A Hollywood atual está
dependente não só das franquias, mas também em trazer alguns clássicos para os
tempos atuais e a grande preocupação nesse sentido está em fazer o chamado fan
service que é em colocar várias referências para saciar os fãs “antigos”, mas
também com a preocupação em fazer um produto voltado para a geração atual, basta
ver o resultado do novo Caça-Fantasmas e Tartarugas Ninja, por exemplo.
Já no mundo da TV, há uma nova série original da Netflix
que é realmente um produto novo, mas não 100%: é cheia de referências dos
clássicos dos anos 80. Não é remake, nem continuação de nada, mas há situações
quase idênticas de filmes como ET – O Extraterrestre, Os Goonies, Conta Comigo,
Poltergeist e até de O Iluminado.
Stranger Things é uma série criada pelos irmãos Duffer e
as referências aos anos 80 estão até nos detalhes considerados técnicos, como a
Direção de Arte, Fotografia, e em sua grande abertura com uma trilha que
entrega muito a sua época.
Até na comunicação a série entrega a sua época: os
personagens dependem do bom e velho telefone com fio para se comunicarem – em
detrimento aos smartphones e whatsapp que temos hoje.
Mas aí fica a pergunta: Stranger Things pode agradar quem
não reconhecer as referências?
A resposta é sim, mas quem notar as referências e
costumes da época verá uma bela homenagem além de uma história de investigação.
Stranger Things se passa em 1983 e já começa com o
desaparecimento de Will e a investigação para encontrá-lo. Sua mãe, Joyce (vivida
por Winona Ryder, em seu melhor papel em anos) é considerada maluca pela maior
parte dos envolvidos e a série mostra sua transformação física e psicológica
conforme a série avança.
O elenco adulto de Stranger Things é excelente: além de
Winona Ryder, o delegado Hopper traz a imagem do macho seguro da época, mas que
esconde um sujeito destruído por dentro. Os pais de Mike e Nancy são o
estereótipo dos conservadores em uma família normal de subúrbio tendo que lidar
com seus jovens rebeldes. E Matthew Modine é o que mais se aproxima de um vilão
e é um personagem a ser descoberto.
O elenco adolescente também é muito competente, como a
própria Nancy, que, de início, traz a imagem da moça perfeita que todos querem
namorar, mas que não demora muito para sua personagem apresentar mais
profundidades. Ela deseja o sujeito popular da escola, ao passo que ele a vê
como um troféu de início e seus amigos são o retrato do mundo de aparências e “perfeições”
que adolescentes de qualquer idade passam. E temos Jonathan, irmão de Will e
filho de Joyce, que também parte em busca do seu irmão, mas de forma
independente. E é o estereótipo do “esquisito” em detrimento aos “descolados”.
Mas a melhor coisa de Stranger Things é o seu brilhante
elenco mirim, que juntos têm uma grande química à procura de seu amigo, Will e
sempre se mostram um passo à frente dos adultos, que assim como em ET, de
Steven Spielberg, são sempre mostrados na visão das crianças e do ângulo delas,
ou seja, eles são, em sua maioria, seres ameaçadores.
E a melhor personagem é realmente a Millie Brown, que
interpreta a Onze, que servira de cobaia para o personagem de Modine e não
demora muito para se juntar ao grupo dos garotos e os melhores momentos desta
temporada são protagonizados por ela. Curiosamente, sua Onze quase não tem
falas, mas é sua expressão e presença que tornam sua personagem especial.
Se Millie Brown ficar de fora das premiações, não há
justiça neste mundo.
Os realizadores já entenderam há um tempo o formato da
Netflix de se fazer séries, que consiste em não fazer episódios separados, e
sim, um grande filme. E se as séries originais já fazem isso se forma brilhante,
como House of Cards e Orange is the New Black, aqui temos isso elevado à
terceira potência: o começo de um episódio de Stranger Things é exatamente a
continuação do outro. E mais do que isso: conforme a investigação vai
acontecendo, ela se torna mais atraente do ponto de vista narrativo e cada
revelação é um choque ao espectador. E o resultado é brilhante.
E em uma série com vários personagens, não há nenhum elo
fraco: em praticamente todos os episódios a série intercala entre os seus
núcleos e em todos o espectador fica tenso e se envolve com os personagens,
mesmo com a trama central de encontrar Will e descobrir o que está acontecendo.
A Netflix faz hoje exatamente o que o cinema fez nos anos
70, que foi investir na obra do autor, antes de os arrasa-quarteirões invadirem
os estúdios. E se hoje em dia a TV está melhor do que o cinema, o serviço de
streaming é um dos responsáveis.
E que venha a 2ª temporada de Stranger Things!
Nota:
10,0
Excelente show, Amei e a crítica também !!!
ResponderExcluirObrigadooo Lore!!!! Beijão!
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