terça-feira, 19 de julho de 2016

Stranger Things - 1ª Temporada

                A Hollywood atual está dependente não só das franquias, mas também em trazer alguns clássicos para os tempos atuais e a grande preocupação nesse sentido está em fazer o chamado fan service que é em colocar várias referências para saciar os fãs “antigos”, mas também com a preocupação em fazer um produto voltado para a geração atual, basta ver o resultado do novo Caça-Fantasmas e Tartarugas Ninja, por exemplo.

            Já no mundo da TV, há uma nova série original da Netflix que é realmente um produto novo, mas não 100%: é cheia de referências dos clássicos dos anos 80. Não é remake, nem continuação de nada, mas há situações quase idênticas de filmes como ET – O Extraterrestre, Os Goonies, Conta Comigo, Poltergeist e até de O Iluminado.



            Stranger Things é uma série criada pelos irmãos Duffer e as referências aos anos 80 estão até nos detalhes considerados técnicos, como a Direção de Arte, Fotografia, e em sua grande abertura com uma trilha que entrega muito a sua época.

            Até na comunicação a série entrega a sua época: os personagens dependem do bom e velho telefone com fio para se comunicarem – em detrimento aos smartphones e whatsapp que temos hoje.

            Mas aí fica a pergunta: Stranger Things pode agradar quem não reconhecer as referências?

            A resposta é sim, mas quem notar as referências e costumes da época verá uma bela homenagem além de uma história de investigação.

            Stranger Things se passa em 1983 e já começa com o desaparecimento de Will e a investigação para encontrá-lo. Sua mãe, Joyce (vivida por Winona Ryder, em seu melhor papel em anos) é considerada maluca pela maior parte dos envolvidos e a série mostra sua transformação física e psicológica conforme a série avança.



            O elenco adulto de Stranger Things é excelente: além de Winona Ryder, o delegado Hopper traz a imagem do macho seguro da época, mas que esconde um sujeito destruído por dentro. Os pais de Mike e Nancy são o estereótipo dos conservadores em uma família normal de subúrbio tendo que lidar com seus jovens rebeldes. E Matthew Modine é o que mais se aproxima de um vilão e é um personagem a ser descoberto.


            O elenco adolescente também é muito competente, como a própria Nancy, que, de início, traz a imagem da moça perfeita que todos querem namorar, mas que não demora muito para sua personagem apresentar mais profundidades. Ela deseja o sujeito popular da escola, ao passo que ele a vê como um troféu de início e seus amigos são o retrato do mundo de aparências e “perfeições” que adolescentes de qualquer idade passam. E temos Jonathan, irmão de Will e filho de Joyce, que também parte em busca do seu irmão, mas de forma independente. E é o estereótipo do “esquisito” em detrimento aos “descolados”.

            Mas a melhor coisa de Stranger Things é o seu brilhante elenco mirim, que juntos têm uma grande química à procura de seu amigo, Will e sempre se mostram um passo à frente dos adultos, que assim como em ET, de Steven Spielberg, são sempre mostrados na visão das crianças e do ângulo delas, ou seja, eles são, em sua maioria, seres ameaçadores.


            E a melhor personagem é realmente a Millie Brown, que interpreta a Onze, que servira de cobaia para o personagem de Modine e não demora muito para se juntar ao grupo dos garotos e os melhores momentos desta temporada são protagonizados por ela. Curiosamente, sua Onze quase não tem falas, mas é sua expressão e presença que tornam sua personagem especial.

            Se Millie Brown ficar de fora das premiações, não há justiça neste mundo.


            Os realizadores já entenderam há um tempo o formato da Netflix de se fazer séries, que consiste em não fazer episódios separados, e sim, um grande filme. E se as séries originais já fazem isso se forma brilhante, como House of Cards e Orange is the New Black, aqui temos isso elevado à terceira potência: o começo de um episódio de Stranger Things é exatamente a continuação do outro. E mais do que isso: conforme a investigação vai acontecendo, ela se torna mais atraente do ponto de vista narrativo e cada revelação é um choque ao espectador. E o resultado é brilhante.


            E em uma série com vários personagens, não há nenhum elo fraco: em praticamente todos os episódios a série intercala entre os seus núcleos e em todos o espectador fica tenso e se envolve com os personagens, mesmo com a trama central de encontrar Will e descobrir o que está acontecendo.

            A Netflix faz hoje exatamente o que o cinema fez nos anos 70, que foi investir na obra do autor, antes de os arrasa-quarteirões invadirem os estúdios. E se hoje em dia a TV está melhor do que o cinema, o serviço de streaming é um dos responsáveis.

            E que venha a 2ª temporada de Stranger Things!

Nota: 10,0

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