Perdido em Marte (The Martian)
Direção: Ridley Scott
2015
Com:
Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Chiwetel Ejiofor,
Sean Bean, Mackenzie Davis, Kate Mara, Michael Pena, Sebastian Stan, Benedict
Wong, Donald Glover.
Ficção Científica
12 Anos
Bem-vindo
de volta, Scott
O diretor Ridley Scott bem que tenta, mas não consegue se
separar da ficção científica e embora ele tenha acertado em outros gêneros com
Gladiador e Thelma & Louise, ele mais errou do que acertou. Mesmo dentro da
ficção científica ele já cometeu deslizes: se Alien – O 8º Passageiro e Blade
Runner – O Caçador de Andróides são duas obras-primas do cinema, o mesmo não se
pode dizer de Prometheus, que teve um dos trailers mais espetaculares dos
últimos anos e acabou decepcionando a maioria do público.
Mas, nada como se reinventar no próprio gênero e colocar
uma temática diferente: Perdido em Marte é um grande filme de ficção científica
e deve ser visto por todo o público, desde os mais entendidos em ciência até o
público comum.
As comparações com Interestelar são inevitáveis: no filme
de Christopher Nolan, Matt Damon também interpreta um astronauta que está
perdido em um planeta distante, mas enquanto o filme estava em produção, os
produtores deixaram claro que são filmes distintos. E o trailer mostrou isso
também.
Na história, uma equipe de astronautas da NASA liderada
por Melissa Lewis (Jessica Chastain) faz uma missão em Marte, mas uma forte
tempestade de areia faz com que um dos tripulantes, Mark Watney (um Matt Damon
ótimo!) fique desacordado, é dado como morto e é deixado por seus colegas.
No dia seguinte, Watney acorda com baixa quantidade de
oxigênio, mas logo se reabilita ao voltar para a base instalada pela equipe no
planeta. E nesse contexto, Watney luta pela sobrevivência enquanto tenta fazer
contato com a NASA.
Enquanto isso, na Terra, Watney é homenageado, mas demora
dois meses para descobrirem que ele está vivo e bem em Marte, porém o diretor
da NASA, Teddy Sanders (Jeff Daniels) discute se vale a pena arriscar milhões
de dólares por causa de apenas uma vida.
Neste meio tempo, a equipe liderada por Melissa está em
órbita no espaço, demora um pouco para ser contatada sobre o estado de Watney,
mas organiza uma missão de resgate.
E Perdido em Marte vai intercalando sendo 3 filmes em 1:
tem o núcleo da Terra, que se passa na NASA, o núcleo da equipe, mas o que mais
se destaca é a sobrevivência de Watney sozinho em Marte.
Em momento nenhum o filme se torna enfadonho, muito pelo
contrário. É certo que muitos ficam com um pé atrás de ficção científica e
muitos não têm paciência com o gênero, mas Perdido em Marte é uma exceção: quando
a plateia pensa que ver Matt Damon sozinho vai cansar, o filme corta para o
arco na Terra, e assim por diante, e nenhuma história é menos importante do que
a outra.
O roteiro de Drew Goddard (que também escreveu alguns
episódios de Demolidor e Lost), que é baseado em um livro homônimo de Andy
Weir, consegue ser explicativo, mas sem questionar a inteligência do
espectador: por diversas vezes, Mark Watney está conversando com a NASA por
conferência, mas, na verdade, está conversando com a plateia, o que em um filme
de ficção científica, faz todo o sentido. Sem contar as reuniões da NASA (em
uma determinada cena, quando o personagem de Donald Glover explica sobre um
equipamento, usando Jeff Daniels e Kristen Wiig de exemplo, é muito bacana).
As comparações com Náufrago e Gravidade também são
inevitáveis: no caso do filme com Tom Hanks, mostra a sobrevivência em uma
terra desconhecida e no caso do filme com Sandra Bullock, além da
sobrevivência, é uma história também de ficção científica.
Mas, qual é a diferença de Perdido em Marte para esses
filmes, mais Interestelar? Enquanto nesses 3 filmes temos a introspecção,
reflexão e drama dos personagens, em Perdido em Marte as soluções chegam a ser
cômicas: existem os momentos de reflexão, mas Watney faz piadas o tempo todo,
tenta sobreviver sem se desesperar (e os momentos de desespero fariam todo o
sentido!) e usa soluções ecológicas para se alimentar – a idéia da plantação de
batatas é extraordinária.
Olhando por esse lado, Perdido em Marte é sim um filme
otimista: o bom humor de Matt Damon é uma metáfora sobre não perder a alegria e
a esperança sobre a adversidade.
Também o filme é uma alegoria sobre a arrogância humana,
sobretudo na figura de Teddy, que está mais preocupado com os lucros do que a
vida de Mark.
Não por isso, Perdido em Marte pode ser um grande objeto
de estudo e ser exibido em escolas e faculdades para ensinar questões de
ciência, astronomia, esperança e a não-ganância.
Como todo e qualquer filme de ficção científica, as
referências a ‘2001 – Uma Odisséia no Espaço’ estão lá, seja na equipe
orbitando no espaço ou na personagem de Kate Mara se exercitando na esteira.
Hoje em dia, a China é o segundo maior mercado do cinema
mundial, já salvou Hollywood várias vezes e foi a grande responsável de termos,
em 2015, 3 filmes que ultrapassaram 1 bilhão de dólares em bilheterias, são
eles: Vingadores 2, Velozes e Furiosos 7 e Jurassic World.
A Fox (produtora de Perdido em Marte) sabe muito bem
disso e usou isso a seu favor, seu destruir a história: em um determinado
momento, a NASA precisa da tecnologia chinesa para a missão de resgatar Watney,
inclusive com os atores falando em mandarim – e isso em um blockbuster
americano é muito arriscado. Imagina o quanto este filme deva faturar em
território chinês?
Ainda não foi divulgado o orçamento final de Perdido em
Marte, mas claramente foi alto, seja em sua milionária produção, mas também no
excelente elenco: para unir tantos atores bons em um arrasa-quarteirão
americano, somente um diretor do nome de Ridley Scott consegue isso: além de
Matt Damon, que tem mais tempo de tela, não devemos nos esquecer da equipe da
NASA: Jeff Daniels, Chiwetel Ejiofor (indicado ao Oscar por 12 Anos de
Escravidão), Kristen Wiig e Sean Bean (o Ned Stark de Game of Thrones) e do
grupo de astronautas no espaço: Jessica Chastain, que dispensa apresentações,
Kate Mara (a Zoe Barnes de House of Cards), Michael Pena (que esteve
recentemente em Homem-Formiga), e Sebastian Stan, que é o Soldado Invernal da
Marvel.
Costuma-se criticar a
tecnologia 3D e são poucos filmes que justificam a conversão em 3 dimensões,
mas Perdido em Marte é uma feliz exceção, porque o 3D é primoroso, justamente
porque une os efeitos maravilhosos com a profundidade que o filme exige, feita
de dentro para fora – e não de for a para dentro, ou seja, não tem objetos
sendo arremesados para a platéia, mas a profundidade está nos detalhes, sejam
nas conferências de Watney, na equipe orbitando e até na entrevista coletiva de
Teddy, que nem havia “necessidade”.
Perdido em Marte está
no top 5 dos melhores usos do 3D, junto com o próprio Gravidade, Avatar, As
Aventuras de Pi e A Invenção de Hugo Cabret e o que esses filmes têm em comum? Todos
têm grandes diretores e sabem usar a tecnologia em favor da narrativa, e não
para justificar o valor alto do ingresso, como ocorre em 90% das produções.
É quase certo que
Perdido em Marte esteja no Oscar 2016 nas categorias técnicas, seja de Melhor Som,
Montagem, Edição e Efeitos Especiais – nesta última a concorrência está grande
este ano e talvez o Oscar não premie um filme no espaço por 3 anos seguidos
(Gravidade e Interestelar ganharam em 2014 e 2015, respectivamente), mas também
merece estar em Melhor Roteiro e porque não, Melhor Ator para Matt Damon?. Já
passou da hora de os acadêmicos pararem com o preconceito com a ficção
científica.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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