Gravidade (Gravity)
Direção: Alfonso Cuarón
Ano de produção: 2013
Com:
Sandra Bullock, George Clooney.
Gênero: Suspense de Ficção Científica
Classificação Etária: 14 Anos
Até o momento, “Gravidade” é o melhor filme de 2013.
Não é de hoje que Hollywood vive uma crise. Não crise
financeira, que, aliás, estamos falando da indústria mais poderosa do mundo,
mas uma crise de criatividade, roteiro e personagens. Faz um tempo que são as
franquias estão tomando os estúdios. Não que isso seja uma coisa ruim, aliás, é
ótima se contar com títulos como “Vingadores” e “Batman - Cavaleiro das Trevas”,
mas, claro, existem os casos menos memoráveis como a Saga Crepúsculo e a
decepção que foi “Homem de Ferro 3”. Mas a verdade é que as séries de TV estão
em um momento melhor que o cinema nesses critérios de atores e roteiro. Exemplos
não faltam, como a espetacular “Breaking Bad”, a provocante “Mad Men” e a
instigante “Homeland”.
Olhando por esse lado, estava difícil imaginar um filme
tão poderoso, inteligente e incrivelmente bem filmado como “Gravidade”, o novo
filme de Alfonso Cuarón, que estava sumido das telonas desde 2006 com seu
cultuado “Filhos da Esperança”, em que ele não só dirige, mas também produz e
escreve ao lado de seu filho, Jonás. Gravidade nos agraciou com uma atuação
hipnótica de Sandra Bullock, um George Clooney inspirado e um grande avanço
tecnológico na sétima arte.
Gravidade conta a história da engenheira médica Dra. Ryan
Stone (Bullock) que contra a sua vontade faz sua primeira missão espacial ao
lado de um astronauta muito experiente, Matthew Kowalsky (Clooney). Após uma
chuva de entulho espacial, todos os envolvidos morrem, exceto a dra. Stone, que
precisa driblar sua pouca experiência no espaço.
Como se não bastasse a carência de filmes memoráveis em
que estávamos, havia também a necessidade de retomar os bons filmes sobre o
espaço. Havia a corrida espacial disputada entre EUA e URSS na Guerra Fria e o
assunto “espaço” era comum. A série Jornada nas Estrelas, iniciada em 1966
ajudou a plantar a imaginação da sociedade da época, com efeitos muito
avançados para a época e uma temática muito, mas muito a frente do seu tempo. Mas
foi com o grandioso, clássico e incontestável “2001 – Uma Odisséia no Espaço”
que o assunto se tornou mais popular, instigante, questionável e discutível. O filme
é lembrado, até hoje, como o melhor filme de ficção da história. Posto merecido.
Anos-luz de seu tempo, “2001” provoca reflexões até hoje de como as máquinas se
tornam humanas e os humanos se tornam máquinas, além da abertura inesquecível e
o final arrepiante. Todos os demais grandes títulos que se passam no espaço,
como “Alien” e até “Star Wars” tiveram lá sua influência em “2001”.
As referências no filme Gravidade, de Cuarón, com o filme
de Kubrick são visuais, desde a câmera estática, à narrativa quase sem trilha
sonora. É mágico, portanto, imaginar se “2001” fosse feito hoje em dia, com toda
a tecnologia disponível.
De início, “Gravidade” pode não entusiasmar muito o
espectador, exatamente porque os mais desavisados podem achar que é “muito
parado”. Primeiro que essa geração está tão acostumada aos arrasa-quarteirões
que se esquece que o cinema não se resume somente a isso. Segundo que “Gravidade”
não é “parado”, pelo contrário, deixa a plateia tensa e angustiada a cada
movimento da protagonista sozinha no espaço, desesperada pela sobrevivência. Aliás,
a técnica de “Gravidade” é outro grande espetáculo. A profundidade do 3D está
perfeita, sem efeitos picaretas usado, por exemplo, em “Alice no país das
maravilhas” e “Fúria de Titãs” de jogar objetos na plateia, Cuarón adota
profundidade nos detalhes e objetos, fazendo o espectador acreditar que de fato
há uma segunda camada além da tela, basta perceber nas minúcias, como canetas,
poeira espacial e até a própria Sandra Bullock flutuando em cena. Junto com “Avatar”
e “A Invenção de Hugo Cabret”, esse é o melhor uso da tecnologia 3D da
história. E por pura ironia, os momentos “parados” de “Gravidade” tornam o
filme ainda mais especial, desde o semblante desesperador da Dra. Stone até os
detalhes da respiração ofegante da protagonista.
Gravidade é, portanto, desde já, favorito absoluto ao
Oscar 2014 para Melhores Efeitos Especiais.
Não devemos nos esquecer, claro, do roteiro. Impressionante,
brilhante e que nos provoca a cada tomada. O diretor não faz firulas tentando
explicar a origem de tudo, montar flashbacks, nem sentimentalizar demais a
história da protagonista. Há humanidade sim, e muita, mas usada com
inteligência, sem tornar aquilo enfadonho, nem piegas. É citado sim, que Ryan Stone
tinha uma filha e morreu, aos 4 anos. Também é citado que ela vive de trabalho
acima de tudo, mas sem interromper a história.
Eu não poderia finalizar esse texto sem falar da atuação
surpreendente e devastadora da Sandra Bullock. Em mais de 20 anos de sua
carreira de (muitos) altos e (poucos) baixos, dá para falar, sem medo, que esse
é seu melhor papel. Quem diria que, depois de seu Oscar em 2010 por “Um Sonho
Possível”, ela nos entregaria algo tão envolvente. Havia um receio de ela
entrar na galeria da “maldição” das atrizes vencedoras do Oscar, que, depois de
levar a estatueta para casa, nunca mais fazem algo de bom na carreira, como
aconteceu com Renée Zellweger e Halle Berry (que medo de saber o futuro da
Jennifer Lawrence rsrsrsrs), mas nada como dar a volta por cima. Mais da metade
do filme temos ela sozinha em cena. Quem disse que uma mulher sozinha não
seguraria um filme nas costas? E num lugar longe do nosso planeta. Vimos por 2
horas Tom Hanks e seu “Náufrago” ele sozinho na ilha deserta e a surpreendente
história real de 127 Horas com James Franco com a mão presa na rocha, sozinho e
com um desfecho arrebatador. Mas agora tudo isso teve, não só um patamar a
mais, como de um ponto de vista diferente.
Nada como um diretor competente para nos agraciar com
tudo isso.
Isso é filme para muitas indicações ao Oscar, como Melhor
Filme, Diretor, Atriz, Roteiro Original, Som, Montagem, Edição e, claro,
Efeitos Especiais.
Nota:
10
Imagens:
Trailer:
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