A relação HBO e a autora
Gillian Flynn é como a parceria Spielberg e John Williams ou ainda Martin
Scorsese e Robert De Niro: não se sabe quem encontrou quem primeiro, mas a
verdade é que a química não poderia ter sido mais perfeita.
Gillian Flynn, autora de Garota Exemplar, também é a
escritora do excelente livro Objetos Cortantes e quando a HBO anunciou que
faria uma minissérie baseada no livro, com Amy Adams no papel principal e ainda
sob a direção de Jean-Marc Vallée (de Big Little Lies), todos já imaginavam que
não tinha como dar errado com um timaço desses.
E a ótima notícia é que deu mais do que certo: Objetos
Cortantes, ou Sharp Objects, é uma minissérie excelente, incrivelmente bem
dirigida, atuada, escrita e produzida.
A série conta a história de Camille Preaker (Amy Adams,
ótima!), repórter de Chicago que vai à sua terra natal, Wing Gap, investigar o
assassinato de duas garotas. E lá ela confronta com alguns fantasmas do
passado, situações que ela preferia esquecer alguns segredos de família.
Objetos Cortantes não é um livro grande em espessura,
poderia ser um longa-metragem de 120 minutos tranquilamente, mas com 8
episódios de cerca de 50 minutos, há muito mais a ser explorado, como a cidade
em si e os personagens.
Fez todo o sentido aqui na série, porque a cada episódio
o drama psicológico dos personagens e o mistério em si são muito melhores
explorados e são tão bons quanto nas páginas de Flynn.
Para o público geral, acostumado com os blockbusters e um
arrasa-quarteirão, pode estranhar o ritmo da série, já que ela não tem pressa para
contar sua história e não segue a chamada “jornada do herói”. Nota-se a mudança
de narrativa, pois o clima intimista e de mistério lembra muito o de Twin Peaks
ou os bons episódios de Arquivo X.
Tecnicamente a série é ótima, com uma boa fotografia, com
o uso de cores frias para aumentar ainda mais a claustrofobia e a boa montagem,
digna de prêmios.
Neste aspecto, não apenas a HBO merece os créditos, mas a
Blumhouse também, produtora que nos agraciou com filmes como Fragmentado e
Corra, por exemplo.
Mas Sharp Objects não seria nada sem o seu excelente
elenco: Amy Adams faz seu melhor papel da carreira até aqui (Ok, um dos
melhores, junto com o de A Chegada). Sua personagem tem que se mostrar forte,
ao passo que vive amargurada e com seus demônios internos, sobretudo por ter
seu corpo quase todo que mutilado, mostrado aqui de forma cruel, porém,
elegante.
Ela merece um Emmy pelo papel.
E seus traumas são também muito bem explorados com o uso
de flashbacks e intercalando com os eventos presentes. Quem interpreta a
Camille adolescente é a também ótima Sophia Lillis, a Beverly de It – A Coisa e
é uma atriz que só cresce em Hollywood.
Destaque também para Patricia Clarkson como a mãe da
protagonista e a revelação Eliza Scanlen como Amma, a meia-irmã da
protagonista.
Todos os dilemas, embates e diálogos são excelentes e
muito bem escritos.
O sucesso de Sharp Objects é mais do que merecido, pode
fazer com que outros canais, como a Netflix, Amazon ou a própria HBO, entre outros,
adaptem mais livros como minisséries ou séries mesmo.
Quem sai ganhando é o espectador, mas o leitor também,
pois só incentiva o mercado de livros a crescer e nós, fãs das duas mídias,
agradecemos.
Nota 10,0
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