terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa

A Garota Dinamarquesa desperdiça uma grande história

Nota: 7,0



A Academia soube reconhecer as qualidades de ‘A Garota Dinamarquesa’ em suas 4 indicações ao Oscar: Melhor Ator, Atriz Coadjuvante, Figurino e Design de Produção e acertou mais ainda em não indicá-lo e Roteiro Adaptado, Diretor e Filme, pois o filme é muito pautado nas excelentes atuações da dupla principal e na reconstituição de época e as grandes falhas são justamente o roteiro e a montagem.

Embora o diretor Tom Hooper seja superestimado pelas premiações, não há dúvida do bom trabalho de produção em seus últimos filmes e, principalmente, que ele sabe trabalhar com atores, basta ver que Colin Firth e Anne Hathaway ganharam Oscar por ‘O Discurso do Rei’ e ‘Os Miseráveis’, respectivamente, ambos de Hooper.

Assim como David O. Russell (de ‘O Lado bom da Vida’ e ‘Trapaça’), seus filmes fazem um grande trabalho de lobby para as temporadas de premiações e geralmente são reconhecidos pela Academia – independentemente do mérito. Basta ver que, em 2011, ‘O Discurso do Rei’ saiu vencedor do prêmio máximo no Oscar, tendo trabalhos como ‘A Rede Social’, ‘Cisne Negro’ e ‘Toy Story 3’ indicados.

E desta vez Tom Hooper leva às telas novamente um filme de época baseado em uma história verídica: ‘A Garota Dinamarquesa’que é uma adaptação do livro homônimo de David Ebershoff que conta a história de Einar/Wegener, que na década de 1920, fez a primeira cirurgia de mudança de sexo da história e se transformando em Lili Elbe.


Einar/Lili escrevia os fatos de sua vida em um diário e o livro foi inspirado nele, mas como não havia muita coisa escrita, muito do que se vê nas páginas do livro – e agora no filme – são histórias criadas pelos autores.

Gerda Wegener, sua esposa, sempre esteve ao seu lado em suas decisões, e o filme explora demais esse relacionamento, que é verdadeiro, os dois protagonistas, Eddie Redmayne e Alicia Vikander, têm uma ótima química e são eles que levam a história.



O problema é que o filme é, basicamente, só isso: ele não ousa, sempre fica na zona de conforto e com uma história tão poderosa como essa, ficou a impressão de que ninguém na produção quis ir além, de tocar na polêmica da mudança de sexo para uma época conservadora e fizeram um produto para não chocar a “família tradicional” e não sair do politicamente correto.

Em ‘A Garota Dinamarquesa’a história é conduzida como de alguém vendo tudo de cima e o espectador sai do filme da mesma forma que entrou, ou seja, sem se envolver emocionalmente.

‘A Garota Dinamarquesa’ é, portanto, um filme que não assume riscos.

Junte tudo isso à montagem estranha na qual as mudanças de tempo que ocorrem na história de Lili e Gerda são imperceptíveis a quem só conhece o filme. Não se sabe se o que passou foi uma hora ou uma ano.



Dá para fazer um paralelo entre ‘A Garota Dinamarquesa’ e ‘A Teoria de Tudo’, filme que deu o Oscar à Eddie no ano passado: ambos são filmes que contam uma história fabulosa, não se arriscam e o protagonista vivido por Eddie Redmayne teve ao seu lado mulheres que o apoiavam mesmo na adversidade – mas em ambos os casos uma virtual infidelidade das esposas foi abordada “de leve”.

E isso explica um erro da Academia: em 2015, Felicity Jones foi indicada a Melhor Atriz por ‘A Teoria de Tudo’ e a indicação foi muito merecida, mas agora, Alicia Vikander tem um tempo proporcional de tela e tem praticamente o mesmo tempo de tela de Eddie, mas está indicada para Atriz Coadjuvante.

Possivelmente por isso é que Alicia deva levar seu Oscar por este filme, já que a Academia não a colocou para bater de frente com as favoritas para Melhor Atriz, Brie Larson e Cate Blanchett e dar o reconhecimento por essa grande atriz e que também poderia estar aqui por Ex-Machina.

E se vier, o prêmio estará em boas mãos: sua Gerda poderia ser só uma sombra para a história do marido, mas não é o caso: é ela quem toma a maioria das decisões e seu semblante ao longo do filme é de tristeza por perder seu marido, mas também de uma pessoa que ama o ser humano ao seu lado, independentemente do gênero. E tudo isso é muito mérito da atriz, que deu vida a um personagem que, em tese, teria um nível de exigência menor para a história.



Já Eddie Redmayne faz também um excelente trabalho e conforme seu personagem vai evoluindo na história, mais ele se entrega ao papel. Ele está muito melhor como Lili do que como Einar, muito mais à vontade e não deixou que seu papel ficasse caricato, como havia esse risco.



Ele também está indicado a Melhor Ator, mas deve sair de mãos vazias perante ao poderoso Leonardo Di Caprio, por O Regresso. E este ano ainda veremos Eddie Redmayne em ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’, derivado de Harry Potter que chega em novembro.


Longe de ser um filme ruim, ‘A Garota Dinamarquesa’ erra por ser um filme linear e acadêmico. E dificilmente será lembrado daqui a alguns anos.

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