Dos filmes que
estrearam em 2016, sobretudo neste período do verão americano, houve poucos que
não eram continuações ou derivados de franquias já consagradas e este parece
ser a palavra de ordem para os estúdios, que dependem de suas franquias e são
elas que levam multidões aos cinemas.
Mas, onde estão as boas idéias de Hollywood? A maioria
migrou para a TV, que sim, está melhor do que cinema atualmente e um dos
responsáveis por isso é o serviço da Netflix, que agora também produz seus
filmes próprios.
Se Beasts of no Nation foi um grande acerto (e ignorado
no Oscar), os filmes do Adam Sandler continuam derrapando, mas o serviço de
streaming pode estar encontrando o seu caminho longe dele com The Fundamentals
of Caring, seu novo filme próprio e embora ele não seja 100% original, tem a
alma e espírito de um filme independente.
The Fundamentals of Caring é baseado no livro The Revised
Fundamentals of Caregiving, de Jonathan Evison e é um feel good movie
absolutamente delicioso de se ver e até onde a memória alcança, dos filmes mais
verdadeiros ao falar do comportamento humano desde As Vantagens de Ser
Invisível.
Também lembra muito Pequena Miss Sunshine, por ser um
Road Movie com personagens desajustados e também lembra Juno pelo clima
melancólico, pela trilha sonora pop. É tudo o que Cidades de Papel deveria ter
sido ano passado e não foi.
The Fundamentals of Caring conta a história de Ben (Paul
Rudd – o nosso Homem Formiga), que está amargurado pela perda do filho e pela
iminência de um divórcio, aceita o trabalho de cuidar de um adolescente
cadeirante, Trevor, que também vive amargurado, mas é arrogante ao extremo de
poucos aguentarem trabalhar com ele. Ambos decidem viajar pelos EUA de carro e
esquecer os seus problemas.
Quem vê a sinopse fica com a impressão de “já vi isso
antes”, como no recente Como eu Era Antes de Você, A Culpa é das Estrelas e do
grande Intocáveis e de fato pode parecer mesmo, mas The Fundamentals of Caring torna
seus personagens quase que tridimensionais com seus dilemas e motivações. E
quanto mais descobrirmos sobre um determinado personagem, mais interessante ele
fica: Ben não encara seus problemas de frente e usa suas dores para se proteger
do mundo. Trevor esconde uma pessoa sensível através de sua arrogância – e a
cena em que ele se encontra com um fantasma do passado é arrepiante.
Também entram no meio da viagem duas personagens
femininas: Dot, vivida por uma Selena Gomez que está incrivelmente inspirada.
Parecia que Selena seguiria o mesmo caminho de outros ídolos teens, como Miley
Cyrus, que tiveram a fama repentina e ticaram esquecidas, sem contar o talento
duvidoso, mas Selena apareceu recentemente em A Grande Aposta e tem mais um
drama histórico para estrear ainda em 2016. E pode sim, ter uma carreira
consolidada.
Também temos a figura de Peaches, que foi pouco
explorada, mas deveria ter um arco maior – e embora a personagem seja muito
boa, se tirasse ela da história, não faria falta.
E a melhor coisa de The Fundamentals of Caring é mesmo a
química do elenco: Paul Rudd e Craig Roberts como Trevor convencem como amigos
– e quase como irmãos. E o público torce também pela química que nasce entre
ele e Dot também como um casal.
The Fundamentals of Caring tem tudo para se tornar um
mini clássico e um filme querido por muita gente. Foi dirigido e escrito por
Rob Burnett, que foi seu primeiro trabalho de direção. É sinal que, assim como
no caso de suas séries, a Netflix confia no trabalho dos autores e uma ou outra
falha de The Fundamentals of Caring pode ser relevada se levarmos em conta que
é o primeiro trabalho de um diretor que trabalhou com uma equipe pequena e
seria injusto exigir demais desse Road Movie despretensioso.
E que venham mais trabalhos autorais. Nós, como público,
agradecemos.
Nota:
9,0