(Des)Encanto é a nova série animada da Netflix, chegou ao serviço de
streaming no último dia 17 de agosto cheia de expectativa, mas também, cheia de
responsabilidades.
A Netflix hoje já
é uma gigante do entretenimento e embora ainda existam algumas séries lá de
gosto duvidoso (Insatiable, Punho de Ferro...), os executivos já conseguem
bater de frente com os canais mais tradicionais e com uma equipe com os
melhores diretores e roteiristas.
A ida de Shonda
Rhimes (criadora de Grey’s Anatomy, Scandal, entre outras) à Netflix já foi uma
prova disso, mas muitos se surpreenderam quando foi anunciado que Matt Groening
faria uma nova série animada ao serviço.
Matt é o criador
de nada menos do que Os Simpsons e de Futurama e obviamente um nome como esses
chama atenção de qualquer projeto.
Mas as
responsabilidades de (Des)Encanto não terminam por aí: estamos em uma safra
ótima de animações voltadas ao público adulto. Além dos próprios Simpsons, que
estão aí desde 1989 e Uma Família da Pesada, que nos diverte desde o final dos
anos 90, agora também somos agraciados com animações como Rick and Morty, Bojack
Horseman e Final Space e as comparações de (Des)Encanto com essas animações tão
populares são quase inevitáveis.
A boa notícia é
que (Des)Encanto é uma grande animação e promete fazer muito sucesso. Vai ser
impossível ter o mesmo impacto cultural de Os Simpsons, mas o envolvimento com
a série é inevitável.
E no mesmo ano em
que tivemos a ótima Final Space, lançá-la depois é quase covardia.
(Des)Encanto se
passa no período Medieval, em um lugar chamado de Terra dos Sonhos, onde
conhecemos a nossa protagonista, Bean (Abbi Jacobson), filha do rei, mas ela
foge dos padrões do que é uma princesa: rebelde, beberrona e não quer saber de
casamento arranjado.
Bean perdeu sua
mãe muito cedo e a falta que ela sente é notável, mas ela consegue dois
improváveis amigos: um pequeno Elfo verde e um diabinho chamado Luci (numa
clara referência a Lúcifer).
De início dos
dois parecem o paradoxo do bem e do mal, mas logo a série mostra que foge dos
estereótipos: os ditos heróis não são exatamente os mais bonzinhos nem os ditos
vilões são exatamente malvados. E isso tornam os personagens mais
tridimensionais.
Por exemplo, o
rei não é o pai autoritário na qual a filha tem medo, o que fica ainda mais
claro na segunda metade da série, o Luci é um personagem que o público acaba
torcendo por ele, o Elfo não é o mascote injustiçado e ingênuo (mas ainda sim é
irresistível) e Bean está muito longe do estereótipo de mocinha: embora seja
rebelde, o público torce por ela, é quase como uma versão politicamente
incorreta da Merida de Valente.
Tecnicamente,
(Des)Encanto é uma animação perfeita: os traços dos personagens, os ricos
detalhes dos cenários e a mescla entre 2D e 3D tornam a série em um deleite
visual.
E mesmo se
passando em uma época totalmente diferente do tradicional de Matt Groening
(Futurama se passa no futuro e Os Simpsons, no presente), notam - se os traços
dos personagens dele, mesmo para o público dito casual.
Matt Groening,
mesmo vindo de uma série tão duradoura quanto Os Simpsons, entendeu o formato
Netflix, onde as pessoas fazem maratona e assistem como um grande filme, tanto
que dividiu a história em duas partes e há vários “ganchos” para a próxima
parte.
E como já dito,
(Des)Encanto é uma animação adulta, mas diferentemente de Os Simpsons e
Futurama, onde havia uma censura e muitas crianças vêem até hoje, aqui, em se
tratando de um produto Netflix, não há sutilezas: as piadas são adultas e
ponto.
Há referências a
Game of Thrones, algumas piadas são de duplo sentido, há mensagens (algumas
subliminares e algumas ficam evidentes) sobre feminismo, repressão e até uma
referência ao filme De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick.
Não chega a ser
tão incorreta quanto South Park, mas também não vá esperando uma animação
Pixar.
(Des)Encanto pode
não ser uma animação perfeita (ela não se desenvolve muito nos episódios 5 e
6), mas não há o que reclamar de uma animação que consegue ser engraçada, boa
tecnicamente, com bons personagens e que faz pensar.
Ah, e vejam a
série dublada: a dublagem de (Des)Encanto é praticamente um personagem. Fica a
dica.
Nota 9,0
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