O Jogo da Imitação (The Imitation Game)
Direção: Morten Tyldum
Ano de produção: 2014
Com:
Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles
Dance.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 12 Anos
A
história por trás da História.
Não tem jeito: a 2ª Guerra Mundial ainda tem muitas
histórias para se contar. O resultado todos sabem: os aliados venceram e o
regime nazista foi destruído. Mas ainda há muitos segredos e muitos pontos de
vista a serem apurados, independente para qual lado seja. Até Tarantino
satirizou e mudou o rumo da História em ‘Bastardos Inglórios’.
Mas, nessa questão da vitória aliada, muitos pensam em
grandes heróis e grandes batalhas, mas, o que pode doer é que a Alemanha de
Hitler tinha a Europa em suas mãos e sua vitória estava encaminhada. O que
aprendemos na escola (e no cinema, também, e, considerando a nossa educação
fraca, o cinema pode ser melhor do que a escola como instrumento de
aprendizagem) é que a derrota do eixo (Alemanha, Japão e Itália) se deu após a
intervenção americana na guerra após o ataque a Pearl Harbor em 1941 e o ataque
frustrado alemão na URSS liderada por Stálin. Sim, tudo isso é verdade, mas,
finalmente, abriram-se arquivos para nos mostrar que a coisa não foi assim tão
heróica: a guerra foi vencida com inteligência, estratégia e também com um
pouco de sorte.
Um grande filme australiano, ‘Os Falsários’, que venceu o
Oscar de 2008 em Melhor Filme de Língua Estrangeira, apresentou um fato
curioso, que definiu o rumo da guerra, mas, que não é muito divulgado: dentro
de Auschwitz, os prisioneiros judeus eram obrigados a produzir dinheiro
falsificado para enfraquecer a economia do inimigo. Primeiro fizeram com a
Libra Esterlina, moeda da Inglaterra, que deu certo, mas, quando tentaram falsificar
o Dólar Americano, houve resistência por parte de um dos prisioneiros e o plano
falhou. Mas assusta se pensarmos que a estratégia poderia ter dado certo.
E agora o cinema conta uma história incrivelmente real
que só foi publicada nos anos 1990, ou seja, 50 anos após o término da 2ª
Guerra: um matemático britânico inventou uma máquina capaz de quebrar o código
nazista, chamado de Enigma e, assim, descobrir seus planos. Foi assim que as
ofensivas americanas e britânicas deram certo, inclusive Normandia, retratada
brilhantemente em ‘O Resgate do Soldado Ryan’.
E essa é a história de ‘O Jogo da Imitação’, um dos
favoritos ao Oscar deste ano e baseado no livro ‘Alan Turing: The Enigma’,
escrito por Andrew Hodges.
Nos dias de hoje, Alan é lembrado por ser brilhante e um
homem à frente de seu tempo, mas, como é bem mostrado no filme, ele era um
sujeito reprimido, fechado em seu mundo e que praticamente ninguém o apoiava, e
é esse lado mais introspectivo do personagem que é retratado neste filme aqui.
Alan Turing não tinha amigos na escola, era sempre
excluído por ser “estranho”, mas sempre foi estudioso. Desde o colégio era
impopular. Mesmo depois de crescido, também era retraído até seu suicídio, em
1954.
O filme vai intercalando esses 3 momentos da vida dele
com perfeição: a infância, o durante a guerra, na construção de Christopher (o
nome que ele dá à máquina e não contarei aqui o porquê disso, vale a pena
descobrir) e sua decadência no início dos anos 1950.
Como se não bastasse a repressão por seu jeito, Alan
ainda sofria por ser homossexual assumido. E o regime britânico era rigoroso
quanto a isso: milhares de gays morreram e, no caso de Alan, para não ir à
prisão, ele era obrigado a tomar hormônios femininos, deixando sua saúde cada
vez mais fraca.
Todo o preconceito sofrido na época foi a desculpa que o
exército britânico usou para proibir a construção de uma máquina de
Inteligência Artificial que custava 100 mil libras para decodificar o código
nazista. Mal sabiam eles que estavam diante do 1° computador da história (pois
é!).
E os
perdões só vieram recentemente, em 2009, o então primeiro-ministro britânico, Gordon
Brown, pediu desculpas ao tratamento desumano e preconceituoso sofrido à Alan,
já o perdão real, feito pela rainha Elizabeth II, só veio em dezembro de 2013,
ou seja, a menos de 2 anos de algo que ocorreu a cerca de 70 anos atrás.
E a questão britânica com o preconceito não se limitou somente
à Alan. Outra pessoa importantíssima para essa história é Joan Clarke. Mas,
quem foi ela?
Joan é uma jovem, que, assim como Alan, é muito
inteligente e muito à frente do seu tempo. Para trabalhar em Christopher, Alan
usa como “processo seletivo” um jogo de palavras-cruzadas e aqueles que
conseguissem gabaritar, fariam uma prova com o tempo de 6 minutos para
conseguir o trabalho. Joan consegue resolver as cruzadas e, ao chegar para o
teste, o guarda a aborda, fazendo pouco caso dela e dizendo que “secretárias
são no andar de cima” e achando que uma mulher nçao poderia trabalhar em um
serviço de inteligência, mas ela é a primeira a finalizar o teste e trabalha na
máquina junto de Alan e sua equipe.
Logo Joan e Alan vão ficando mais próximos, e um sentimento
começa a nascer. Sentimento? Mas Alan não é homossexual? Este é só um dos
dilemas da história.
Bem, ‘O Jogo da Imitação’ não é somente um grande filme
por retratar uma parte praticamente desconhecida da História, mas, também temos
uma reconstituição de época primorosa, fruto de uma Direção de Arte impecável,
bem como a sua fotografia, que sabe levar o espectador para cada época em que
se passa, seja o período de guerra ou a infância do protagonista. Lembra muito
o filme ‘Traffic’, de Steven Soderberg, em que tínhamos 3 histórias diferentes,
ambientes diferentes e fotografias diferentes, cada uma adequada a seu tempo.
O diretor Morten Tyldum está somente em seu segundo filme
(o primeiro foi ‘Headhunters’, em 2012) e ele já se mostrou um grande diretor
de atores. E aqui ele só trabalha com os melhores, em especial a dupla protagonista.
Benedict Cumberbatch, que interpreta Alan Turing, é dos
atores mais requisitados (se não o mais) da Hollywood atual. É impressionante
como tudo o que esse moço participa vira fenômeno pop. Tudo começou na série
britânica Sherlock e agora ele está em 3 franquias de sucesso: dos vilões Kahn em
‘Além da Escuridão – Star Trek’ e Smaug em ‘O Hobbit’, ele foi recentemente
contratado pela Marvel para viver o Doutor Estranho, que estréia no 2° semestre
de 2016. E agora com uma indicação ao Oscar, pode ser a chance de ele se consolidar
no 1° time de Hollywood.
Keira Knightley, que interpreta Joan Clarke está na sua
2ª indicação ao Oscar (a primeira foi em 2006, por ‘Orgulho e Preconceito’), já
tem uma franquia de sucesso como Piratas do Caribe, também é uma grande atriz
e, também está intercalando papéis mais comerciais e papéis alternativos. E não
podemos nos esquecer que ela é a protagonista da “trilogia histórica” do
diretor Joe Wright, que além de ‘Orgulho e Preconceito’, os dois fizeram juntos
‘Desejo e Reparação’ e ‘Anna Karerina’. Ela é conhecida por ser quase idêntica
a Natalie Portman, inclusive é fácil de confundir as duas. Ambas grandes
atrizes, mas Natalie tem mais papéis memoráveis e é sim, mais conhecida do
grande público.
‘O jogo da imitação’ tem 8 indicações ao Oscar deste ano:
Melhor Filme, Diretor para Morten Tyldum, Ator para Benedict Cumberbatch, Atriz
Coadjuvante para Keira Knightley, Roteiro Adaptado para Graham Moore, Trilha
Sonora para Alexandre Desplat, Montagem e Design de Produção (a antiga Direção
de Arte).
Independentemente de os prêmios virem ou não, nada apaga
o brilhantismo de ‘O Jogo da Imitação’, pois um grande filme não se faz com
prêmios, e sim com talento, trabalho e muito amor no que se faz.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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