A Garota Dinamarquesa desperdiça uma
grande história
Nota: 7,0
A
Academia soube reconhecer as qualidades de ‘A Garota Dinamarquesa’ em suas 4
indicações ao Oscar: Melhor Ator, Atriz Coadjuvante, Figurino e Design de
Produção e acertou mais ainda em não indicá-lo e Roteiro Adaptado, Diretor e
Filme, pois o filme é muito pautado nas excelentes atuações da dupla principal
e na reconstituição de época e as grandes falhas são justamente o roteiro e a
montagem.
Embora
o diretor Tom Hooper seja superestimado pelas premiações, não há dúvida do bom
trabalho de produção em seus últimos filmes e, principalmente, que ele sabe
trabalhar com atores, basta ver que Colin Firth e Anne Hathaway ganharam Oscar
por ‘O Discurso do Rei’ e ‘Os Miseráveis’, respectivamente, ambos de Hooper.
Assim
como David O. Russell (de ‘O Lado bom da Vida’ e ‘Trapaça’), seus filmes fazem
um grande trabalho de lobby para as
temporadas de premiações e geralmente são reconhecidos pela Academia –
independentemente do mérito. Basta ver que, em 2011, ‘O Discurso do Rei’ saiu
vencedor do prêmio máximo no Oscar, tendo trabalhos como ‘A Rede Social’,
‘Cisne Negro’ e ‘Toy Story 3’ indicados.
E
desta vez Tom Hooper leva às telas novamente um filme de época baseado em uma
história verídica: ‘A Garota Dinamarquesa’que é uma adaptação do livro homônimo
de David Ebershoff que conta a história de Einar/Wegener, que na década de 1920,
fez a primeira cirurgia de mudança de sexo da história e se transformando em
Lili Elbe.
Einar/Lili
escrevia os fatos de sua vida em um diário e o livro foi inspirado nele, mas
como não havia muita coisa escrita, muito do que se vê nas páginas do livro – e
agora no filme – são histórias criadas pelos autores.
Gerda Wegener,
sua esposa, sempre esteve ao seu lado em suas decisões, e o filme explora
demais esse relacionamento, que é verdadeiro, os dois protagonistas, Eddie
Redmayne e Alicia Vikander, têm uma ótima química e são eles que levam a
história.
O
problema é que o filme é, basicamente, só isso: ele não ousa, sempre fica na
zona de conforto e com uma história tão poderosa como essa, ficou a impressão
de que ninguém na produção quis ir além, de tocar na polêmica da mudança de
sexo para uma época conservadora e fizeram um produto para não chocar a
“família tradicional” e não sair do politicamente correto.
Em
‘A Garota Dinamarquesa’a história é conduzida como de alguém vendo tudo de cima
e o espectador sai do filme da mesma forma que entrou, ou seja, sem se envolver
emocionalmente.
‘A
Garota Dinamarquesa’ é, portanto, um filme que não assume riscos.
Junte
tudo isso à montagem estranha na qual as mudanças de tempo que ocorrem na história
de Lili e Gerda são imperceptíveis a quem só conhece o filme. Não se sabe se o
que passou foi uma hora ou uma ano.
Dá
para fazer um paralelo entre ‘A Garota Dinamarquesa’ e ‘A Teoria de Tudo’,
filme que deu o Oscar à Eddie no ano passado: ambos são filmes que contam uma
história fabulosa, não se arriscam e o protagonista vivido por Eddie Redmayne
teve ao seu lado mulheres que o apoiavam mesmo na adversidade – mas em ambos os
casos uma virtual infidelidade das esposas foi abordada “de leve”.
E
isso explica um erro da Academia: em 2015, Felicity Jones foi indicada a Melhor
Atriz por ‘A Teoria de Tudo’ e a indicação foi muito merecida, mas agora,
Alicia Vikander tem um tempo proporcional de tela e tem praticamente o mesmo
tempo de tela de Eddie, mas está indicada para Atriz Coadjuvante.
Possivelmente
por isso é que Alicia deva levar seu Oscar por este filme, já que a Academia
não a colocou para bater de frente com as favoritas para Melhor Atriz,
Brie Larson e Cate Blanchett e dar o reconhecimento por essa grande atriz e que
também poderia estar aqui por Ex-Machina.
E se
vier, o prêmio estará em boas mãos: sua Gerda poderia ser só uma sombra para a
história do marido, mas não é o caso: é ela quem toma a maioria das decisões e
seu semblante ao longo do filme é de tristeza por perder seu marido, mas também
de uma pessoa que ama o ser humano ao seu lado, independentemente do gênero. E
tudo isso é muito mérito da atriz, que deu vida a um personagem que, em tese,
teria um nível de exigência menor para a história.
Já
Eddie Redmayne faz também um excelente trabalho e conforme seu personagem vai
evoluindo na história, mais ele se entrega ao papel. Ele está muito melhor como
Lili do que como Einar, muito mais à vontade e não deixou que seu papel ficasse
caricato, como havia esse risco.
Ele
também está indicado a Melhor Ator, mas deve sair de mãos vazias perante ao
poderoso Leonardo Di Caprio, por O Regresso. E este ano ainda veremos Eddie Redmayne em ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’,
derivado de Harry Potter que chega em novembro.
Longe
de ser um filme ruim, ‘A Garota Dinamarquesa’ erra por ser um filme linear e
acadêmico. E dificilmente será lembrado daqui a alguns anos.
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