Mississipi em Chamas (Mississipi Burning)
Direção: Alan Parker
Ano de produção: 1988
Com: Gene Hackman, Willem Dafoe,
Frances McDormand.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 10,0
Só a ignorância humana explica o episódio de “Mississipi
em Chamas”.
Recentemente eu assisti a “Histórias Cruzadas”, um drama de
2011, em que uma escritora realiza um livro contando a convivência doméstica do
ponto de vista das empregadas. A história se passava em Mississipi, um estado
norte-americano no sul do país, no início dos anos 1960, onde na época havia um
radical sistema de segregação racial, onde negros e brancos deveriam viver
separadamente, inclusive banheiros e restaurantes separados. Quando eu assisti,
foi impossível não haver aquele sentimento de indignação. Não há explicação
para, em pleno século XX, no Ocidente “civilizado” um absurdo desses.
Levando agora para o mesmo local e época, com o mesmo
problema de segregação racial, porém, muito mais radical, temos a história de “Mississipi
em Chamas”. Esse ótimo drama, ultra-violento, que incendiou a sociedade
americana no final dos anos 80, criando polêmicas de todos os lados, inclusive
sendo acusado de racismo. Dirigido por Alan Parker (de “Coração Satânico”) e
protagonizado por Gene Hackman e Willem Dafoe, “Mississipi em Chamas” venceu o
Oscar de Fotografia, sendo ainda indicado a Melhor Ator (Hackman), Atriz
Coadjuvante (Frances) e de Melhor Filme, mas perdeu para “Rain Man”.
Mississipi em Chamas é baseado em uma história real, em
que dois agentes do FBI (Hackman & Dafoe) vão ao Estado de Mississipi
investigar o desaparecimento de 3 jovens ativistas dos direitos civis, sendo um
deles negro. Os principais suspeitos são os integrantes do grupo Ku Klux Klan,
que pregava a superioridade branca e o extermínio da raça “preta”. Mesmo sendo,
nos dias de hoje, um grupo teoricamente enfraquecido, estima-se que há cerca de
6 mil membros dos KKK (como são conhecidos entre si). O filme acompanha a busca
pelos líderes desse grupo e o personagem de Hackman se envolve (mas não tem um
caso), com a esposa (Frances) de um delegado e possível suspeito.
25 anos depois de seu lançamento, “Mississipi em Chamas”
prova por que não envelhece com o tempo e por que é um dos trabalhos mais
tensos e definitivos dos anos 80, tem cenas clássicas como a cruz pegando fogo
(dizem as más línguas que essa cena foi a inspiração de Madonna para seu clipe
Like A Prayer, em 1989) e quando o personagem de Willem Dafoe conversa com um
negro em um restaurante e todos olham para os dois com cara de desconfiança. E para
dar um tom mais realista, durante um discurso para a sociedade branca, um dos
líderes da Ku Klux Klan, Clayton Townley, fala da superioridade branca. Para essa
cena, o diretor Alan Parker usou trechos reais do grupo KKK.
O filme gerou muita polêmica na época de lançamento, aqui
no Brasil, estreou em Fevereiro de 1989 e foi um sucesso de público e crítica. Os
críticos, aliás, acharam, (eu também achei) que esse filme, e não Rain Man é
que deveria levar o prêmio de Melhor Filme no Oscar de 1989.
Mesmo com toda a violência é obrigatório para todos
conhecerem esse passado triste da história americana, não é à toa que esse país
permitia o racismo por lei, não foi à toa que toda a América Latina também
permitia e permite que práticas raciais ocorram sem nada acontecer. Foi um
longo caminho de luta pela liberdade de direitos raciais, fundamentalmente ao
longo dos anos 60, principalmente naquele que foi um dos anos mais radicais da
história: 1968. Martin Luther King e Malcolm X eram as vozes pelos direitos. As
mudanças dependem sim, de nós. Entre muitas cenas incômodas ao longo do filme,
tem uma em que o personagem de Willem Dafoe diz que todos aqueles que assistem
sem fazer nada também são culpados pelas atrocidades. Infelizmente isso está
mais presente em nossas vidas do que se imagina. Escândalos de corrupção,
impunidade. Também somos culpados. Assim como a sociedade branca de Mississipi,
que assistia a tudo até com um sentimento de aprovação. Assim como também, foi
o Nazismo da Alemanha. Tudo é um ciclo. Essa é a nossa humanidade.
Trailer do Filme:
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