De pernas pro ar 2
Direção: Roberto Santucci
Ano de produção: 2012
Com: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia,
Maria Paula, Eriberto Leão, Cristiane Fernandes, Tatá Werneck, Cristina Pereira.
Gênero: Comédia
Classificação Etária: 14 Anos
De pernas pro ar 2 confirma as comédias bobocas atuais.
Em 2010, quando ainda não havia ainda essa onda forte das
comédias nacionais dominando os cinemas, estreou um filme, exatamente no
finalzinho do ano, próximo do natal, que de início, ninguém deu bola. Foi “De
pernas pro ar”, que chegou de forma discreta e levou mais de 2 milhões de
espectadores aos cinemas brasileiros. O ano foi muito próspero em muitos
aspectos, e o cinema foi um deles. Com muitos blockbusters bem-sucedidos, como
“A Origem”, “Homem de Ferro 2” e “Toy Story 3”, o cinema nacional também teve
seu merecido espaço, com o colosso que foi “Tropa de Elite 2”, que se tornou o
filme nacional mais visto da história levando mais de 10 milhões de
espectadores, se tornando um sucesso também de crítica (sinceramente, não
conheço ninguém que não tenha gostado de “Tropa de Elite 2”) e extremamente
corajoso, criticando governo e mídia. Também tivemos o “fenômeno espírita” com
o irregular “Chico Xavier” e o formidável “Nosso Lar”. Todos muito
bem-sucedidos, mas sem imaginar que o investimento seria quase total para as
comédias.
Quase todas as comédias conseguiram um sucesso
estrondoso, vide “Cilada.com” e “Minha mãe é uma peça”. E claro, com o grande
sucesso de “De pernas pro ar”, a indústria olhou para o material que tinha e
resolveu que tinha que ter uma continuação.
Por pura ironia, a continuação, “De pernas pro ar 2”
estreou também no final do ano, no caso de 2012. O diretor é o mesmo. Os
roteiristas são os mesmos, os atores são os mesmos. E o resultado é um lixo.
No primeiro filme tínhamos uma mulher, Alice (Ingrid
Guimarães) em busca de prazer e conseguiu com uma sociedade com uma amiga, dona
de uma sexshop. Nesse segundo filme, temos uma mulher já realizada que precisa
conciliar vida pessoal com a correria da vida profissional. O intuito era fazer
uma crônica da mulher moderna, mostrando como a vida atual corrida pode trazer
efeitos desastrosos na vida pessoal e familiar de uma pessoa. Ou mulher, no
caso.
O tema é universal, mas o foco é o universo feminino. Ou
deveria ser. No caso de “De pernas pro ar 2”, nem dá para falar que a intenção
era boa. A ideia do primeiro filme já era um desastre total. É vulgar, sem
graça, sem roteiro e sem elenco. Nesse segundo filme, como se não bastasse,
ainda é machista. Sim, respeito quem gostou e se divertiu, mas o filme tem
mensagens subliminares machistas travestidas de feministas, como quando o
médico diz para a protagonista, Alice, que mulher nenhuma aguenta a pressão que
ela enfrenta. Ou quando a própria protagonista conhece sua antagonista,
Vitória, vivida por Cristiane Fernandes, em que ela imagina ser uma “senhora
velha e acabada” por trabalhar fora, ter 5 filhos e não ter empregada. Pura
balela. A mulher atual está a um passo maior que a maioria dos homens. É mãe,
esposa, estudante lê, e ainda tem vida social. Infelizmente, ainda estamos
longe de quebrar muitos tabus já impostos.
Na história, se é que podemos chamar isso de história, se
passa logo após os acontecimentos do primeiro filme. Depois de Alice e Marcela
(Maria Paula) serem, agora, empresárias de sexshop muito bem sucedidas, agora
expandem seus negócios para Nova York, justamente quando a protagonista está
cansada demais de tanto trabalhar e não se dedicar ao marido e filhos. Depois
de um piripaque em um lançamento de uma loja, ela é forçada a se internar em um
SPA, liderado por uma mulher linha dura (e caricata), sem contato com o mundo
exterior e que se torna um fardo para Alice. Depois de passar por situações
bizarras dentro do local, (tem um “clone” o jogador Vagner Love que chega a ser
constrangedor), é chegado o momento de sair do SPA. Como Alice ainda não está
“pronta” psicologicamente para trabalhar, é recomendado a ela tirar umas
férias. E onde mais? Em Nova York. Mas com a inauguração de uma nova loja, ela
não consegue se distanciar do trabalho, sem que seu marido e filho saibam.
Como se não bastasse o tom machista, vulgar e sem graça,
o filme ainda parece novela. Sim. Claro que se tratando de uma produção da
Globo Filmes, era inevitável que eles não iam se distanciar de sua “galinha dos
ovos de ouro”. Mas o caminho é idêntico aos folhetins globais, com a mocinha
indecisa, a “vilã” boazuda, mas no fim, todo mundo se perdoa e vivem felizes
para sempre. É triste ver que a indústria brasileira de cinema se dedica a
produtos tão sem relevância e ainda com a mesma linguagem que se vê na TV. E
com o sucesso estrondoso que essas comédias estão fazendo, o caminho para o
cinema nacional, infelizmente, será esse mesmo. É muito difícil fazer um filme
aqui no Brasil. Muita burocracia, muito dinheiro e impostos que o Governo
Federal arrecada de um diretor iniciante e como ninguém quer se arriscar, os
estúdios acham que “em time que está ganhando não se mexe”, e por isso, dizem
“vamos fazer comédias pastelonas e bobocas”, e ainda com o argumento de
divertir o povo brasileiro sofrido.
Em “De pernas pro ar 2”, nada salva, o elenco é fraco
(Ingrid Guimarães e Maria Paula são sem graça e péssimas atrizes), as locações,
que deveriam ser uma atração, não combinam com o contexto (Woody Allen sabia
muito bem usar o cenário de Nova York), e até a trilha sonora é fraca. E como
estamos no Brasil, tinha que ter um funk carioca no meio. E ainda tem as piadas
chulas de orgasmos de um replay das piadas e simulações com vibradores.
Totalmente constrangedor e sem rumo.
Isso aqui é como uma bolsa que sobrou de coleções
passadas: só serve para ficar no fundo do armário.
Nota:
0,5
Imagens:
Trailer: