A Série Divergente: Insurgente (Insurgent)
Direção: Robert Schwentke
Ano de produção: 2015
Com:
Shailene Woodley, Theo James, Miles Teller, Ansel Elgort, Kate Winslet, Jai
Courtney, Naomi Watts, Maggie Q, Zoe Kravitz, Octavia Spencer.
Gênero: Aventura
Classificação Etária: 12 Anos
Superior
ao primeiro filme, Insurgente finalmente acerta a franquia
Em um passado não muito distante, adaptações de livros
para o cinema eram sempre vistas de forma negativa. A regra era que nenhuma
adaptação prestava. Havia as exceções, obviamente, como os filmes de Stanley
Kubrick e Poderoso Chefão, mas a lei era que o livro era obrigatoriamente
melhor do que o filme porque continha mais detalhes e alguns defendiam (e ainda
defendem) que a imagem estraga a obra.
Mas, nos últimos anos, isso felizmente mudou: a
literatura cresceu de forma exponencial na cultura pop e as boas adaptações
para o cinema são as principais responsáveis, sobretudo os livros de fantasia,
os chamados young adult.
Existem as tentativas que fracassaram, mas aquelas que
estouram conseguem atrair multidões, geram moda e fãs, que é o caso também de
Divergente, trilogia de livros escrita por Veronica Roth e foi adaptada para o
cinema.
Ano passado estreou o primeiro filme, claramente pegando
carona com o sucesso de Jogos Vorazes e não foi exatamente um estouro de
bilheteria: custou 85 milhões de dólares e faturou cerca de 235 milhões no
mundo inteiro.
Eu tive muitas ressalvas com o filme, principalmente com
a correria para a edição final, mas não era exatamente um desastre total, pois havia
indícios que era só uma questão de tempo até a franquia se acertar.
E é exatamente isso que acontece na sua continuação,
‘Insurgente’.
Mas, porque este filme é tão superior ao anterior? Bem, a
equipe do filme foi drasticamente alterada: mudou o diretor, alguns produtores
e colocou gente de peso como roteiristas, entre eles Akiva Goldsman, que
escreveu o premiado ‘Uma Mente Brilhante’.
O diretor do filme anterior, Neil Burger aqui trabalha
como produtor executivo, dando a cadeira de diretor para Robert Schwentke (de
‘Red – Aposentados e Perigosos’ e o subestimado ‘Plano de Vôo’). Outra mudança
importante foi que, no primeiro filme, a autora Veronica Roth não sabia o que
fazer com a adaptação, não deu palpite na produção e não teve pulso firme para defender
seu trabalho perante o estúdio. Sendo assim, ficou um filme de produtor e
talvez por isso o resultado tenha sido tão negativo.
Outra mudança significativa foi com os atores: o elenco
jovem sem carisma do primeiro filme deu lugar a basicamente os mesmos atores,
mas agora como grandes promissores, e todos, sem exceção, são a prova de que,
se bem dirigidos, são capazes de se entregar a grandes papéis, são eles: a
própria Shailene Woodley, a Tris, evoluiu muito como atriz, sobretudo após seu
papel irretocável em ‘A Culpa é das Estrelas’ e seu nome é dos mais
requisitados de Hollywood. E pensar que muitos torciam contra ela por causa da
frustrada Mary Jane na franquia também frustrada do Espetacular Homem-Aranha,
agora que o herói está na Marvel. Ansel Elgort, que interpreta seu irmão,
Caleb, e também fez ‘A Culpa é das Estrelas’ (curiosamente como seu par
romântico) está muito bem como “agente duplo” e uma espécie de “soldado” da
Jeanine, consegue balancear os momentos com sua irmã e com sua “chefe”. Claramente
ele fica corrompido pela Erudição e em uma conversa com a irmã ele deixa transparecer que seus pais
mereceram morrer. Miles Teller brilhou no início do ano com o premiado
‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’ (vencedor de 3 Oscars, inclusive o
merecidíssimo prêmio para J. K. Simmons) e será o Sr. Fantástico no reboot de
‘Quarteto Fantástico’. Aqui seu papel de Peter é muito maior e exigiu-se mais
dele. De início ele é o soldado leal de Jeanine, mas que eu descobrir o caráter
da vilã, ele muda de lado drasticamente. Jai Courtney, que também fará um filme
grande este ano, ‘O Exterminador do Futuro: Gênesis’, faz seu Eric funcionar
mais do que seu fraco desempenho no filme anterior, assumindo a postura de
vilão. Zoe Kravitz, filha de Lenny (que curiosamente está em Jogos Vorazes),
que faz Christina, a melhor amiga de Tris, pode ver sua carreira finalmente decolar.
E dessas loucas coincidências do estúdio Summit, que também produziu Jogos
Vorazes, o papel de Lenny Kravitz lá também é como o melhor amigo de Katniss. Até
Theo James como Quatro, que tanto o critiquei no filme anterior, está bem aqui
e menos caricato.
E além do elenco jovem, temos o elenco mais conhecido do
grande público, sobretudo Kate Winslet como vilã, que interpreta a fria e
calculista Jeanine Matthews, a líder da Erudição e neste filme aqui tem um
destaque muito maior do que no filme anterior (e do que nos livros também, pois
seu personagem quase inexiste) e que em Insurgente precisa desvendar o que há
na caixa encontrada na casa dos pais de Tris na Abnegação e apenas a própria
Tris pode abrir a caixa, pois é a única com características 100% divergentes,
ou seja, apresenta perfil para as 5 facções: Abnegação, Amizade, Audácia,
Erudição e Franqueza.
Mais do que isso, Tris precisa ser submetida a testes
para todas as facções, preparados pela própria Jeanine.
Os testes são o melhor momento do filme: Tris tem que
salvar sua mãe (que morreu no 1° filme e agora só aparece em sonhos e em
flashbacks) no treinamento da Audácia, fala a verdade sobre sua Divergência com
sua mãe no teste da Franqueza, reconhece que seu amado Quatro é uma simulação
no teste da Erudição, poupa a vida do traidor Peter no teste da Abnegação, mas
o melhor ficou para o teste da Amizade: ela tem que lutar contra ela mesma (em
uma luta espetacular) e provar que pode não ser violenta.
Além de Kate, há mais duas grandes atrizes que surgiram
em ‘Insurgente’: a oscarizada Octavia Spencer, que faz Johanna, líder da
Amizade (que infelizmente, teve seu papel pequeno), mas quem se destaca é Naomi
Watts como Evelyn, que é mãe do Quatro e é líder dos sem-facção. Aqui ela se
despe da qualquer vaidade e sua Evelyn pode ter mais destaque ainda nas
continuações.
Em ‘Divergente’, a história não se decidia se focava no
romance ou na distopia, mas aqui, ‘Insurgente’ se assume não só como um futuro
sombrio e distópico, mas como filme de ação. Com um orçamento muito maior neste
2° filme, temos uma Chicago muito mais explorada, sobretudo com sua Direção de
Arte pós-apocalíptica, finalmente entendemos sobre todas as facções e sobre as
não-facções e seu submundo e, como distopia, ‘Insurgente’ está mais cruel e
menos romantizado.
Em relação ao livro, este filme é muito superior: o já
citado destaque que Jeanine tem no filme que não tem nos livros. Na literatura,
temos muito destaque para o romance entre Tris e Quatro, que é impossível não
associar com Crepúsculo. Aqui, o romance é convenientemente contido com o foco
nas facções e na luta contra o sistema. Mas Edith Prior, que apenas aparece em
um holograma, não tem seu nome citado como no livro. E saber quem ela é, com o
mesmo sangue de Tris será de fundamental importância para o próximo filme.
Como na maioria das franquias de fantasia, o último
livro, ‘Convergente’, foi dividido em dois filmes. Os produtores juram de pés
juntos que a intenção é explorar mais os detalhes da literatura e fazer dois
filmes completos, que, na verdade, é um só.
Como ninguém aqui é ingênuo, nós sabemos que o intuito é
financeiro. Dois filmes filmados de uma vez significam orçamento em dobro.
Eu já tive a chance de ler Convergente e não enxerguei a
necessidade de dois filmes, um filme de 130 minutos é mais do que suficiente, mas
isso pode não significar nada: se os roteiristas e produtores continuarem a
ignorar e não seguir a literatura ao pé da letra, poderemos ter dois grandes
filmes, sendo que o livro não é necessariamente tão grandioso.
Nota:
8,0
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