Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman)
Direção: Alejandro González Inárritu
Ano de produção: 2014
Com:
Michael Keaton, Zack Galifianakis, Emma Stone, Edward Norton, Naomi Watts, Amy
Ryan.
Gênero: Comédia Dramática
Classificação Etária: 16 Anos
Um Inárritu
“da gema”, apenas com um orçamento maior
Em 2000, quando o cineasta mexicano Alejandro González apresentou
ao mundo seu grande ‘Amores Brutos’, todos viram ali um grande potencial de um
diretor autoral, um grande talento em trabalhar com atores, câmera, fotografia
e montagem. O filme logo ficou conhecido nos festivais e teve uma indicação ao
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (perdendo para ‘O Tigre e o Dragão’). Outra
característica importante é a não-linearidade de suas histórias e seus filmes
não necessariamente têm uma história só: tanto ‘Amores Brutos’, como ’21 Gramas’,
seu filme seguinte e o mais conhecido, ‘Babel’, possuem essa peculiaridade. Ambos
têm 3 histórias, que são intercaladas, mas logo se vê o que elas têm em comum.
O único que fugiu à regra foi ‘Biutiful’, em 2010 e,
talvez por isso, seja considerado seu filme menor.
E agora em 2014, ele volta às origens, seja de câmera e
de conteúdo, e, embora o filme seja muito focado no protagonista e seus
demônios, também há várias histórias entrelaçadas: Birdman ou (a inesperada
virtude da ignorância) é o maior “blockbuster” de Inárritu, mas, todas as suas
características estão lá, com a diferença que, agora ele tem um orçamento muito
maior, tem um grande elenco a seu dispor e a Academia agora prestou mais atenção
nesse moço. Não por acaso, agora esse filme, junto com Boyhood, chegam como
favoritos ao Oscar.
Na história, temos um ator Riggan Thomson (Michael
Keaton, no melhor papel de sua carreira) que, no passado, interpretou um herói
famoso, chamado Birdman (que sim, tinha aparência e poderes de uma ave) e, após
ele recusar a fazer um 4° filme da “franquia”, viu sua carreira cair ladeira
abaixo e ser esquecido pela indústria cinematográfica. Porém, ele decide
estrelar, dirigir e escrever uma peça de teatro adaptada de um texto consagrado
da Broadway. Porém, Riggan precisa lidar com a falta de confiança do público,
com o elenco problemático, no caso, os atores Mike (Edward Norton) e Lesley (Naomi
Watts), seu agente interesseiro, Brandon (Zack Galifianakis) e sua filha
problema, Sam (Emma Stone), que acabara de sair de uma clínica reabilitadora.
O filme é uma crítica ácida e incômoda à Hollywood, à
fama e ao mundo de aparências da indústria do entretenimento e, principalmente,
ao esquecimento por parte da mídia a artistas que não estão na moda.
E uma crítica ao mundo real também. Durante uma das
apresentações, Mike diz para a platéia viver mais e parar de olhar a vida pela
tela do celular (alguém se lembrou do ‘Clube da Luta’ com o próprio Edward
Norton?) e Sam dá uma lição de moral a seu pai sobre seu comportamento
considerado “errado”.
A câmera é quase um protagonista da história: tem plano-seqüências
que aparentam não ter sentido nenhum para a trama, mas que são fundamentais
para conhecer o psicológico dos personagens, como nas cenas em que Mike e Sam
conversam no terraço sobre suas vidas, ou no antagonismo de egos entre Riggan e
Mike. A câmera também funciona quase como a mente do espectador e a mente dos
personagens, que os acompanha em muitos momentos.
Isso sem falar no grande fotografia, que muda da água
para o vinho sempre que Riggan lida com algum dos seus problemas, seja com sua
filha, seu agente, ex-esposa e até quando seu “herói” o perturba que, olha só,
o filme até se arrisca como superprodução (ele se imagina voando e salvando a
cidade).
Michael Keaton renasce das cinzas no papel. Após ver a
sua carreira ir por água abaixo em filmes menores, ele, nos últimos anos surgia
em uma ponta e outra, até aparecer como o vilão de Robocop, de José Padilha e
agora tem um papel como protagonista.
A concorrência pode estar grande na corrida pelo Oscar
para Melhor Ator, mas é impossível não associar o personagem Riggan a Michael
Keaton da vida real: um ator que ficou famoso no passado ao interpretar um
herói famoso, no caso, Batman, nos dois filmes de Tim Burton, mas que viu a
carreira ir ladeira abaixo em papéis sem expressão e que agora tem a chance de
voltar a brilhar.
Mas, em ‘Birdman’, não é só a carreira de Michael Keaton
que é ressuscitada, mas a de Edward Norton também. Ele surgiu como uma promessa
nos anos 1990 em grandes papéis como em ‘Clube da luta’ e ‘A Outra História
Americana’, passou um tempo longe, já viveu um super-herói (O Incrível Hulk, em
2008) e agora, 17 anos depois, está de volta às premiações.
Até Zack Galifianakis, acostumado a comédias estilo “pastelão”
aqui tem um papel muito mais interessante do que sua atuação sem graça de ‘Se
beber, não case’.
E Emma Stone, que interpreta Sam, está muito longe das
mocinhas em que ela está acostumada a viver: aqui ela é uma adolescente sem
juízo e tem um close final em seu rosto daqueles dignos de premiação.
‘Birdman’ é uma viagem alucinada na mente de um homem
perturbado, mas que está muito longe de ser inconsciente. E a todo o momento
parece que estamos em sua mente. E a magia está em saber que não é um filme
baseado em quadrinho, livro, nem nada. Tudo veio da cabeça de Alejandro González
Inárritu. Pode ter uma referência ou outra, obviamente, mas seu roteiro é 100%
original, e o resultado beira à perfeição.
‘Birdman’ está com 9 indicações ao Oscar deste ano:
Melhor Filme, Direção para Inárritu, Ator para Michael Keaton, Ator Coadjuvante,
para Edward Norton, Atriz Coadjuvante, para Emma Stone, Roteiro Original,
Fotografia, Edição de Som e Mixagem de Som, mas bem que merecia também de
Montagem.
Nota:
10,0
Imagens:
Trailer:
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