Ted (Ted)
Direção: Seth MacFarlane
Ano de produção: 2012
Com:
Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Patrick Stewart, Giovanni Ribisi .
Gênero: Comédia
Classificação Etária: 16 Anos
“Ted”, que ironia, erra por ser correto.
Quando a comédia TED estreou nos cinemas brasileiros em
Setembro de 2012, houve muito burburinho e comentários sobre o ursinho
diferente representado nas telonas. O filme foi um sucesso absoluto, tanto aqui
como no resto do mundo. Na verdade, foi a comédia de classificação restrita
mais vista da história, ultrapassando, inclusive o fenômeno “Se Beber, Não Case”.
O filme, claro, gerou muita polêmica. No Brasil, um caso de repercussão
nacional foi quando o deputado Protógnes Queiróz, do PCdoB de São Paulo levou o
filho de 11 anos e exigiu a proibição do filme no Brasil. Depois ele voltou
atrás e solicitou apenas que o filme fosse reclassificado para 18 Anos, ao
invés de 16. Ele alegava que o filme mostrava uma visão negativa de um símbolo
infantil e visão positiva para o consumo de drogas. Felizmente, ele não conseguiu
nem reclassificar, nem proibir o filme. Deixo registrada aqui a imbelicidade
desse deputado porque tanto o trailer quanto alguns portais da internet
deixavam claro que não se trata de um filme para crianças. Na época, alguns
sites de cinema destacaram alguns excessos de palavrões e consumo de drogas.
Todas essas discussões na internet e fundamentalmente nas
redes sociais eram tudo o que o diretor e roteirista Seth MacFarlane queria. Mesmo
ele sendo genial e sem pudor nas suas
paródias, ele deixa claro que o intuito é provocar brincar com tudo e todos.
Mas por aqui todas essas polêmicas e discussões foram um
pouco exageradas e fugiram do foco do propósito do filme. TED não faz, em
momento algum, juízo de valores, nem qualquer tipo de apologia. Muito menos
trata o urso como um “deus”. Muito pelo contrário, o animal é atrapalhado e em
alguns casos só se dá mal. Infelizmente, algumas pessoas não estão preparadas
para algo mais, digamos, ousado.
TED é o filme de estreia de Seth MacFarlane, responsável
para animação mais adulta, ousada e cultuada da última década: “Uma Família da
Pesada”, ou simplesmente, “Family Guy”. Farlane, que também é responsável pelo
desenho “American Dad”, injetou muita grana, tecnologia de ponta (chega até a
ser uma superprodução de considerarmos que é uma comédia.), principalmente pelo
sistema de captura de movimentos, eternizada pela Weta, do Peter Jackson,
responsável por grandes personagens digitais, como o Gollum de “Senhor dos
Anéis” e o primata Caesar de “Planeta dos Macacos – A Origem”. Farlane também
recrutou sua amiga de muitos anos, Mila Kunis (de “Cisne Negro”), que, aliás,
dubla a personagem da Meg Griffin do “Family Guy” na versão norte-americana.
Outra característica importante e quase imperceptível entre
seus desenhos e o filme TED são as hilariantes quebradas na história quando se
cita alguma referência dos personagens. Explico melhor: na sequência que os
personagens da Mila Kunis e o Mark Wahlberg estão discutindo seus 4 anos de
relacionamento e eles relembram o primeiro encontro. E logo é mostrado o
encontro em si. Ou seja, houve uma quebra na história principal para citar
outra.
Mas polêmicas e citações a parte, “TED” faturou mais de
500 milhões de dólares pelo mundo e a continuação, “TED 2” já foi anunciada,
será com o mesmo elenco e irá estrear em 2015.
No roteiro, TED conta a história de John, um garoto de 8
anos, que é solitário, sem amigos e sem perspectiva. No Natal de 1985, ele
recebe de presente um ursinho de pelúcia que logo vira seu melhor amigo e o
garoto adota o nome de Teddy, que logo viraria Ted. John faz um pedido para Ted
falar e ficar vivo e o pedido é realizado. O urso fala normal e logo vira uma
atração à parte. Diferente de outras obras de seres, digamos, estranhos em
residências, principalmente de crianças, o garoto não esconde urso do mundo
externo, pelo contrário, o urso vira uma celebridade, e aparece em todas as
revistas, jornais e programas de TV e é querido de muita gente. Mas, como o
mundo da fama é injusto, o sucesso acaba e o ursinho passa décadas esquecido. O
urso cresce. O garoto também. Depois somos transportados para o ano de 2012 e John
é um homem de 35 anos, agora já um profissional (trabalha em uma locadora de
carros) e com uma linda namorada, a doce Lori, (vivida pela irresistível Mila
Kunis). Mas John não quer se desfazer do urso, afinal, ele foi seu melhor amigo
quando ele não tinha amigos. Mas o ursinho, TED, já não é mais aquela fofura. Agora
ele também já é um adulto, fala palavrão, fuma maconha, só pensa em sexo,
apesar de ele não ter, digamos, o instrumento necessário para tal ato. Mas John
ainda ama seu urso. E também ama Lori. Ele até tenta equilibrar a vida com os
dois, mas Lori lhe dá um ultimato, to tipo “ou ele ou eu”.
Farlane é um nerd assumido. Adora filmes, games, séries
de TV e a cultura pop em geral. Unindo a história do ursinho mais esse gosto do
diretor pelo mundo “nérdico” é um prato cheio para referências, que, aliás, é o
que não falta ao filme. Desde Star Wars, Senhor dos Anéis a até Brinquedo
Assassino. A principal referência fica por conta da série Flash Gordon, com
muitas homenagens, inclusive do protagonista da série de TV. Há algumas
participações especiais, como Taylor Lautner, a cantora Norah Jones (que também
faz um show durante o filme, e sua canção foi indicada ao Oscar de 2013 de
Melhor Canção, perdeu para Skyfall da Adele), Brandon Routh (de Superman – O Retorno,
que aliás, tem uma piada inusitada sobre o filme de 2006), entre outras. Esse conjunto
de fatores torna “TED”, uma comédia especial.
Mas, TED tem problemas. E gravíssimos. Primeiro, toda a
sagacidade da primeira hora de filme (o filme tem 2 horas) é quebrada por uma
trama, quem diria, sentimental, certinha, melosa e com todo e qualquer clichê
hollywoodiano. Outro problema, que também tem a ver com esse: a figura dos
sequestradores do ursinho. Cara bom versus cara mau e o inocente e indefeso
ursinho está em perigo. Outro problema também é que o desfecho, principalmente
a meia hora final se leva a sério demais. Tudo o que foi construído no início
do filme é quebrado para satisfazer aos padrões americanos de fazer filme e,
talvez aos mais conservadores, que se irritaram com o filme durante a primeira
hora.
É uma pena, que até mesmo um cara legal e genial como
Farlane é forçado a alguns caprichos e ordens da indústria poderosa de
Hollywood. Bastou ver a sua transmissão correta do Oscar e seu desfecho infeliz
e certinho em TED.
Realmente, estamos carentes de um filme de autor nos dias
de hoje.
Nota:
8,0
Imagens:
Trailer:
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