seu filme com menos sexo,
palavrões e drogas para deixar o filme mais, digamos, viável para a garotada.
Mas, não teve jeito, Scorsese entregou um filme praticamente sem pudor, com
consumo de drogas, palavrões, nudez e sexo à vontade. O que ajudou a enriquecer
o filme artisticamente é verdade, mas ele foi classificado de 18 Anos e,
assistindo ao filme, não há nenhum sinal de “adolescência no cinema”.
“O Lobo de Wall Street” é baseado em um livro do mesmo
nome e também é baseado na história real de Jordan Belford, um corretor de
títulos financeiro de Wall Street, do final da década de 1980 e começo da década
de 90, que começou de baixo, em um modestíssimo escritório, com parceiros de
trabalho dos mais picaretas e atrapalhados possível, mas que se tornou uma
gigante do mercado, a corretora Rotschild. No início o negócio era mais ou
menos legal, mas, conforme foi aumentando, se tornou um negócio ilícito e
milionário. A farsa acabou sendo descoberta, Jordan passou um tempo preso, mas
trabalha nos dias de hoje em palestras motivacionais.
Como não poderia deixar de ser, o filme gerou polêmica:
além da pressão do estúdio em tirar muita coisa do filme, o filme está sendo
acusado de diminuir as minorias (no início, Jordan arremessa um anão em um tiro
ao alvo) e sofreu censura em países conservadores, como a Índia e no Líbano.
Mesmo nos EUA o filme não escapou das polêmicas: alguns críticos e a opinião
pública acusaram Scorsese de glamourizar demais o protagonista e os golpes de
Jordan Belford. O filme também foi acusado de vangloriar o dinheiro e de
colocar a população pobre lá em baixo.
Discordo
de todas essas polêmicas. O filme é tal qual como descreveu Jordan em sua
biografia, a diferença é que Scorsese não teve medo de ousar e de se expor. O
glamour e a queda de Belford são tratados de forma imparcial e igual nos
momentos em que a história exige.
O
protagonista exibe e enaltece o dinheiro sim, mas, se estamos falando da
história de um vigarista milionário. O Jordan da vida real adorava se mostrar
para seus amigos e sua esposa e o filme é sobre sua história e Scorsese é um
diretor corajoso, então, nada mais justo do que se apresentar os gastos e luxos
do protagonista. Para nós, cidadãos comuns, dá uma pontada de raiva e
indignação vendo esse luxo todo na tela, mas, um dia aprenderemos que, filme é
filme e vida real é vida real.
Em
um dos discursos para seus dedicados funcionários, ele falou que a vida deve
ser vivida para se ganhar muito dinheiro, quem não quer, que vá trabalhar no
McDonalds.
Polêmica
é o nome de “O Lobo de Wall Street”. Logo na cena de abertura, Jordan está
cheirando cocaína na bunda de sua namorada. Há também, conversas e atos de
masturbação (Max, chefe de Jordan, pergunta ao mesmo quantas vezes ele masturba
na semana), também a cena muito engraçada, aliás, de Donnie se masturbando em
uma festa na frente do público ao ver Naomi pela primeira vez. Nas cenas de
nudez, não há lençolzinho tampando nada nem nada estilizado. A nudez é
escancarada e sem pudor nenhum, desde as prostitutas que os funcionários, e o
próprio Jordan pega, e até a própria Naomi. Um bacanal gay foi cortado dos
cinemas indianos, mas aqui é transmitido sem cortes.
Há
uma cena que considero desde já antológica: quando Jordan e Donnie tomam uma
droga já vencida. A recomendação é apenas uma dose, mas os dois não se aguentam
e tomam o frasco inteiro. Os efeitos demoram, mas aparecem. E como aparecem. A
droga os derruba, literalmente, quase morrem, ficando em estado de
inconsciência e overdose total. Nem de pé eles conseguem ficar. A entrega dos
dois atores, Leonardo diCaprio e Jonah Hill na cena é inesquecível.
Por
falar no elenco, o que dizer dos atores? Tem Leonardo diCaprio (que também
produz) e, sem pretensões, digo que essa é A MELHOR atuação dele em sua
carreira. Depois de estourar em “Titanic”, ele se tornou um ator muito mais
interessante e mais seletivo em seus papéis, principalmente em todas as
parcerias com Scorsese, como foi em “Gangues de Nova York”, “O Aviador”, “Os
Infiltrados” e “Ilha do Medo”. Mas aqui em “O Lobo de Wall Street”, ele entrega
seu melhor papel. Ele está indicado ao Oscar de Melhor Ator e, se o prêmio
vier, estará em boas mãos.
Mas
não só de diCaprio vive “O Lobo de Wall Street”. Jonah Hill, que está indicado
a Melhor Ator Coadjuvante, também está ótimo como Donnie, amigo e sócio de
Jordan, que vendia artigos infantis e se tornou um também corretor de sucesso.
Jonah, aliás, se tornou um ator bem mais sério e bem mais interessante do que o
adolescente de “Super Bad – É Hoje”. Seu papel arrancou elogios da crítica e do
próprio Scorsese. Quem faz o pai de Jordan é o ex-diretor e agora ator, Rob
Reiner (que dirigiu “Harry & Sally – Feitos um para o outro”), que é quase
um mentor e conselheiro para seu filho. E o que dizer da modelo Margot Robbie?
Aqui, ela faz a esposa do protagonista, Naomi. Mesmo ela se dividindo entre
sequências mais ousadas e de uma carga dramática que um filme desses exigia,
não dá para dizer se ela é ou não boa atriz, afinal, Scorsese exige bastante de
seus atores, mas poucos diretores exigem tanto.
Foi
uma experiência gloriosa ter visto “O Lobo de Wall Street” nos cinemas e esse
belo e sagaz retrato de Scorsese sobre o mercado financeiro. É um Scorsese “da
gema” e também revigorado como há muito tempo não se via.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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